segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O chocolate e a Igreja

Antonio de Pereda

Durante o século XVII um dos temas muito debatidos pela Igreja foi se o chocolate como bebida interrompia ou não o jejum.
A discussão foi sobretudo fervorosa em Espanha, cuja corte foi a primeira a adoptar a bebida desde os finais do século XVI. A grande questão era saber se o chocolate era uma bebida ou um alimento.
Os padres que se encontravam nas colónias espanholas, em especial os jesuítas, baseavam-se nas teoria de S. Tomas de Aquino em que apenas os alimentos sólidos podiam interromper o jejum. Um deles, o padre Petrus Martyre de Angleria, enviou, logo em 1523, ao papa Clemente VII, um relatório elogioso ao chocolate considerando-o uma bebida «feliz e sã». Realçava também o facto de os grãos do cacau servirem de moeda de troca não permitindo a avareza, porque não duravam muito tempo.
Mais tarde o Papa Pio V adoptou também essa teoria. Saliente-se que devia ser parte interessada, uma vez que foi este papa quem teve à frente das sua cozinha privativa Bartolomeo Scappi, autor de “Opera...”, célebre livro de culinária, publicado em 1570.

Também o cardeal Brancacio, de Roma, considerou que a sua ingestão não interrompia o jejum, tal com afirmou Dufour no «Traitez nouveaux et curieux du café, du thé et du Chocolate», publicado em Lion, em 1685.
Luis Melendez

Mas em Espanha, ao longo do século XVII, a questão foi largamente debatida.
Embora de um modo geral fosse aceite que o chocolate como uma bebida, a única forma então divulgada de o consumir, não interrompia o jejum, as opiniões não eram unânimes.
Antonio de Leon no livro «Question moral si el chocolat quebranda el ayuno eclesiatico», publicado em Madrid, em 1636, relator do Real Conselho das Índias, depois de descrever várias opiniões emitidas pelo representantes do Santo Oficio da Inquisição e do geral dos Descalços da Ordem de São Francisco, opunha-se à sua ingestão, por o considerar demasiado nutritivo.

Leonardo da Vinci "A Anunciação"

Ainda no início do século XVIII, o padre Labat na «Nouveau Voyage aux Isles Françoises d’ Amerique» defendia a mesma teoria , censurando os padres que nas ilhas permitiam o consumo dessa bebida aos seus fiéis, em período de jejum, desde que a ela não fossem adicionados ovos ou leite.
Mas era tarde, a bebida já se havia disseminado, inclusivamente pelos conventos e mosteiros espanhóis,onde à semelhança da corte, era muito apreciada.

A próxima discussão seria a dos seus efeitos médicos. Sobre isso falaremos noutra ocasião.

5 comentários:

A.Teixeira disse...

Foi coincidência esta história do desjejum? Também se for, a culpa é minha que me pus a escrever sobre assuntos que são cativos aqui do Garfadas, como etiqueta na corte do Rei-Sol e as agruras teológicas que incomodavam Monsieur, o Duque de Orleães.

Ana Maria Job disse...

Oi Ana.Parabéns pelo blogger!Estou querendo fazer um também.Alimentos e cozinhar são duas coisas ligadas à minha alma.Amei o teu trabalho sobre à Julia child.Sou apaixonada por ela.Abraço.

Ana Marques Pereira disse...

A. Teixeira
Já deixei a resposta no teu blog. Foi realmente uma coincidência.

Ana Marques Pereira disse...

Ana
Obrigada pelos parabéns. Desejo sucesso para o seu blog. Dê notícias quando começar.

Ana Maria Job disse...

Obrigada pela resposta por e-mail.Não sei se é automática.Foi também a de A.teixeira.Não somos a mesma pessoa tá?Me desculpa a ignorância.Comecei a ver os blogger ontem.Mas estou muito interesada.Vou virar "blogueira"acho.Abraço.