sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Os dois Babinski

 
 O nome Babinski é familiar a todos os médicos, em especial aos neurologistas. O «sinal de Babinski» aprende-se nos primeiros anos da profissão e permite identificar determinado tipo de lesões neurológicas e, no século XIX, foi também usado para a análise de quadros de histeria. Esta semiologia foi valorizada pelo médico Joseph Babinski (1857-1932), célebre neurologista de origem polaca que trabalhou em hospitais parisienses. 
Foto da Wellcome Library
Este nome podia portanto constar apenas da história médica, mas o seu irmão mais velho, Henri Babinski (1855-1931) iria divulgá-lo noutros campos. Sendo engenheiro de minas exerceu a sua actividade em vários países como Itália, Guiana Francesa, Patagónia, Estados Unidos, Brasil, Sibéria, etc. Apesar de todas estas missões os dois irmãos, que tiveram sempre uma grande ligação, viveram juntos numa habitação em Paris, no Boulevard Haussman, que partilhavam nos intervalos destas actividades e, mais calmamente, após a sua reforma. Partilhavam inclusivamente os mesmos amigos, muitos deles médicos, como foi o caso de Egas Moniz.
A frugalidade alimentar na sua actividade profissional levou-o a interessar-se por gastronomia e em 1907 publicou a obra «Gastronomie Pratique. Ètudes Culinaires» sob o pseudónimo Ali-Bab, numa alusão a Ali-Baba, o herói das «Mil e Uma Noites». Em 1923 o autor aumentou a obra para cerca de 1000 páginas, transformando-se num volumoso livro que continuou a ser comercializado até aos dias de hoje, uma vez que se tornou num clássico. 

O meu primeiro Ali-Bab encomendei-o na Bertrand em 1975 e era já a 9ª edição, idêntica à de 1923 como todas as que se lhe seguiram. Foi nessa época que comecei a interessar-me por culinária clássica, mas sobretudo por gastronomia. É que o livro não é apenas um livro de receitas, embora estas constituam grande parte do livro. São receitas muito precisas a que eu recorria, tal como aos livros de Escoffier, quando tinha dúvidas. Percebia que estava ali toda a cozinha clássica francesa, uma espécie de bíblia. 
Mas o livro começava com um “Esboço gastronómico” onde fazia relato da evolução histórica da alimentação e do estado actual (à época) da gastronomia. E, ainda antes de entrar nas receitas, dedicava-se aos vários serviços de refeições até ao final do século XIX. 
O livro termina com um texto sobre «Tratamento da obesidade dos gourmands» que, numa época em que não havia ainda as preocupações de hoje, era verdadeiramente inovador. O tema, na realidade, traduzia um problema pessoal. O seu gosto pela comida fizera-o aumentar excessivamente de peso e foi nesse sentido que procurou receitas que o fizessem emagrecer. 
Nesta foto mais tardia de Henri Babinski é já visível a obesidade
Alguns anos mais tarde consegui arranjar uma 4ª edição, de 1925, com encadernação da época que me encheu de prazer. Hoje repousam as duas na estante, lado a lado, como dois irmãos. 

4 comentários:

Luís Queirós disse...

Vim aqui garfar e gostei da petisqueira. É sempre bom aprender a história das coisas simples (ou talvez não!) que fazem o nosso dia a dia ou fizeram o dos nossos avós. Hei-de voltar. É uma boa dieta contra a obesidade provocada pelos pratos "gordurosos" da política e da atualidade que nos serve a comunicação social.

Ana Marques Pereira disse...

LQ,
Bem vindo.Volte mais vezes para novas degustações leves, dietéticas e diversificadas.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Muito interessante e muito bem apanhada a comparação entre "Babinskis". Ousava apenas reparar que o sinal de Babinski não tem nada de semiótico e a referência à semiologia é totalmente desajustada. Não é desses "sinais" que a semiologia trata. Coloco entre aspas porque, para a semiologia, esse não é um signo.

Ana Marques Pereira disse...

Anónimo,
Pelas sua considerações presumo que não é médico. Falo de semiologia médica (estudo dos sinais e sintomas) em que o sinal de Babinski é importante no diagnóstico da lesão neurológica e nesse sentido está correcto. Presumo que seja linguista e daí a sua interpretação.
Não sendo linguista eu própria tenho dificuldade em compreender o seu raciocínio.Agradeço o seu comentário. Cumprimentos