segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O menino de pão de ló

Os livros com partes móveis existem há centenas de anos. Um dos primeiros exemplos surgiu no século XIII tendo sido concebido por Ramon Llull, de Maiorca (1232-1316), que escreveu livros de alquimia e botânica. Foi o criador de um disco designado volvelle ou círculo Lulliano, que consistia em dois ou mais círculos de papel com com letras ou símbolos que rodavam e que tantas aplicações teve no futuro (ainda me lembro de usar em Obstetrícia uns discos para calcular a data de nascimento das crianças baseados nesta técnica).
No século XVIII Robert Sayes produziu livros de «metamorfoses», em 1765, também chamados «turn-up» ou «harlequinades» que eram compostos por folhas impressas e dobradas. Quando desdobradas noutras posições apareciam outras imagens que contavam uma diferente história.
Entre 1810 e 1816 uma empresa inglesa dedicada a produtos infantis, a firma S. & J. Fuller, produziu um série de livros que tinham bonecas de papel com cabeças móveis e fatos variados para as vestir. Não tinham histórias e eram considerados brinquedos. Os livros móveis para crianças surgiram apenas em 1860 e foram publicados por Dean and Son.
Em 1890 Ernest Nipers concebeu uns livros em que as figuras eram recortadas e surgiam automaticamente quando se abria o livro. Vários exemplos se seguiram até chegarmos ao trabalho de Julian Wehr que publicou o primeiro livro móvel designado «As excitantes aventuras de Finnie e Fiddler». 
Wehr registou a patente do seu dispositivo, muito simples, que consiste numa única paleta, na parte inferior do livro, que mexia para a frente e para trás e que fazia mexer mais do que um mecanismo e fez com esta técnica mais de trinta livros. Estava-se na época que antecedeu os livros pop up, que desabrochou nos anos 60 e de que já falámos anteriormente.
Este livro aqui apresentado foi publicado nos Estados Unidos em 1943 com o título «The Gingerbread Boy», o que revelava as origens alemãs do escritor norte-americano. Traduzido para português como «O menino de Pão de Ló» o que fazia todo o sentido numa época em que os portugueses não sabiam sequer o que era o gengibre e as bolachas de gengibre, de influência inglesa, era pouco conhecidas (exceptua-se a sua produção na Madeira pela Fábrica de Santo António, como produto localizado) .
A história, os desenhos e a animação saíram todos da mesma pena. A narrativa é um bocado sinistra, mas com a insensibilidade que caracteriza as crianças, deve fazer sentido. Conta a história de um casal idoso muito feliz em tudo excepto no facto de não terem um filho. Um dia a velhinha resolve fazer um bolo com o feitio de um menino para viver com eles. No forno o menino de bolo toma vida e sai a correr recusando-se a viver com o casal. Seguem-se as desventuras que resultam do encontro do menino bolo com uns lavradores, com uma vaca, um porco e uma gata selvagem, todos procurando-o comer. Desanimado o menino volta a casa do casal. Muito contente a velhinha abraçou-o «mas, de repente,... zás. O menino de pão de ló partiu-se em dois pedaços iguais». O que mostrava que os meninos de pão de ló serviam para serem comidos e «o velhinho e a velhinha acabaram por comer inteirinho este menino de pão de ló».
Acaba assim a história de um forma que nos deixa de olhos abertos, sobretudo quando estamos à espera de um final feliz. Para além das ilustrações no meio do texto o livro tem 5 folhas com mecanismos móveis por meio de um paleta, como era hábito do autor, e que delicia as crianças e alguns adultos, como é o meu caso.

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