Seleccionei este folheto,
distribuído em 1960, pelo seu belo aspecto gráfico. Foi feito na empresa de
publicidade Ciesa, que pertencia à Sociedade Nacional de Sabões, de cujo grupo
fazia também parte a Fábrica Nacional de Margarinas. Não tem qualquer assinatura
e foi impresso na Lito Maia.
Na capa um atraente prato de
lombo de carne assada, ladeado por vários legumes aprumados, confirmava o
título.
Lá dentro uma dona de casa de
olhos orientais e sorriso enigmático apresentava-nos a Margarina Chefe: «Nova
Inteiramente Nova».
A segunda folha, com um
desdobrável recortado ampliava a cena de frutos tropicais (Coco, amendoim e
palma) de grande beleza onde era realçada a presença na margarina de vitaminas,
calorias e proteínas.
Para terminar na contracapa apresentavam-se 3 receitas de
pratos feitos com margarina.
Os meus comentários ficariam por
aqui, salientando as características da publicidade alimentar da época, se não
fosse um pormenor original.
Na face posterior da extensão recortada era
inserida uma informação científica. Referiam-se os estudos dos Dr. Bun e Barnes
(1) que haviam estabelecido uma relação entre a alimentação a a
arterioesclerose e em especial o papel desempenhado pelas gorduras no seu
desenvolvimento.
Mencionavam-se as provas de que a
gordura de origem animal (uma referência subtil à banha usada em Portugal)
levavam ao desenvolvimento da arteriosclerose , enquanto as de origem vegetal
tinham acção preventiva.
Confesso que perdi bastante tempo
à procura destes estudos (inclusive na Pubmed), mas não os consegui encontrar. Mas encontrei outros idênticos. Pensava-se
então que bastava reduzir as gorduras para diminuir a doença cardíaca, mas o
tempo veio mostrar que o importante era consumir dietas saudáveis com gorduras
“boas” e não era a quantidade que contava.
Os estudos americanos mostraram
que na década de 1960 cerca de 45% das calorias alimentares provinham das
gorduras e existiam cerca de 13% de obesos adultos(2). Presentemente o consumo de calorias baixou para 33%
e existem 34% de adultos obesos(3).
Não vou falar nas gorduras boas
(não saturadas) e más (saturadas) mas nas péssimas como as trans.
Estas são obtidas por aquecimento dos óleos vegetais em presença do hidrogénio,
num processo chamado hidrogenização, que pode ser parcial ou total. Este
processo do ponto de vista comercial tem a vantagem de tornar os óleos vegetais
mais estáveis e mais facilmente transportáveis porque passam ao estado sólido.
Esta descoberta foi recebida de
braços abertos pela indústria alimentar, em especial pelas cadeias de fast
food, mas também pelos produtores de margarina. As margarinas sólidas, mesmo
feitas com óleos vegetais não saturados, são menos saudáveis do que a manteiga,
porque contêm ácidos gordos trans. Nos anos 60 não se sabia isso, mas hoje há
que estar atento aos rótulos de composição dos alimentos e, se lerem que têm gorduras
trans, não comprem.
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(1)
Poderá ser o Dr. Robert W. Barnes, que foi médico chefe do serviço de Cirurgia
Vascular entre 1978-1981 no VA Medical Center, Richmond ?.
(2) USDA Center
for Nutrition Policy and Promotion.Nutrition Insights: Insight 5: Is Total Fat Consumption
Really Decreasing? 1998.
(3) Flegal K, Carroll M,
Kuczmarski R, Johnson C. Overweight and obesity in the United States:
prevalence and trends, 1960-1994, Int J Obes Relat Metab Disord. 1998;22:39-47.
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