sábado, 9 de julho de 2011

Weihenstephan. A fábrica de cerveja mais antiga do mundo.

Tive esta semana uma reunião em Munique. Na verdade nunca lá cheguei. Fiquei instalada num hotel de congressos a meio caminho entre o aeroporto e a cidade, que não visitei.
Sempre que vou ao estrangeiro procuro descobrir algum alimento ou característica alimentar local que seja interessante para incluir no contexto do meu blog. Desta vez pensei que não ia conseguir.
Mais eis que me transportam para um jantar numa cervejaria. Antes do jantar oferecem-nos uma visita guiada à fábrica de cervejas contígua. Fico entusiasmada quando ouço que se trata da mais antiga fábrica de cervejas do mundo em laboração.
No exterior, numa das fachadas dos enorme complexo, deparo-me com a data de 1040. Esta é a data de que há confirmação escrita do início da fabricação de cerveja. Contudo, existiu anteriormente no local uma abadia beneditina: a abadia de Weihenstephan. Fundada cerca de 725, esteve na origem da produção de cerveja e viria a dar origem a uma das fábricas de cerveja mais conhecidas na Alemanha: a Weihenstephan.
A abadia de Weihenstephan
Um aspecto que sempre me interessou em relação à cerveja foi a diferença da sua constituição inicial.
Esta bebida antiga, que se sabe ter existido desde o século VI A.C., era diferente. Deparei-me há alguns anos atrás com essa discussão no livro de Leo Moulin, Les Liturgies de la Table. A diferença é difícil de explicar, para nós portugueses, que só temos uma única palavra «cerveja». Por isso usarei as palavras francesas e inglesas para distinguir a bebida “cerveja”, tal como a conhecemos hoje, da forma anterior, a «cervoise» ou «ale», em que não era acrescentado o lúpulo.
A flor do lúpulo
No século XV o lúpulo (hop) ainda era mal conhecido e num texto de 1444 fazia-se referências à «cervisia lupulina». No livro «Histoire des Plantes», de Rembert Dodoens, publicado em Antuerpia em 1557, surge a imagem e descrição das características do lúpulo (Lupus salictarius).
No entanto o lúpulo já era conhecido desde o fim do século VIII, o que levou Leo Moulin a fixar a data do início da fabricação da cerveja no final do século VIII ou início do século XIX.
Na minha investigação para a Mesa Real encontrei referência ao preço de venda da “cerveja do Reino” no século XVII. Em 1698 o seu consumo tendia de tal modo a aumentar que levou a uma consulta da Câmara a El-Rei. Considerava-se que uma grande ruína ameaçava o vinho «se continuar, como se vai introduzindo, a fabrica e venda de cerveja». Existiam nessa altura seis tabernas de cerveja no Poço de Fotea (actual Rua de S. Julião) e no sítio dos Remolares (actual cais do Sodré).


Voltemos à visita às instalações da Weihenstephan com a zona inicial da adição da água, arrefecimento e formação do mosto, seguida da fermentação e a cozimento da cerveja e da adição do lúpulo e que precedeu uma prova de cervejas.
Foto das antigas cubas em cobre agora substituídas por outras em aço
Foram apresentadas algumas das variedades produzidas e e iniciou-se a prova, à semelhança de uma prova de vinhos, observação da cor, cheiro da cerveja e só depois a prova propriamente dita.


Não estou habituada a este tipo de cerveja, de gosto distinto e excessivamente gasosa para os nossos padrões. Mentalmente comparo-a com a cerveja portuguesa e fico satisfeita por a nossa ganhar. Gostos adquiridos, evidentemente discutíveis.
Informam-me que a produção é enorme e a exportação importante para a Ásia, Japão, USA, etc., países com poder económico que podem adquirir uma cerveja de preço mais elevado. Fico satisfeita por eles, e pela pujança económica que a Alemanha transmite, mas também por mim, tal como nas histórias para crianças com final feliz.

6 comentários:

Anónimo disse...

Em tempo de Verão este artigo bem documentado apela a uma cerveja fresca,tão portuguesa.
Cumprimentos.
José

Sofia Loureiro dos Santos disse...

Excelente, como sempre. E bem a propósito de uma cerveja fresca, como disse o José.

Joaquim Malvar Azevedo disse...

,"tal como nas histórias para crianças com final feliz".

Conheci-a com a compra de uma obra sua: " Cozinhas, Espaço e Arquitectura" para a oferecer à minha esposa amante de Cozinha, Cozinhas e eu de Arquitectura.
Gostou muito, porque o relê amiudamente e para mim foi óptimo abraços com obras num abandonado solar do séc.XVII(já há cinco anos).
Porque próximo da reforma tenho tido mais tempo para a pesquisa e necessariamente na internet.
Foi uma agradável surpresa ter descoberto o seu blog.
Mais feliz fiquei com a qualidade deste, e deste post, do qual subscrevo:"
Fico satisfeita por eles, e pela pujança económica que a Alemanha transmite" a que acrescentarei, como desafio para um povo, em que há mais de 2.000 anos, os iberos já a produziam.
Mas também, porque também é transmontana, Montalegre e o referido solar fica bem perto, em Vilartão, Castelo de Monforte de Rio livre.
Tal como nas histórias para crianças com um final que não se sabe para quando mas que me está a deixar feliz.
P.S. Felizmente que apesar de tudo conseguiu "alimento" para o seu post em Weihenstephan.
Se pretender visitar o meu humilde blog recentemente criado: "solarvilartao.blogspot.com" vilartao é um prazer.

Cumprimentos
Jmalvar

Ana Marques Pereira disse...

José,
Fico sempre contente quando vejo um coméntário seu, porque é sinal de que está bem.
Bebamos uma cerveja á sua saúde.
Cumprimentos

Ana Marques Pereira disse...

Sofia,
Falamos tão pouco. Ainda bem que temos os blogues para nos cruzarmos´. Um BJ

Ana Marques Pereira disse...

Joaquim Malvar Azevedo,
Os meus parabéns pela recuperação que levou a cabo no solar e pela sua defesa do património.
O meu obrigado pelas sua palavras.
O livro das "Cozinhas" ficou incompleto mas espero um dia destes completá-lo com o que recolhi sobre cozinhas populares e conventuais que escrevi na mesma altura. Então tudo fará mais sentido.
Cumprimentos