Numa pequena travessa junto à Casa do Paço, na Figueira da Foz, deparo-me com um vendedor de cestos. Recolhido, aproveitando a sombra do edifício, expõe os seus produtos no chão.
Olho e reconheço modelos antigos. Meto conversa com ele para recolher informações. É o sr. António Silva Leopoldo, nascido há 88 anos na aldeia de Mata Mourisca, no concelho de Pombal.
É bem conhecido pelas pessoas da Figueira, como venho a confirmar depois com um transeunte. Não admira, já desde os 14 anos que sai da sua aldeia para ir vender cestos à Figueira. Conta-me que nessa altura vinha com a irmã mais velha, a pé, descalço, acompanhado por um burrico que trazia os cestos. Aponta para o sítio onde amarrava o burro junto ao cais agora transformado em passeio. Depois mais tarde arranjou uma bicicleta. Agora vem de comboio. É um homem rijo e diz que as pessoas lhe dizem que é são por ter andado tanto a pé.
No chão encontra-se uma variedade de artigos de cestaria feitos de dois materiais: capachos, cestos, bases de tachos em esparta ou bracejo e cestas, cestos e canastas feitas em castanho.
As peças feitas em bracejo (Brachypodium Phoenicoides para quem quiser saber mais) são primeiro entrançadas e depois manuseadas para lhes dar várias formas e este é um trabalho de mulher. É a sua mulher quem as faz. Olhando bem, os pequenos círculos decorativos que circundam a borda são realmente femininos.
Já a cestaria em castanho é trabalho de homens. É preciso escolher os ramos de castanheiros novos, pô-los de molho em água, cortá-los e entrançá-los para fazer os cestos, que quando têm asas se chamam cestas.
O casal é o último da aldeia e quando morrerem já ninguém mais vai fazer esta cestaria. Um senhor que o conhece diz-me isso mesmo quando passa: «Olhe que quando acabar não há mais».
Prometo-lhe que um dia destes vou visitá-lo à aldeia. Compro-lhe todos os modelos que traz e deixo-o feliz. Mais feliz fico eu por ter encontrado a tempo um dos últimos representantes destas profissões que vão desaparecendo.
4 comentários:
Drª Ana Pereira
Pergunto-me a mim próprio o que fazer para tirar este País do beco em que nos meteram.
Fico sempre mais pensativo quando ouço a nossa elite intelectual(com tanto saber esmagado). Fico por momentos paralisado,depois sei que só com soluções simples se resolve. E volto ao meu dia-a-dia.
Belo exemplo,DrªAna de altruísmo.
Vou segui-lhe o exemplo, vou procurar um caso idêntico e vou "investir".
Resta-me o sonho que estou a repovoar o nosso País autêntico.
Cumprimentos
Jmalvar
Achei interessante,cultural e nobre de sua parte,colocar a vida e o trabalho desse senhor fazedor de cestos.abraço.
Joaquim Malvar Azevedo,
Não me trate por Drª. Este mundo da blogosfera é menos formal que o real. Aqui sou apenas uma curiosa que partilha com os outros a descoberta de coisas da nossa realidade material.
Votos de uma boa busca.
Cumprimentos.
Ana:
que post ternurento!
Adorei conhecer o sr Leopoldo! Fico à espero dos próximo post a descrever os modelos e suas utilidades!
Bj algarvios!
schacim
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