terça-feira, 16 de março de 2010

O mês de Janeiro nos «Livros de Horas»

Os livros de horas eram livros com iluminuras destinados a serem usados nas orações, pelos laicos. Eram encomendados por reis, rainhas e nobres e, apesar de serem por vezes personalizados, obedeciam a um esquema geral.
Com o tempo foram-lhe sendo introduzidos alguns elementos profanos como um calendário, tornando-os hoje num objecto de uso para a compreensão do quotidiano na Idade Média.
Nos livros de horas a cada um dos meses corresponde uma actividade.
O mês de Janeiro, sendo frio, não convida ao trabalho no campo, pelo que a sua representação em calendário mostra habitualmente uma refeição de um camponês, ou de um burguês ou, no caso de grandes senhores, um banquete. No Livro de horas de Margarida d'Orléans (c. 1430), existente na Biblioteca Nacional de França, no Departamento de Manuscritos, o que se observa na cartela superior é a imagem de um burguês à mesa. Sobre a toalha branca podem ver-se os alimentos essenciais nas refeições, nesta época e para este estrato social: o pão, o vinho, a carne e o sal.

Num período em que não eram ainda usados talheres para comer, a presença da faca indica-nos que se trata de uma faca de trinchar. Na ausência de um outro elemento humano, o trinchante, nobre que na casa real ou de príncipes exercia a conceituada função de trinchar a carne, podemos concluir estar na presença de um burguês. O mesmo raciocínio se pode aplicar ao facto de beber ao mesmo tempo que come, sem que seja servido pelo copeiro.
Mas a mesa tem uma riqueza que o afasta da mesa do camponês, como nos mostra a iluminura do mês de Janeiro, de um Livro de Horas Francês, do século XV, depositado no Museu Histórico de Moscovo e cuja imagem retirei do blog Iluminura. No mais importante livro de horas, Les trés riches heures do Duque de Berry, o mês de Janeiro mostra-nos um banquete onde o próprio duque é servido pelos oficiais de sua casa. À sua frente pode observar-se o trinchante que lhe escolhe e corta as peças de carne, aliviando assim o seu senhor de uma função que lhe não competia. O meu fascínio por esta obra é enorme. Há uns anos, tive a satisfação de ver o original no Palácio de Chantilly, onde faz parte dos tesouros existentes na sua biblioteca.
O pormenor que apresento é apenas um aperitivo para uma apresentação mais pormenorizada, ou , se não quiserem aguardar, para uma busca mais detalhada.

2 comentários:

Ana Maria Job disse...

Meu Deus!Que informação maravilhosa e rica que nos dá.Obrigada.Como falei já "escrevi no futuro"(estou vendo em ordem decrescente)olharei tudo com muita calma depois.Abraço.

Ana Marques Pereira disse...

Olá Ana Job,
Estranhei a ausência. Um abraço.