
Nos últimos anos temos sido alvo de campanhas a incentivar a reciclagem. Devo dizer que sou uma fervorosa adepta e que separo os meu lixo rigorosamente, de acordo com a tipologia.
É verdade que já tenho pensado que se a reciclagem tivesse começado há 30 anos eu dificilmente teria hoje acesso a objectos de uso comum, como os potes de vidro de iogurte ou as garrafas de refrigerantes. E sempre que há uma campanha de recolha de pequenos electrodomésticos, não consigo deixar de pensar: “Lá vão desaparecer mais alguns exemplares de design interessantes”.

Tudo isto vem a propósito de uns sacos de pano que encontrei no meio dos panos de cozinha que vou juntando. Trata-se de um saco de arroz da Sociedade Industrial de Vila Franca, SARL, de 5 Kg, um saco de arroz de 1 kg da Cooperativa TPA do Vale do Sorraia e um outro de farinha de mandioca “Carioca”. Estão um pouco descorados pela lavagem, o que comprova o seu uso intensivo.
Quando olhei para eles fiquei a pensar que na realidade não fazemos qualquer reciclagem. Limitamo-nos a separar produtos idênticos, que alguém vai depois reciclar. Mas a nova reciclagem implica a destruição do objecto existente para fabricação de novos produtos.
Em Portugal, até aos anos 70, todas as donas de casa faziam reciclagem dos objectos que entravam no domicílio. Ninguém deitava os frascos ou as garrafas fora. Guardavam-nas e utilizavam-nas depois para outro fim. Os papéis, mesmo os de embrulho, eram esticados e guardados para novos embrulhos. E as embalagens dos alimentos tinham sempre um novo destino.

Neste caso, os sacos de pano de produtos alimentares, eram usados para guardar cereais ou leguminosas, ou, no caso dos maiores, para sacos de pão. Tudo era reutilizado. As noções de economia doméstica tinham- se implantado e as dificuldades económicas do país justificavam essas atitudes.
Quando aderimos à sociedade de consumo começámos a deitar as coisas fora. As casas mais pequenas também não facilitavam a acumulação de objectos. Quando se começaram a divulgar os conceitos de separação de lixo os portugueses aderiram bem, pelo menos nas grandes cidades.

Mas olhando para trás, podemos concluir que a verdadeira reciclagem era feita antigamente quando, sem destruir os objectos, lhes eram atribuídos novos destinos. Temos ainda muito que aprender.