segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Histórias de regadores e regadores sem história

Nunca pensei vir a escrever sobre regadores. Contudo quando os meus olhos caíram sobre um exemplar puro dos anos 60, de cor laranja e grande flores amarelas, violetas e roxas, a fazer-me lembrar a insígnia da Mary Quant, não resisti. É verdade que sobre ele não posso contar qualquer história porque desconheço a quem pertenceu. Achei-o lindíssimo e extraordinariamente pouco prático e, o pouco uso que deve teve ter tido, atendendo ao seu excelente grau de conservação, confirma-o.

 Quando o vi lembrei-me de uma história da minha vida de estudante. No meu tempo de Faculdade as noitadas eram raras, ao contrário do que hoje acontece. Talvez por isso os episódios também ficassem mais marcados na memória. Numa noite apareceu-me em casa uma amiga, acompanhada de uns amigos. São pessoas conhecidas mas ignoro aqui os nomes, embora não possa deixar de mencionar a presença do pintor Jorge Martins, que deu azo a esta história. Ficámos na sala a conversar longas horas. A sala de esquina de uma casa pombalina, com várias janelas, permitia a entrada de luz vinda de um grande largo onde se situava. A ele se juntava a luz fraca do interior. 

Num ambiente calmo falámos durante horas, mas não me recordo do tema da conversação. Usavam-se então plantas no interior e quando a luz começou a abrir, constatei que as plantas estavam a precisar de água. Fui buscar um regador e reguei as plantas. Lembro-me de o Jorge Martins ter dito que num ambiente daqueles se justificava um regador com maior beleza. Fiquei estupefacta com a sua sensibilidade estética, sobre um tema que nunca me havia ocorrido.

Passado algum tempo fui à loja do Vergílio Seco, que tinha então um antiquário no Príncipe Real e vi o jarro de louça branca com flores que aqui mostro. Lembrei-me da conversa e pensei: é este o adequado. Comprei-o e durante muito tempo usei-o com o fim de regar as plantas da sala.

Um dia promovi-o a jarro de flores e deixou de ser um objecto utilitário.

Hoje, bem mais prática, como nos ensina a idade, uso um regador de plástico, sem estilo ou história. 

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