domingo, 6 de janeiro de 2019

O toucinho-do-céu das Costinhas

O toucinho-do-céu, tal como as tortas de Guimarães, são doces tradicionais de Guimarães. Originalmente fabricados pelas religiosas do Convento de Santa Clara, após o seu encerramento as receitas viriam a ser herdadas pela Casa Costinhas que continua a produzi-los seguindo as técnicas tradicionais.
Em várias regiões do país encontramos um doce com esta designação. Mencionamos o de Murça, o de Amarante, o algarvio e o alentejano e o do Convento de Odivelas, como sendo os mais conhecidos. As receitas variam um pouco mas fundamentalmente são doces feitos com ovos, miolo de amêndoa pelada, açúcar e apresentam-se com a forma de um queijo redondo achatado. As quantidades variam consoante as receitas, mesmo numa determinada região, podem levar um pouco de farinha e a receita alentejana inclui uma pitada de cravinho-da-Índia em pó e de canela. 
Quanto à receita de Guimarães a quantidade de amêndoa é menor e esta é substituída por abóbora chila, enquanto antigamente era feita com calondro, segundo nos informa Isabel Maria Fernandes no livro Doçaria Tradicional Vimaranense. Também segundo a mesma autora era um doce muito apreciado na Páscoa. Hoje come-se todo o ano mas é sobretudo apreciado no Natal.
Caixa antiga em madeira forrada a papel da Casa Costinhas
Na minha última visita a Guimarães não resisti e comprei uma caixa com o belo do doce. Belo porque é apresentado em caixa de cartão, neste caso octagonal, decorada com papel de lustro recortado e flores no mesmo material e fios dourados. Logo esta decoração nos remete para o universo conventual onde a arte do papel recortado era executada com mestria. Há alguns anos atrás, quando ainda desconhecia este doce, adquiri-o por encantamento pela sua apresentação. Não me arrependi tal como hoje. É um doce compacto menos enjoativo do que os outros toucinhos-do-céu por ter um predomínio de doce de chila, que o torna mais húmido e extremamente agradável. 
As três irmãs Costa. Fotografia da Casa Costinhas.
A Casa Costinhas deve o seu nome a três irmãs com esse apelido: Adelina Ribeiro Costa, Maria José Costa e Maria Costa, que aprenderam a receita no Convento da Clarissas vimaranense. À frente da loja está hoje uma das suas sobrinhas, Maria Elvira Silva Ribeiro e sua filha. Foi com uma das tias que, após o encerramento do convento em 1910, passou para a vida civil que Maria Elvira, conhecida na cidade por Birinha, aprendeu a fazer estes doces. Fiel a esses ensinamentos tem seguido a tradição, onde se inclui o uso dos papéis recortados, que tanto me encantam.
Florinhas de papel recortado da Casa Costinhas
Falei com ela mas infelizmente quando a quis fotografar já havia recolhido à cozinha e, segundo a filha, estava enfarinhada e não mostrou qualquer vontade em regressar. 
Vitrine com cesto com flores de açúcar.
As fotografias que se mostram forma tiradas de uma pequena vitrine no interior da loja.

Sem comentários: