sábado, 2 de setembro de 2017

A obra de Ginette Mathiot

Edição de 1963
Quando estudava na Faculdade vivi durante algum tempo em casa de uma amiga francesa, em Lisboa. Quando ela voltou a França fiquei com a casa e alguns dos seus livros. Não me recordo de nenhum em especial excepto de um pequeno livro de receitas, uma edição de bolso, chamado «La Patisserie pour tous».
Edição de 1971
O livro tem 911 receitas apresentadas por temas e escritas de uma forma muito simples. Dos inúmeros livros de culinária que possuo a grande maioria nunca serviu para fazer uma única receita. Mas a este pequeno livro tenho sido fiel, sei sempre onde está e é o livro que consulto para fazer crepes (a receita nunca falha), scones, massas quebradas, folhadas, etc.
Pasteleiro por Nicolas Larmessin . Séc. XVII
Como todos os livros tem uma autoria, mas nunca me debrucei sobre isso. Para mim era o livro pequeno de capa branca que tinha uma imagem modificada, ao gosto dos tempos modernos, do «Patissier» desenhado por Nicolas de Larmessin no século XVII.
Quando há dias me veio parar às mãos um livro com o mesmo título mas com uma capa diferente, pareceu-me familiar. Quando os comparei vi que a minha edição era de 1963 enquanto esta é de 1971. Pela primeira vez reparei no nome da autora: Ginette Mathiot.
Ginette Mathiot. Foto tirada da internet.
Quando fui pesquisar o seu nome descobri que Ginette Mathiot,(1907-1998) tinha sido uma professora de artes caseiras (arts ménagers) que em Portugal se designou como Economia Doméstica e que chegou a Inspectora Geral do Ensino Doméstico da cidade de Paris.
Para além disso, foi autora de vários livros de cozinha que tiveram uma estrondosa aceitação. O primeiro e mais famosos foi o Je sais cuisiner (1932) adaptado nesta colecção de livros de bolso como La Cuisine pour tous (1955). Este livro foi um sucesso editorial com publicações na ordem dos milhões.
Seguiu-se em 1938 Je sais faire la pâtisserie e em 1948 Je sais faire les conserves. Esta edição de Pastelaria que eu referi foi adaptada da de 1938 e reproduzida várias vezes depois. Mas muitos outros títulos da sua autoria foram publicados, tanto de receitas como de Economia Doméstica e Higiene. Uma grande parte da sua obra foi também traduzida em muitas línguas.
Foto tirada da internet
Perante toda a sua actividade disciplinada e organizada, que abreviei muito, pedi desculpa mentalmente à falecida autora Ginette Mathiot, por nunca sequer ter reparado no seu nome.
Sei que estou desculpada. Porque esta sua obra teve aqui uma seguidora. O início da receita dos crepes ficou na minha cabeça: «Mettre la farine dans une terrine. Faire un puits; y casser les oeufs……….» por tantas vezes o ter lido.
Afinal eu soube reconhecer a qualidade, mas a fraca e simples apresentação do livro não o valorizou. Que contraste com as obras de grande apresentação gráfica que não prestam para nada, que compramos pela sua beleza e nunca nos servem senão para encher as prateleiras. 

2 comentários:

Luis Filipe Gomes disse...

Acho também invulgar que Ginette tenha publicado o seu primeiro livro com 25 anos, o que quererá dizer que o escreveu antes dessa idade. Ou então sou eu que tenho o preconceito de julgar que só se escrevem livros como o dela, em que se afirma saber cozinhar, quando já muito se fez e experimentou, mas creio também que naquele tempo a maturidade era mais temporã.

Ana Marques Pereira disse...

Luís Filipe Gomes,
Acho que a segunda hipótese é a mais plausível. Cumprimentos.