quinta-feira, 6 de abril de 2017

Os figos secos do Algarve

Foto do Museu de Portimão
Numa visita a o Museu de Portimão deparei-me com imagens da seca dos figos algarvios.
Caixas de figos secos algarvios. Museu de Portimão
É verdade que me interessava sobretudo ver a transformação da Fábrica de conservas La Rose, transformada em Museu mas preferi deixar esse assunto para falar sobre ele numa próxima vez. Mostro aqui algumas fotos, infelizmente de fraca qualidade, porque a pressa é inimiga da perfeição.

Esteira de cana. Museu de Portimão
A produção de figos secos, hoje infelizmente muito reduzida, foi uma das principais riquezas do Algarve, referida desde o século XVII. Integrada na agricultura de sequeiro, tal como a amêndoa e a alfarroba, a ela estavam associados vários objectos tradicionais. A colheita do fruto era por varejo e os frutos acondicionados em cestas de vime e cana. 
Os figos eram depois secos sobre esteiras de cana ou funcho em eiras designadas almanxares ou almeixares. Mais modernamente quando a produção reduziu eram também secos nas açoteias das casas algarvias.
No século XIX a exportação de figos secos era ainda importante. Em forma de homenagem a um natural da terra, o 7º Presidente da República Manuel Teixeira Lopes, descobrimos no Museu de Portimão uma outra faceta deste homem multicultural, como produtor e exportador de figos secos. 
Biografia de Manuel Teixeira Lopes. Museu de Portimão.
Na realidade esta actividade recebeu-a de seu pai José Libânio Gomes que em 1845 visitou Ruão para aprender os segredos do comércio de figos secos. Em 1849 começou em Portimão o seu negócio. Da boa qualidade destes atestam os prémios recebidos em Exposições Internacionais como a de Londres de 1851, a de Paris de 1855 e em 1894 fez parte da Comissão da secção Portuguesa à Exposição Universal de Anvers[1]
Variedades de figos secos. Museu de Portimão
Entretanto formou com outros sócios locais, em 1891, uma sociedade intitulada "Sindicato de Exportadores de Figos do Algarve", que durou três anos.
Banquete de homenagem a Teixeira Lopes em Londres aquando da sua nomeação para Presidente da República. Museu de Portimão
Foi na qualidade de negociante de frutos secos que Manuel Teixeira Lopes viajou pela Europa, mas também pela Ásia Menor e pela África do Norte. É provável que este conhecimento tenha estado na origem da sua decisão de abandonar a Presidência da República e exilar-se em 1931, em Bougie, na Argélia, onde viveu os seus últimos dez anos.


[1] http://arepublicano.blogspot.pt/2016/10/jose-libanio-gomes.html

1 comentário:

Luis Filipe Gomes disse...

Parece que Manuel Teixeira Gomes era uma personalidade muito rica. Faz tempo que ando para ler a sua escrita li que se cresce com ela. Admiro sempre aqueles que abdicam do Poder voluntariamente quando aquilo que os move é uma forma superior de entendimento da ética. Parece que foi o caso. Já o Lopes era Craveiro de outra lavra. Mas dizem que tinha coragem, que não se lhe pegava nada às mãos e que ao Sal tinha azar.