terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A Padaria de S. Carlos, em Lisboa

A Padaria de S. Carlos foi fundada no século XIX por Francisco Rufino de Almeida e já não existe há muito. Situava-se na Baixa de Lisboa, na Travessa da Parreirinha nº 7, designação que foi alterada em 1885 para Rua Capelo, em homenagem ao explorador Hermenegildo Capelo, e refere-se à rua que vai da Rua Ivens para o Largo de S. Carlos.
A primeira menção que encontrámos a esta casa, ainda com a morada mais antiga, data de 25 de Maio de1884 e consta de uma lista com as qualidades de pão que aí era confeccionadas. Esta informação foi publicitada no jornal Diário Illustrado e espanta pela sua variedade. Dela constam ao preço de 50 réis a carcasse française, o corchu (crochet) francês, o duchesse, as tranças francesas, as formas e as flautas abiscoitadas. Quanto ao pão de família tinha o preço de 45 réis. Tanto o pão abiscoitado francês como o pão de água eram vendidos em três tamanhos com preços que variavam ente 5 e 20 réis. Vendiam também uns pães doces a que chamavam laureanas a 20 réis e umas bolachas especialidade da casa, as “bolachas de S. Carlos” a 600 réis o Kg. Os clientes podiam utilizar o serviço de entrega ao domicílio a qualquer hora do dia. A Padaria recebia encomendas para almoços, lunchs e jantares assim como estavam aptos a fazer fornecimentos para bordo.
A 25 de agosto de 1890 no mesmo jornal noticiava-se que era um das padarias que não tinha aumentado o seu preço, o que podia ser confirmado pela tabela publicado como publicidade e que tive o cuidado de comparar com a anterior. 
Em 5 de Julho de 1894 uma extensa notícia em primeira página no jornal dava conta que a Padaria S. Carlos era agora pertença de António da Silva Mendes, enquanto o fundador se encontrava como gerente de uma sucursal em Sintra. António Silva Mendes que havia começado esta actividade poucos anos antes tinha já conseguido abrir as seguintes sucursais: na rua de S. Sebastião da Pedreira, na rua de Santa Marta, na rua de S. Vicente, na travessa do Cabral, na rua S. João da Mata, na rua das Gáveas e em Arroios. Para quem pensa que a moda das padarias é de agora é porque não conhece os portugueses. Veja-se o importante papel que os imigrantes portugueses tiveram no Brasil, desde o século XIX até aos nossos dias, em que dominaram toda a produção e comércio do pão.
Apesar de todas estas sucursais era na sua sede que se reuniam as melhores condições e a prova mais evidente do progresso tinha sido a aquisição de um filtro Chamberland para 1500 litros para a manipulação do pão. Esta designação devia-se ao nome do inventor Charles Chamberland, colaborador de Pasteur, que idealizou o primeiro aparelho de esterilização a vapor de água, tendo utilizado um filtro de porcelana com o intuito de separar bactérias. Os filtros para água acompanharam as preocupações de higienismo do século XIX e obtiveram grande sucesso na purificação da água. Podemos encontrar em Portugal menção à sua utilização em anúncios de hotéis e restaurantes da época, como forma de promoção e sinal de progresso (Ver o poste sobre O Grande HotelContinental). 
Rua Capelo Nº 7, com fachada no piso inferior visivelmente alterada
Este tipo de filtro concorria com um outro o filtro Mallié que alguns consideravam superior mas que nunca atingiu a divulgação do primeiro. O que impressiona aqui são as grandes dimensões do filtro pelo que o proprietário afirmava com orgulho que este «podia ser visto no estabelecimento a qualquer hora». Mais um modo de publicidade inteligente deste empresário de sucesso que não sabemos como acabou.

2 comentários:

Cecilia disse...

De férias, num adorável sem fazer nada, procurei hoje saber mais sobre o livro de receitas dos anos 50, "A Alegria de Cozinhar", que herdei de minha mãe, Dona Cida, hoje com 90 anos e firme na aversão à tudo o que tem a ver com culinária. Adoro o livro, adoro cozinhar e já ví que vou adorar esse Blog. Sucesso nesse novo ano e até breve.

Ana Marques Pereira disse...

Cecília,
Obrigada pelo seu comentário. Espero encontrá-la aqui mais vezes. Um Bom Ano para si.