quarta-feira, 4 de março de 2015

Um prato de Bacalhau (quase) à Assis

Foto tirada do facebook do CNM
Há quase há dois meses recebi no meu mail uma informação sobre um almoço e workshop sobre o bacalhau à Assis, na Casa da Covilhã. Registei a data na minha agenda, mas como entretanto perdi o mail não consegui contactar a fonte. Da Casa da Covilhã ninguém respondeu ao telefone (fixo e portátil) e no facebook nada constava sobre este evento.
Fiquei desolada e a frustração foi de tal modo que nesse dia decidi improvisar um prato de bacalhau, a que chamei «quase à Assis».
Imagem da sala de jantar do CNM onde nasceu o bacalhau á Assis (foto do facebook do CNM)
Para quem não é da Covilhã talvez esta designação não lhe diga nada. A receita é uma variante do bacalhau à Brás e foi feita pela primeira vez por Henrique Assis, que na altura se chamava A-Si, há 82 anos. Era mais conhecido pelo «chinês» uma vez que era essa a sua origem. Eram outros tempos e um chinês na Covilhã era uma raridade.  Assis tinha sido trazido da China por um militar da zona da Covilhã e ali cresceu e constituiu família. Aprendeu a cozinhar comida portuguesa e esteve à frente da cozinha da antiga Pensão Floresta que se passou a designar Pensão Restaurante dos Skiadores. Foi também cozinheiro no Club União da Covilhã, um clube elitista frequentado pela melhor sociedade da terra. 
Henrique Assis e sua mulher Rosa Fortuna (foto retirada de folheto distribuído pelo filho)
Mas foi no Clube Nacional de Montanhismo (CNM), na Serra da Estrela, que durante um nevão, e utilizando os elementos que tinha à mão criou o Bacalhau à Assis (ou à A-Si), juntamente com sua mulher Rosa Fortuna.
Bacalhau à Assis cozinhado pelo próprio no dia de homenagem dos 80 anos de criação do prato, em 2012
Semelhante ao bacalhau à Brás é realmente uma inventona a que se adiciona cenoura ralada, presunto e pimentos. Os pimentos usados são os “morrones”. Pode parecer estranho mas faz sentido porque  me lembro que os morrones eram frequentes na Covilhã, trazidos de Espanha de contrabando e vendidos porta a porta, juntamente como os caramelos e os “melocotones”.
Henrique Assis em 2012 no almoço de homenagem no CNM
O bacalhau foi um sucesso que o seu autor repetiu. Lembro-me de o meu pai ir à pensão do Assis buscar este prato, que foi sempre muito apreciado na Covilhã, e de o trazer para casa numa marmita.  
Descobri hoje que o tal almoço sempre se realizou, tal como a comemoração dos oitenta anos da criação do prato, comemorado em 2012, no Clube Nacional de Montanhismo, que o viu nascer e de cujo facebook  retirei algumas fotografias.
A minha versão do Bacalhau à Assis
A receita está disponível na net e não vou repeti-la. Na minha versão (também tenho direito a inventar) as batatas às tirinhas não foram fritas mas cozidas em vapor no micro-ondas (6-8 minutos) e só depois as alourei na cebolada com o bacalhau. Acrescentei a cenoura ralada crua e no fim os ovos batidos. Não juntei os pimentos porque não tinha, mas vou fazê-lo da próxima vez para me aproximar da receita. Já não me lembro do sabor do antigo bacalhau à Assis da minha infância, mas o meu bacalhau (quase) à Assis, estava óptimo.
PS: Agradeço às minhas amigas covilhanenses Cilinha e Alda o terem cruzado comigo informações sobre este tema.

5 comentários:

victor disse...

não estou a compreender as datas. 80 anos em 2012-prato criado em 1932,certo? Então que idade tinha? que idade tem nesta foto de 2012? Quase centenário? Ou em 2012 são os 80 anos do criador do prato? Não que seja muito importante, que o bacalhauzinho, seja qual for a idade, tem ótimo aspeto!

PINTALEGRETE disse...

"Bacalhau á Assis" é um prato que ainda hoje faço cá em casa! Tem certamente oitenta e tal anos!
Vivi na mesma rua onde existia a "Pensão Floresta" cujo dono era o Sr Assis e sua mulher. O edifício ainda lá está!
Para que a rua fosse alargada, foram demolidos alguns prédios entre eles o de meu avô, onde vivi até aos meus 8 anos.

No almoço da Casa da Covilhã o dito bacalhau foi confeccionado por um dos seus filhos que tb orientou o "workshop".
Para quando um Workshop" da autora de "Garfadas on line"?

Ana Marques Pereira disse...

Victor e Pintalegrte,
Felizmente o Pintalegrete já respondeu às dúvidas do Victor. Realmente foi o bacalhau que na altura fez os 80 anos.
Quanto ao workshop estou sempre disponível para novas ideias.
Agradeço aos dois os comentários. Cumprimentos

Paulo disse...

Quem aparece na foto, é o Jorge Assis, filho do Sr.Henrique Assis.

Ana Marques Pereira disse...

Paulo,
Obrigado. Vou corrigir.