sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Tomar café no «Café dos Pretos»

Agora que o espaço da Feira Popular em Entrecampos é um enorme buraco deserto no centro da cidade, lembramos-nos de como a víamos quando éramos pequenos.
 Na minha memória paira ainda uma imagem ténue da primeira Feira Popular, que existiu nos jardins de  Palhavã e onde, pela primeira vez, vi uma televisão. Os visitantes curiosos e incrédulos rodeavam o aparelho de grandes dimensões para terem a certeza que não estava lá ninguém dentro.
Quando em 1961 se mudou para Entrecampos transformou-se em local de visita das famílias que levavam as suas crianças. 
Os preparativos para a Feira Popular em 1952. Foto Armando Marques
Com o tempo foi perdendo magia e passou a ser mais visitada para consumo dos restaurantes. Poucas vezes lá voltei nos últimos anos e as minhas recordações são sobretudo de infância. 


Se juntássemos agora várias pessoas víamos que todos tinham recordações diferentes e, como acontece nos escritos de alguns blogues, só então recuperávamos esses pormenores. Já me tinha esquecido das duas bailarinas que mexiam as ancas de cada um dos lados da porta de entrada para o comboio fantasma.
Do que eu nunca me esqueci foi do «Café dos Pretos» que existiu nas duas feiras. Era uma construção tipo palhota que parece ter sido uma cópia de um café que existia em Luanda, em Sambizanga. 
Imagem tirada do blog Feira Popular
Cá fora tinha uma mesas com bancos que eram troncos e que ficavam debaixo de um chapéu de colmo semelhante aos que agora fazem nas praias para dar um ar tropical.
O café que presumo era angolano era servido por pretas com panos na cabeça, camisas de folhos  e saias floridas. 
Mas o mais típico era a forma de servir o café que era apresentado em copos de vidro que vinham dentro de um recipiente em madeira. 
Nunca os vi a ser utilizados em mais sítio nenhum e imaginem o prazer que foi encontrar uns exemplares que rapidamente identifiquei como sendo do «Café dos Pretos». Aqui fica a imagem para reactivar memórias esquecidas.

PS: A imagem que consegui, tirada do blog «Feira Popular» presumo que representa o café «Mazumbo do Kimbondo» em Luanda, porque apesar de muito semelhante, não é exactamente igual à minha recordação ou às poucas imagens que encontrei.

Nota: Como resposta às afirmações sobre o café dos pretos feitas pelo fuzileiro1974, aqui apresento outro modelo do meu acervo, que corresponde à descrição feita no comentário. 

4 comentários:

Ivete Ferreira disse...

Ana

Que saudades do Café dos Pretos! Nas noites cálidas daqueles Verões, um café a escaldar, com as suas bases de madeira... os toldos em forma de palhota e o som de fundo das conversas, dos risos acompanhados pelos cheiros ...
Também ainda me lembro da Feira Popular onde é hoje a Gulbenkian! havia uma roda gigante e um grande lago onde se podia andar de barco.
Obrigada pelas boas recordações!
Ivete

Ana Marques Pereira disse...

Ivete,
Devemos-nos ter cruzado a comer um algodão doce a caminho do carrocel.
Bj

Unknown disse...

Não digo que esses copos tivessem estado alguma vez no "Café dos Pretos", mas, eles realmente nunca foram assim, segundo a minha memória, nem nunca foram os copos típicos desse célebre café.
Vivi sempre defronte à feira popular e fui lá larguíssimas vezes, sozinho ou com família e o caminho habitual era as farturas com um "cup " e depois um café nos pretos. Refiro ainda que me recordo desse mesmo café ainda onde é hoje a Gulbenkian . . .
Voltemos aos copos, sempre os vi e recordo-me perfeitamente de que a sua base era em madeira em forma de tronco de esfera, ou seja, se tivermos uma esfera em madeira e cortarmos dois planos paralelos e num deles fizer-mos um furo suficientemente largo para enfiar o copo, teremos o outro plano para assentar o conjunto, espero ter sido claro !
Mais, a madeira nunca foi envernizad, sendo a sua cor acinzentada dada pelo facto de estar muitas vezes húmida.
JF

Ana Marques Pereira disse...

fuzileiro1974,
Como não consigo aqui introduzir imagens vou acrescentar no texto outro modelo de copo que corresponde ao que descreve.
Cada um de nós fica com imagens diferentes de coisas que vimos na infância. Também não sei se tiveram sempre o mesmo modelo. Cumprimentos