Apesar de sermos um país vinícola
as passas de Málaga tiveram, durante muito tempo, grande aceitação em Portugal. A principal variedade de uva
utilizada na província da Andaluzia para a transformação em passas, é a de uvas
Moscatel de Alexandria. A variedade moscatel era já conhecida desde a dominação
muçulmana, mas a sua disseminação deu-se na bacia mediterranica durante o século
XVII e início do século XVIII.
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Biblioteca Nacional de Madrid |
No século XIX era cultivada em
toda a Andaluzia e a sua produção e exportação aumentaram progressivamente e
tornaram-se numa actividade económica importante da região. Contudo a partir de 1870
assistiu-se a uma reversão do processo, no que respeita à produção de passas. À
crise económica mundial, juntaram-se os aumentos de impostos, a competição com
outros mercados (ex. passas da Califórnia), a filoxera, etc. Começou a haver excesso
de produção com baixa de preço nos mercados, pelo que muitos agricultores
começaram a arrancar as cepas e a plantar cana-de-açúcar.
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Museu de Artes e Costumes Populares. Fundação Unicaja, Málaga. |
A acompanhar o desenvolvimento
desta produção frutícola surgiu em Málaga, a partir de 1830, uma produção
litográfica e impressora destinada à publicidade de empresas, cartazes, cartões,
etiquetas, produção de leques, etc. No final do século XIX a qualidade e o número
de litografias nesta cidade colocavam-nas entre as mais importantes de Espanha.
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Desenhos para caixas de passas. Museu de Artes e Costumes Populares. Fundação Unicaja, Málaga. |
A gravura apresentada no início do poste e encontrada em Portugal faria
provavelmente parte de uma das embalagens de passas produzidas pela firma «Hijo
de Martins Alcausa». Encontrámos notícia da existência desta firma no jornal O Sol, de Madrid, de 15 de Dezembro de
1918. Nela se elogiava esta casa que havia sido fundada em 1870, contrariando a
tendência descendente de produção deste tipo de frutos. Então com 48 anos a
firma era conhecida pela sua variedade de «frutos verdes e secos», que
exportava para vários países como França, Brasil e Portugal. De entre os vários
tipos de frutas eram referidos os figos, os limões e as passas. Infelizmente
esta bela litografia, não tem identificação do local de produção mas terá sido
seguramente produzida por uma das várias litografias existentes na cidade
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Gravura de caixa de passas. Museu de Artes e Costumes Populares. Fundação Unicaja, Málaga. |
Na tese apresentada por Alfonso
Simón Montiel sobre «Los orígenes del diseño gráfico en Málaga 1820-1931», o autor
refere que o conceito para as caixas de passas de Málaga é bastante homogéneo,
evidenciando-se mais o nome do produto «pasas moscatel de Málaga» do que o nome
do produtor. Embora as formas das embalagens pudessem ser variadas a mais
frequente era a rectangular. No que respeitava aos motivos o recurso a imagens
de toureiros ou figuras femininas típicas espanholas, numa segunda fase com
evidente estética modernista, foi o mais utilizado.
Para além dos modelos
humanos, a representação de imagens da cidade, com formas arquitectónicas ou imagens de locais típicos como a catedral ou o porto, foram outros dos motivos
utilizados nas embalagens de passas de Málaga. É este último o tema aqui
apresentado e foi também nestes, segundo Alfonso Montiel, que se começaram a
utilizar as novas técnicas fotomecânicas que imprimiam maior realismo às
imagens, o que explica a beleza desta gravura.
Bibliografia:
- Montiel, Alfonso Simón, Los Orígenes del diseño gráfico en Málaga 1820-1931, Tese de doutoramento, Universidade de Málaga, 2007.
- Del Rio, Pilar, La litografía artística para uso comercial en Málaga, em i+ DISEÑO, Universidade de Málaga.
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