Esta fascinante peça faz parte do
espólio do Museu Biblioteca Conde de Castro Guimarães (MBCCG), em Cascais.
Como preparação para o curso
sobre «Mesa aristocrática», de que já falei, tive oportunidade de contactar de perto
com as peças de mesa aí existentes e posso dizer que esta foi a que mais me
fascinou.
Pela sua beleza é claro, mas
sobretudo pela sua raridade. Encontrei muito pouca informação sobre este tipo
de serviço destinado a levar à mesa o arroz de caril. E digo assim porque o único
que encontrei, com algumas semelhanças, foi um «rice curry set», que lhes
apresentarei.
O conjunto existente no MBCCG é
constituído por um total de sete pratos cobertos em porcelana branca decorada
com um friso em vermelho ferro e ouro. Foi feito na China, cerca de 1770, e é
uma peça da Dinastia Qing / Reinado de Qianlong. À volta de um prato central
circular dispõem-se os restantes pratos em forma trapezoidal, sendo o conjunto
apresentado dentro de uma caixa lacada redonda. Na sua tampa estão presentes
duas letras que poderão estar relacionados com o seu anterior possuidor, mas é
um tema que levanta outras questões que não se justificam agora.
É verdade que se pode confundir com uma caixa de doces chinesa, usada para oferecer doces, embora muitos sejam frutos cristalizados como a raiz de lotus (por ex.). Este tipo de caixas são usadas como ofertas no Ano Novo chinês e também nos casamentos. Têm 6 ou 8 compartimentos que correspondem aos número da sorte chineses e a escolha dos doces não é arbitrária, uma vez que cada fruto ou semente tem um significado, interpretado como uma mensagem por quem recebe.
É verdade que se pode confundir com uma caixa de doces chinesa, usada para oferecer doces, embora muitos sejam frutos cristalizados como a raiz de lotus (por ex.). Este tipo de caixas são usadas como ofertas no Ano Novo chinês e também nos casamentos. Têm 6 ou 8 compartimentos que correspondem aos número da sorte chineses e a escolha dos doces não é arbitrária, uma vez que cada fruto ou semente tem um significado, interpretado como uma mensagem por quem recebe.
Interessa realçar a raridade
deste serviço de que não encontrei outro semelhante. O mais aproximado foi o
serviço de 15 peças independentes, em bronze e prata, em que o conceito é o
mesmo, um conjunto de pratos cobertos para o serviço de caril, com um prato
central e vários pratos satélites.
Foi feito na Síria e é
proveniente do espólio do rei Farouk do Egipto (1920-1965), que o poderá ter
herdado do seu Fuad I, ou do avô Ismail Pasha.
Os ingleses orgulham-se de ter
receitas de caril publicadas no século XVIII. No livro de Hannah Glasse The Art of Cookery made plain and easy,
publicado em 1747, pode encontrar-se uma dessas receitas.
Pouco tempo antes Vincent de La Chapelle, um cozinheiro francês que trabalhou em Inglaterra, na Holanda, na Alemanha, nas Índias Orientais e em Portugal, publicara em inglês, em 1733, o livro The modern cook, que em 1735 seria publicado em francês.
Na sua obra propõe receitas internacionais como uma espécie de caril à indiana e sobre ele diz: «é preciso ter estado nas Índias e em Portugal como eu para conhecer estas variedades de açafrão e pimento».
Imagem tirada da internet |
Pouco tempo antes Vincent de La Chapelle, um cozinheiro francês que trabalhou em Inglaterra, na Holanda, na Alemanha, nas Índias Orientais e em Portugal, publicara em inglês, em 1733, o livro The modern cook, que em 1735 seria publicado em francês.
Na sua obra propõe receitas internacionais como uma espécie de caril à indiana e sobre ele diz: «é preciso ter estado nas Índias e em Portugal como eu para conhecer estas variedades de açafrão e pimento».
Mas no que se refere ao caril o
nosso conhecimento foi mais precoce e Domingos Rodrigues no livro Arte de
Cozinha, publicado em 1680, apresentava já uma receita de caril, o que também nos
confirma Vincent la Chapelle que conheceu este prato em Portugal.
Assim se explica a existência
deste serviço do século XVIII para caril em Portugal. O que fica por explicar é
porque não são conhecidos outros exemplares com esta tipologia.
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