terça-feira, 6 de novembro de 2012

O vinho nos cartazes de Mário Costa


O cartaz com as «Regiões Vinícolas de Portugal» foi encomendado pela Junta Nacional dos Vinhos (JNV), fazendo parte das suas campanhas de propaganda a favor do vinho. Esta instituição foi criada por decreto, em 19 de Agosto de 1937, para defesa da produção e comércio do sector vinícola em Portugal, numa altura em que se procurou também incentivar outras áreas da Agricultura.
Para realizar o cartaz foi escolhido Mário Costa (1902-1975) que trabalhara já noutros projectos da JNV logo no início da actividade deste instituto.

Em Junho de 1938 foi aberto um concurso para a execução de três cartazes para propaganda do consumo da uva e do vinho. Neles deviam ser incluídas mensagens que transmitissem a ideia da uva como alimento saudável, considerar o vinho como uma bebida higiénica alimentar e valorizar o papel social do vinho.
Desse projecto, atribuído a Mário Costa, sairiam três potentes cartazes de propaganda, com a estética do Estado Novo, que marcaram a memória dos que os conheceram. Num deles encontramos a expressão: «Quem beber vinho contribui para o pão de mais de um milhão de portugueses»; no segundo a mensagem: «Uvas fonte de saúde e de alegria» e no terceiro, o mais famoso: «Beber vinho é dar pão a 1 milhão de portugueses», todos de 1938.


Mário Costa teve uma actividade variada no campo da arte. Foi pintor, tendo sido discípulo de E. Paula Campos. Fez os cursos de formação artística da Escola Machado Castro e de pintor-decorador da Escola António Arroio.
Foi ilustrador de livros, tendo feito o grafismo para o conto «O quadro Mágico» de Fernanda Mattos e Silva, publicado no «O Senhor Doutor,» a 19 de Maio de 1934, ilustrou o livro de Odette de Saint Maurice «O canto da Mocidade» e ilustrou a capa do livro de João Verdades, «Hipólito do Ó», da Editorial Século, em 1938.
Fez decorações para a Exposição do Mundo Português e ganhou o prémio Roque Gameiro do SNI em 1945.
Foi também da sua autoria a extraordinária capa do relatório comemorativo do XX Aniversário da Campanha do Trigo, 1929-1949, da Federação Nacional dos Produtores de Trigo (F.N.P.T.), publicado em 1949, bem como de cartazes de propaganda aos produtos madeirenses.
Um outro aspecto da sua actividade foi a sua acção como vitralista. Aos 23 anos, começou como aprendiz de Ricardo Leone, na sua oficina em Lisboa, na Rua da Escola Politécnica, de que ainda existe o local. Nas décadas de 1920 a 1940 trabalhou com ele sendo responsável pela continuidade do trabalho de Leone na recuperação dos vitrais do Mosteiro da Batalha. Realizou os vitrais «Camões e os Dez Cantos» e, juntamente com Leone, os da «Travessia do Atlântico», evocativos do feito de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, trabalho que recebeu o Grande Prémio da Exposição do Rio de Janeiro, em 1923, e que se encontra na Sociedade de Geografia de Lisboa.
Mosteiro da batalha. Sala do capítulo. Vitrais do século XVI restaurados

Na década de 1940 reconstruiu os vitrais dos Jerónimos, bem como os vitrais da Sé de Lisboa e do Porto, e das Igreja da Conceição, no Porto. Alguns dos vitrais da Igreja de Fátima e do Santo Condestável, em Lisboa, são da sua autoria.

Foi também autor do vitral da Igreja da Lapa, no Porto, que se intitula «O Nascimento» e de um vitral, mais moderno, para a Pastelaria Mexicana.

No ano de 1963, Mário Costa pintou vitrais para a frontaria da igreja de Nossa Senhora dos Anjos, na Lourinhã, que conhecia bem, por ter casa na Areia Branca.

Dedicou-se, igualmente, ao cinema português onde trabalhou nos decors de vários filmes como: «O Fado», «O Homem do Ribatejo», o «Filho do Homem do Ribatejo», «Camões», «A Mantilha de Beatriz», «Ladrão Precisa-se», «O Costa do Castelo» e «A Vizinha do Lado».

Um homem com uma actividade multifacetada, de que pouco se sabe, e de que ficamos com a impressão de que muito outros trabalhos não foram mencionados. Vou estar alerta.


Bibliografia
Carlos Silva Barros, O vitral em Portugal, 1983.
Informação Vinícola, 30 de Junho de 1938.
Fernando Pamplona, Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, Livraria Civilização Editora, 1991.
Maria da Conceição Brito, Acção e Património da Junta Nacional de Vinho (1937-1986), Lisboa 2007.

2 comentários:

Letra disse...

Mário Costa foi durante muitos anos
Chefe do Atelier de Publicidade da
Mobil em Portugal.
Carlos Rocha

Ana Marques Pereira disse...

Carlos Rocha,
Obrigado pela sua informação adicional.