segunda-feira, 9 de agosto de 2010

VIROL, uma alimento à base de tutano

O frasco de Virol apresentado era vendido em farmácias como suplemento alimentar. Esta forma de reforço alimentar foi desde sempre valorizada nos períodos de doença que se acompanham de falta de apetite.
O Virol era uma marca registada, de origem inglesa, que teve grande divulgação no século XIX. Era vendido em frascos de cerâmica vidrada creme, com rótulo preto, em três tamanhos. Durante os anos 20-30 era ainda comercializado, mas a apresentação passou a ser feita em frascos de vidro castanho. Era então publicitado como sendo útil para meninas anémicas.
Era uma bebida feita à base de extracto de malte, havendo mais do que uma variedade. Numa delas realçava-se a prevalência do óleo de fígado de bacalhau, mas a mais divulgada foi a aqui apresentada enriquecida com medula óssea. Para uma Hematologista, como eu, em que a medula óssea só é utilizada para transplantes, esta forma oral de ingestão é fascinante.
A medula óssea não é mais do que o tutano dos ossos. Como local de produção de células hematopoiéticas vai, ao longo dos anos, produzindo cada vez menos células sanguíneas e tornando-se mais adiposa. É por isso que em culinária se usam sobretudo os ossos longos.
Considerada desde sempre um alimento apreciado, foi muito consumida durante a Idade Média e a Renascença.
O Mestre Martino, no “Libro de Arte coquinaria”, do século XV, apresentava uma receita de tarte de marmelos recheados com tutano.
Durante os século XVIII e XIX existiam mesmo colheres próprias para comer tutano. Modernamente a receita mais conhecida é a de “osso buco” em que a carne é apresentada num corte que atinge o tutano do osso. Por vezes é acompanhado de risotto milanês, em que o arroz Carnaroli é enriquecido com tutano.

Lembro-me de em minha casa se comer o tutano dos ossos longos da vaca, que eram cozidos na sopa. Não existiam as tais colheres e a forma prática de se ter acesso ao tutano era segurar no osso e assoprar numa das extremidades. O tutano saia inteiro, para prazer de quem o ia comer, uma imagem que já estava perdida na minha memória.

Foto extraída de Antique Bottles

"THE// IDEAL FOOD// VIROL// A PREPARATION OF // BONE MARROW // AN IDEAL FAT FOOD // FOR CHILDREN // & INVALIDS

6 comentários:

Anónimo disse...

Já não conheci o Virol.Mas sim o chupar do tutano através do osso cozido na sopa com hortelã.

José

Ana Marques Pereira disse...

José,
O que eu gostei foi do pormenor da hortelã. Bons hábitos.

Carlos Caria disse...

Ana, Como sempre excelente trabalho de pesquisa.
Pelos meus 3/4 anos de idade ou seja pelos meados dos anos 50 bebi muito oleo de ficado de bacalhau que era servido à colher e embalado em frascos de 2 dcl.
Este era um complemento da do às crianças nas creches da Casa dos Pescadores, pois era uma forma de obviar a falta de alimentos recebido em casa, por motivo das dificuldades financeiras das familias.

Anónimo disse...

Fascinante!
É mesmo estranho ver frascos de "bone marrow" à venda!
Vou importar a ideia para o estágio em Transplantes! (talvez se passem a fazer em ambulatório!)

beijinho grande

s chacim

Ana Marques Pereira disse...

Olá Sérgio,
É preciso é ter ideias. Talvez as células hematopoiéticas sejam tão inteligentes que façam o "homing" através do tubo digestivo. Nós é que não sabíamos.
Bj

Ana Marques Pereira disse...

Carlos Caria,
Também eu e o meu irmão bebemos litros de óleo de figado de bacalhau. Por sorte, ao contrário das outras crianças, gostavamos. É uma ssunto sobre o qual gostava de falar mas de momento não estou preparada. Para compensar vou falar no próximo post de um outro suplemento mais antigo, que eu nem conhecia.
Um abraço.