sexta-feira, 13 de agosto de 2010

BANACAO. «O melhor alimento vegetal»

O mundo dos suplementos ou reforços alimentares é vasto e, em época de carências foram, durante muito tempo, indispensáveis na alimentação das crianças.

As pessoas da minha geração lembram-se bem do óleo de fígado de bacalhau (ver comentário do post anterior), mas também dos granulados de cálcio e dos reforços vitamínicos com sabor a laranja, de que já não recordo o nome.

Mas a descoberta desta caixa levou-me a umas décadas atrás. Trata-se de uma embalagem de Banacao, um produto distribuído pela Sociedade Nacional de Mercadorias, situada na Rua da Madalena, 46, 2º.
Era produzido pelo SCIPAT, acrónimo de “Sociedade Comercial e Industrial de Produtos Alimentares Tropicais”, cuja fábrica se localizava no Calhariz de Benfica. Esta empresa destinava-se à cultura, indústria e comércio dos produtos das plantações de bananeiras e teve o seu início oficial a 22 de Junho de 1933.
Imagem extraída de «Retalhos de Bem-Fica»

A fábrica, de grandes dimensões, situava-se na encosta de Monsanto e destinava-se sobretudo à produção de farinhas alimentares, com especial relevo para a farinha de banana. Produziam também o LACTO-BANACAO e um outro produto designado LACTO-BANANINA. A estes dois últimos encontrámos publicidade no Jornal de Notícias de Janeiro de 1935, que aqui reproduzimos. Quanto à caixa de Banacao, cuja lata foi fabricada na Viúva Ferrão, Lda ., em Lisboa, transmite-nos várias informações. A primeira surpresa foi a de constatar que o desenho da mesma se encontra assinado «Emmerico». Trata-se de Emmerico Nunes (1888-1968), um dos precursores da banda desenhada em Portugal, com múltiplos trabalhos publicados em que o aspecto humorístico era sempre realçado. Foi responsável pela publicidade da Vaccum Oil, até cerca de 1931. Neste desenho pode ver-se uma menina a beber por uma chávena o produto Banacao, observada de perto por um macaco que come uma banana, enquanto com a outra mão se agarra ao cacho de bananas, colocado sobre a mesa.

Para terminar, na face posterior da caixa encontra-se o «Resumo e Conclusões da Análise da Farinha de Banana» feita pelo Prof. Charles Lepierre. Este engenheiro químico, de origem francesa, foi desde 1911 professor do Instituto Superior Técnico, onde desenvolveu um Laboratório de análises de produtos alimentares e outros. São bem conhecidos os seus estudos em Hidrologia, mas no campo alimentar teve especial importância o estudo do azeite aplicado às conservas, o que lhe valeria ser nomeado director do Laboratório do Instituto Português de Conservas de Peixe, em 1935.
Era um nome reputado pelo que seguramente teriam peso as suas conclusões: «Excelente alimento de elevado poder energético..... recomenda-se pela presença de substâncias insubstituíveis para assegurar o crescimento dos organismos....».
Um elenco de luxo a apoiar o consumo deste produto, aconselhado para beber à chávena ou para utilizar em doces, bolos, cremes ou gelados.

3 comentários:

icosaedro disse...

Boa tarde. Num documento existente na Biblioteca Nacional, mencionam-se ainda os produtos «Banacáo Exército e Armada» e «Banacáo Escolar». O primeiro estaria prestes a ser fornecido às Forças Armadas, mas a companhia terá, talvez, falido ainda nesse ano de 1935.

Ana Marques Pereira disse...

Icosaedro,
Muito obrigado pela sua informação adicional muito interessante.

Anónimo disse...

O meu avô, era encarregado da fábrica viúva ferrão,conheci tudo lá dentro,e ainda me lembro do cheiro assim que entrava,a minha avó e o meu pai também foram funcionários.