quinta-feira, 4 de junho de 2009

"As papas" de José Malhoa

O quadro intitulado “As Papas” de José Malhoa foi pintado em 1898.

Esteve exposto na exposição Nacional do Centenário de José Malhoa que foi inaugurada em 15 de Maio de 1955 e pertencia nessa data a um coleccionador privado.
Na introdução do catálogo da exposição encontra-se uma biografia que o próprio havia escrito anos antes. Nela se refere ao seu nascimento nas Caldas da Rainha, em 28 de Abril 1855, e ao trajecto da sua vida, até se dedicar em exclusivo à pintura.

Foi pioneiro do Naturalismo em Portugal, tendo feito parte do Grupo do Leão (1881-1889). Este grupo que se reunia na Cervejaria Leão de Ouro, em Lisboa, restaurante ainda hoje existente na Rua 1º de Dezembro, integrava figuras como Silva Porto, Columbano, Rafael Bordalo Pinheiro, António Ramalho, João Vaz, Henrique Pinto, Ribeiro Cristino, Moura Girão, Rodrigues Vieira e Cipriano Martins, entre outros.
Foram as discussões estéticas e artísticas que tiveram lugar no seu seio que influenciaram o gosto de Malhoa pela representação da natureza, pintada ao ar livre e pela pintura de cenas rústicas ou de hábitos típicos que mostravam práticas aldeãs.
Foi sobretudo depois de 1885, após a aquisição da sua casa em Figueiró dos Vinhos, onde contactou mais de perto com a vivência no campo, que adquiriu o gosto por temas populares, que retomaria ao longo da vida. Seria este aspecto que levaria Diogo de Macedo a chamar-lhe um «historiador da vida rústica de Portugal».

É dentro deste conceito que se integra o seu quadro “As papas”, em que representa uma camponesa idosa, desdentada, a comer ou a mexer, com uma colher de pau, um prato de papas, aparentemente de milho, também chamadas papas de carolo.

11 comentários:

Sofia Loureiro dos Santos disse...

Essas papas de milho eram muitas vezes feitas na aldeia da minha avó (Beira Baixa) e até havia a festa das papas (na altura das férias grandes). Eu detestava-as!

Ana Marques Pereira disse...

Também me lembro das papas de milho em casa da minha avó. Embora não seja grande apreciadora, posso prometer-te fazer umas boas papas de milho e «não te comer as papas na cabeça». Lembras-te desta expressão?

Sofia Loureiro dos Santos disse...

Sim, lembro-me bem, mas tem alguma coisa a ver com estas papas? Sempre pensei que vinha de alguém ser tão baixo que o alto da cabeça podia servir de mesa aos outros - será?

Ana Marques Pereira disse...

Embora a Infopédia diga que «comer as papas na cabeça» significa ser mais alto que, sobrelevar, vigarizar, enganar, lograr, é sobretudo neste sentido que a expressão é usada. Albino Lapa no "Dicionário de Calão" diz que significa «enganar alguém».

Anónimo disse...

As papas de milho são uma tradição da Beira Baixa.Em Alcains, acontece anualmente,no dia de Todos os Santos, a festa das papas ,que consiste em serem postas ás portas de casa grandes quantidades de papas para os passantes se servirem.É um prato agradavel.Este é o meu primeiro comentário, que certamente não será o ultimo ,dado interesse do blogue

Sofia Loureiro dos Santos disse...

A minha avó era de Alcains e eu lembro-me da festa das papas (referi-me a ela no primeiro comentário). Mas a ideia que tenho dessa festa é que era no Verão. Aliás, segundo o site:http://centrodeportugal.blogspot.com/2006/08/2608-festa-das-papas-em-alcains.html é no primeiro fim-de-semana de Setembro.

Q disse...

Olá a todos :)

Antes de mais , Alcains é uma vila ( por sinal , uma das maiores de Portugal ) e não uma aldeia como é referido.

Quanto à Festa das Papas :

Pensa-se que entre 1600 e 1640, a Beira Baixa foi invadida por sucessivas pragas de gafanhotos e claro , Alcains não escapou a este terrível flagelo sendo que as suas searas de centeio, feijão e milho, assim como as suas hortas, foram dizimadas pela dita praga.

As pessoas lamentavam-se, pois ficaram destinadas à miséria e fome. Todos se queixavam, sem saber de como haviam de afugentar tal praga tão indesejável. O povo da então aldeia de Alcains , angustiado com esta ocorrência, e não podendo remover nem destruir a praga através de meios materiais, resolveu pedir aos santos da sua devoção que afastassem a terrível praga , que suspeitavam ser castigo da sua impiedade.

Implorou-se a protecção de Nossa Senhora, de Nosso Senhor e de S. Pedro. Os alcainenses fizeram a solene promessa de realizar três festas anuais em 3 Domingos consecutivos de Agosto , sendo que o bodo passaria a ser sempre distribuido pelos mais pobres da terra.

A Festa das Papas realiza-se em em Agosto :)

Cumprimentos desde Alcains

Ana Marques Pereira disse...

Obrigado pela contribuição. Nada como a vivência para se saber do que se fala. Pensava que a "Festa das Papas" tinha lugar a 15 de Agosto. Ainda se mantém a tradição dos três domingos?

T disse...

Eu tenho um grande fraco pelo Malhoa. Tive o privilégio de ser amiga da afilhada dele e de contactar com muito do seu espólio. E de visitar Figueiró. Ele sabia como ninguém interpretar os costumes e os rostos rurais.
Bela evocação.

Ana Marques Pereira disse...

Apenas hoje me chegou às mãos um folheto promocional da "Festa das Papas" que teve lugar na freguesia da Boidobra (Covilhã),no dia 13 de Junho. Trata-se da segunda festa deste tipo (a 1ª teve lugar o ano passado) e destina-se a promover uma das sobremesas mais apreciadas na região.

Ana Marques Pereira disse...
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