sábado, 7 de fevereiro de 2009

Livreiros de gastronomia: Rémi Flachard


Não são muitas as livrarias especializadas em livros de gastronomia e culinária.

Na grande maioria das vezes os amantes deste tipo de livros procuram-nos em livrarias ou catálogos gerais.
Mesmo para os livros novos as livrarias normais são muitas vezes decepcionantes porque em número e qualidade deixam muito a desejar.
Além disso, hoje em dia, é impossível encontar um vendedor, numa livraria não especializada, que saiba alguma coisa sobre livros.
Ainda me lembro do António que trabalhava na Férin e que nos aconselhava sobre os livros que tinham acabado de sair ou sobre os antigos. Quando se foi embora a livraria nunca mais foi a mesma.

Nas grandes lojas onde vendem livros, o máximo que se consegue é perguntar a um empregado se tem um determinado título. Ele procura no computador e responde-nos. Às vezes mal. Mas livreiros, daqueles com quem ficamos a conversar, já só é possível encontrá-los nas lojas de livros antigos. É sobre esses que irei falando.

Portugal é um mercado pequeno para especializações, mas nos outros países este tipo de lojas também não abundam.

Falo hoje na Livraria de Rémi Flachard, em Paris. Situa-se na Rue du Bac, 9, perto do Sena e existe há cerca de 19 anos.
É uma loja de pequenas dimensões onde se podem encontrar preciosidades.
O seu trato não permite grandes familiaridades. Conheço-o há pelo menos 15 anos e ainda hoje me trata com imensa reserva. Apesar disso fala de Portugal , que visitou há muitos anos, com afecto. Descreve as suas recordações com pormenor embora, com o tempo, os nomes já lhes escapem.
A pequena loja tem sempre a porta fechada. Quando entramos olha-nos sem grande entusiasmo. O máximo de tecnologia que se permitiu ao longo do tempo foi o telefone. Não tem computador, não aceita cartões ou cheques. Apesar do preço elevado dos livros afirma sempre que ali perto existe uma máquina que dá dinheiro a todos os estrangeiros que lá vão, levando-nos a crer que para os franceses o pagamento em dinheiro é do conhecimento geral.

Os seus catálogos são uma fonte de conhecimento. Neles se encontram as maiores raridades nesta área, surpreendentemente, em estado impecável e com encadernações da época. O pior de tudo são os preços que não são minimamente acessíveis à bolsa dos portugueses.

Para além disso, conhece tudo o que foi publicado e os livros actuais que têm interesse na área da culiária ou vinhos.
Pergunta-nos o que procuramos e vai buscar o que se adequa às nossas necessidades. Se não tiver, diz-nos que saiu um título que nos pode interessar. Fala-nos de exposições relacionadas com o tema e tem sempre à venda algum objecto especial.

Da última vez que o visitei tinha à venda, por um preço inimaginável para portugueses, uma colecção de potes de mostarda. Mostro-lhes algumas fotos que me permitiu tirar com o telemóvel.
Não vou muitas vezes a Paris, mas quando lá vou procuro sempre arranjar algum tempo para dar um salto. É sempre um visita excitante para mim e que realizo antes de tudo. Paris pode esperar.

4 comentários:

Anónimo disse...

Boa sugestâo.Regressando à Pátria recordo os livros da Colares Editora,à nossa medida...

Anónimo disse...

É verdade que os livros se transformaram em produtos de consumo como mostarda ou canetas bic, e que as lojas de livros se transformaram em hipermercados de tipo FNAC, onde os livreiros não sabem nada de livros, não conhecem as colecções nem os autores.

Mas as pequenas lojas de livros, com livreiros que nos querem aconselhar e em cujos conselhos, mãos e instintos confiamos também deveriam fazer algum esforço para a modernidade. Não cabe na cabeça de ninguém que não seja possível pagar com cartões nem que os computadores sejam olhados como tentações do demo.

Quanto ao teu post, adorei. As pequenas livrarias têm uma luz e um cheiro que convidam a saborear as conversas, os murmúrios, as capas, a textura, e a querer estar ali, para absorver.

Ana Marques Pereira disse...

Os livreiros, que sempre conhecemos por alfarrabistas e que hoje preferem ser chamados simplesmente livreiros, têm características próprias. Entrar no seu espaço é como entrar na sua casa. Ficamos sugeitos às suas ideias sobre o seu papel e à forma como o desempenham. É por isso que é tão agradável a visita a alguns, onde podemos ficar sentados a conversar sobre livros ou outro assunto, enquanto outros, nos recebem como se fossemos intrusos. É esta sensação de personalização que se perdeu nas grandes livrarias. Entra-se como no supermercado. Visitamos as secções que nos interessam e saímos. Não há lugar à afectividade ou ao exercício intelectual. A mim cansam-me tanto como os supermercados.

-pirata-vermelho- disse...

Vejo que percebes porque nunca entrei na FNAC.
(Nem entrarei...)