O objecto que
hoje apresentamos em cerâmica, muito leve, apresenta uma boca oval, com as dimensões de 15
x 10 com, excluindo a asa ou pega.
Como se designa e qual a sua utilidade?
O objecto que
hoje apresentamos em cerâmica, muito leve, apresenta uma boca oval, com as dimensões de 15
x 10 com, excluindo a asa ou pega.
Como se designa e qual a sua utilidade?
Confesso que nunca tinha visto
separadores de pratos feitos especialmente para esse fim. Em tecido branco, de
piqué de um lado e feltrado do outro, ou com belos tecidos coloridos, todos se
apresentam orlados. Mais frequentemente com fita de seda, por vezes com gorgorão,
ou mesmo com franja.
Hoje em dia as pessoas colocam,
de forma prática, folhas de rolos de papel de cozinha para separar os pratos que
se desejam empilhar. Funciona, mas não corresponde ao mesmo efeito protector.
Podem também encontrar-se, em raras lojas, protectores em feltro, mas não têm a
beleza destes exemplares.
Datados alguns do final do
século XIX e outros do início do século XX, são espelho de um requinte e
cuidado de protecção de pratos de qualidade.
Para mim, foi uma descoberta e um encantamento pelas coisas simples, cuidadas. Sempre a aprender!
Vai ter lugar em Lisboa, na Biblioteca Nacional, nos dias 26, 27 e 28 de Junho, o referido congresso internacional. Irei apresentar o tema “Marcas de água em manuscritos de culinária”.
É um tema importante que muito
esclarece sobre as obras conhecidas e que ajuda a adicionar muitas mais
informações do que o mero estudo das receitas. O seu estudo evita muitos dos
disparates que às vezes se dizem por aí.
Nas minhas publicações sobre
livros de receitas antigos procurei sempre completar o estudo com estas informações.
O resto do programa é muito interessante e pode ser consultado em: https://ahhp.es/xv-congreso-internacional-ahhp-programa-definitvo/
Tenho ao longo dos anos adquirido várias caixas com conjuntos de cozinha ou sala destinadas a brincadeiras de meninas, algumas já aqui apresentadas. São conjuntos fabricados em Portugal, na grande maioria de meados do século XX. São normalmente reproduções simples de objectos em uso na época.
Fiquei por isso surpreendida ao ver esta caixa com utensílios destinados à decoração de uma mesa, com tantos pormenores. O objecto em causa faz parte da colecção do Dr. Carmelo Aires que me permitiu fotografá-lo. Aparenta datar do início do século XX e pormenores, como o papel destinado ao menu e o guardanapo com a sua argola, tornam-no raro.
O uso do alumínio, que se generalizou no final do século XIX, e que ocupou um lugar importante na cozinha (utensílios vários) e na mesa (sobretudo em talheres), remetem-nos para essa época de deslumbramento pelo novo metal. Na tampa da caixa pode observar-se que se trata de um produto de fabricação francesa (C.B.G.), com múltiplos prémios ganhos em Exposições Universais, desde 1878 a 1900, a grande Exposição de Paris.Um presente de luxo na época.
À primeira vista parece um
cartão normal, com uma temática infantil, a Branca de Neve e os Sete Anões,
acentuado pela letra de menina que escreveu nele o nome da amiga (“para a Lúcia”).
Quando se abre percebe-se que é
uma carteira de agulhas especial. Para a menina, está visto, que devia aprender
a cozer e a bordar desde pequenina.
Ao abri-lo temos a surpresa de
visitar o interior da casa onde vive a Branca de Neve e os seus sete amigos. Completa:
com o quarto com as caminhas alinhadas, a cozinha com o grande forno e, em
relevo, a mesa onde todos se sentam para comer.
Nas costas, acentuando a infantilidade, dois gatinhos que brincam com novelos de lã.
É nestas alturas que regressamos à infância.
Este livro em péssimo estado, com lombada arrancada, folhas soltas, etc. suscitou-me várias sensações. Na realidade, só um livro de culinária se permite chegar a este estado. Provavelmente acarinhado no início, foi tantas vezes consultado que se desmoronou.
Dificilmente um romance sofre um estado de degradação semelhante, ainda que lido várias vezes. E se tal acontecesse seria descartado. Mas os livros de culinária estão habituados a tractos de polé. Consultados em ambiente hostil como é uma cozinha, próximos de alimentos, raramente escapam à aquisição de nódoas. Muitos chegam-me à mão bastante deteriorados, a necessitar de encadernação e transformam-se em belezas. Mas neste estado, acho que nunca vi.
Como a minha saúde não tem sido a melhor, olhei para ele e solidarizei-me com o seu estado. Este vai ficar assim. Fica na classe dos “atados” que ultimamente me têm chegado à mão: atados de receitas; atados de cartas, etc. Uma união espiritual de semelhantes. Já sei que vão pensar que não é o que se espera que se diga de um velho livro de receitas. São dias.
Fiquei entusiasmada com esta
ementa de um grupo, aparentemente fundado em 26 de Novembro de 1922, designado “Grupo
dos 15 amigos de S. Bento”. O jantar
realizou-se em 11 de Janeiro de 1925 e era o 8º jantar de confraternização,
pelo que posso supor que teria tido lugar duas vezes por ano.
Os promotores da iniciativa foram
João Alves e António Branco, mas infelizmente não consegui descobrir a que se
dedicava esta associação. A ementa apresentava uma fotografia de qualidade, provavelmente
relacionada com o grupo, onde se podia ver o antigo Arco de S. Bento.
Vejamos então o “Menu” que é
descrito de forma humorística com designações que nos remetem para o espírito bem-humorado
deste tipo de associações. Ficamos a conhecer a ordem da refeição mas no que
respeita à confecção é um mistério dadas as designações usadas.
O jantar teve lugar no Restaurant
Sport, em Sete Rios, em Lisboa. Esta designação à francesa, só começou a
divulgar-se em Lisboa depois de 1870, usando-se em vez disso a designação de “casa
de pasto”, enquanto o café era designado “botequim”. Ao consultarmos o Novo
Guia do Viajante em Lisboa, de 1872, escrito por Júlio Cesar Machado, no
que respeita aos hotéis, casas de pasto, botequins ou cafés, encontramos
referência a um total de 46 estabelecimentos, mas apenas três destes se
designavam “restaurant”.
Estávamos agora na década de
1920, e a designação à francesa mantinha-se. Infelizmente não consegui
encontrar qualquer informação sobre o estabelecimento, mas a designação remete-nos
para um gosto sobre o desporto que começava a despontar.
Uma pequena foto no cimo da
fotografia deixa-nos ainda a dúvida de quem se tratará. De um dos promotores?
Do fundador da associação dos 15 amigos?
Por aqui nos ficamos, pelo
menos por agora.
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Ementa desdobrável |
Este conjunto dos três
elementos certamente que pertenceu a algum admirador de Marylin Monroe, que não é difícil encontrar.
Trata-se de duas cartas de restaurante, de comidas e de bebidas e de um envelope
de cartas.
Provavelmente até nem era um
coleccionador de ementas mas não resistiu ao apelo da imagem desta estrela
luminosa. As cartas de restaurante são mais difíceis de adquirir que as ementas,
pelo que as que surgem são mais frequentemente roubadas.
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Carta de vinhos |
O restaurante em causa já não
existe há, pelo menos, 10 anos e sobre ele nada descobri. A sua história também não devia ir além do título. Situava-se no Hotel Holiday Inn junto ao
aeroporto de Paris-Orly.
A embalagem com papel de
carta, com a imagem velada da artista que se repete no interior do envelope, é
daquelas coisas que compramos, como acontece com algumas agendas e que achamos
bonitas demais para uso. Ficam intactas.
Nome
do Objecto: Suporte de facas de fruta
Marcas: apenas presentes na lâmina da faca.
Origem: adquirido no mercado português.
Grupo
a que pertence: equipamento culinário.
Objectos semelhantes: encontramos outras peças da época marcadas Meissen e com desenhos “blue onion”. Existem igualmente modelos em leque, em vez desta disposição circular.
Observações: Tipo de facas usadas no século XIX em vários países. Era considerada uma peça luxuosa. No século XVIII haviam já surgido facas de fruta, mas articuladas (tipo canivete), frequentemente com os cabos em marfim.
Não tendo sido atingida pela alegria carnavalesca, descobri hoje esta imagem de A Paródia de 1901, alusiva à época.
Na capa pode
ver-se a estação do Entroncamento onde se cruzam dois comboios. O da direita
com os foliões, que corresponde ao comboio da Carne, que partem. Chega o
comboio do Peixe que corresponde ao regime de abstinência, que se inicia na quarta
feira de cinzas, à noite. Da janela sai a imagem de um clérigo que impõe a
ordem.
Como tudo mudou em pouco mais de um século. Quem se lembra hoje destes antigos hábitos alimentares?
O Café Martinho
foi um dos locais frequentado por Rafael Bordalo Pinheiro, tal como descrevi
no meu último livro Rafael de Faca e Garfo.[1] Era
um local famoso onde se podiam encontrar várias figuras importantes da época, como
Almeida Garrett, Bulhão Pato, Júlio de Castilho, Camilo Castelo Branco, Júlio
César Machado, Guerra Junqueiro entre outros. Até Eça de Queirós, no livro A
Relíquia nos relatou a sua importância.
A mesma ideia
transmitiu também Rafael Bordalo Pinheiro, ao publicar em A Paródia de 5
Fevereiro de 1902 uma imagem de “Os três parlamentos” que eram, nem mais nem
menos que São Bento, São Carlos e o São Martinho, numa referência humorística à
influência das pessoas que se cruzavam nesses espaços.
Este café devia
o nome ao facto de ter sido fundado por Martinho Bartolomeu Rodrigues, em 1846.
Era considerado o mais importante café de Lisboa, situando-se no actual Largo
D. João da Câmara (antigo Largo Camões). Inicialmente tinha uma grande sala com
arcos, sendo as colunas revestidas com espelhos de Veneza.
Era conhecido
pelas torradinhas feitas com pão de Meleças, o chá verde com limão e a neve.
Bulhão Pato nas suas Memórias conta-nos que “as senhoras atravessavam
até à sala interior, para tomarem neve n’uma estufa!».
Esta neve era
proveniente de um depósito que o proprietário possuía, uma vez que era
contratador oficial de fornecimento de gelo, pelo menos desde 1829. Fornecia
também um outro local de comércio do mesmo proprietário, o Café da Arcada. Mais
tarde, mudaria o seu nome ficando conhecido pelo actual “Martinho da Arcada”, situado
numa esquina da Praça do Comércio.
Em 1905 entrou
em obras o que gerou controvérsia e críticas. Mas apesar disso as imagens de 1910 mostram
a sua beleza, ao gosto Art Nouveau.
![]() |
Arquivo fotográfico da CML: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/LSM/000820 |
Esta peça, que tive a sorte de adquirir há poucos dias, será da fase anterior ao período das obras. Trata-se de uma fruteira de pé, em porcelana branca com o nome deste café na taça e na base, onde se pode ler “Martinho” em dourado.
A marca na base Limoges. WG & Co, indica-nos que foi feita em França por Wilhelm Guérin (1838-1912), natural de uma local perto de Limoges, que começou por alugar uma oficina, em 1836, em Limoges, onde produzia peças para exportação.
Por volta
de 1872, Guérin assumiu a direcção da oficina de porcelana de Lebron & Cie
e, em 1877, comprou uma outra fábrica de porcelana na Rue du Petit-Tour,
igualmente em Limoges. A fábrica desenvolveu-se e, em 1903, os dois filhos de
Guérin, William e André, entraram empresa, de onde provém o “Co” da marca. Em
1911 esta empresa fundiu-se com a fábrica Pouyat, e tornou-se na Guérin &
Cie. Marcas na base
Assim sendo, e para abreviar a história, podemos concluir que esta peça faria parte do serviço em utilização no Café Martinho, tendo sido adquirida antes das obras. Segundo um pormenor da fotografia existente no Arquivo fotográfico após a remodelação um serviço idêntico continuava a ser usado, na sala de jantar.
Pormenor da fotografia com um prato com cartela idêntica
Pode ver-se um prato sobre a mesa em porcelana branca como o desenho e a palavra Martinho, idêntica à da fruteira aqui mostrada. Felizmente
esta escapou e foi parar a boas mãos.
Coincidências! Olhei para o cartaz dos Açores e chamou-me à atenção a Mulher do capote, numa das extremidades da Ilha Terceira. Com o seu traje tradicional, tingido de azul característico, transforma-se numa figura enigmática.
Nem de propósito. Há uma semana que ando a
lavar a garrafa com a mesma figura, onde o licor de maracujá, com vários anos, décadas
na verdade, secou e se transformou num líquido viscoso.
O dia está escuro e as fotografias ficaram
péssimas. Mas decidi associar as duas. Faz sentido!.
Já falei sobre esta tradição em 2019. Hoje repete-se o ciclo. Ver aqui:
https://garfadasonline.blogspot.com/2009/01/rom-e-o-dia-de-reis.html