terça-feira, 25 de outubro de 2022

As criadas

Esta publicidade, que não é fácil de interpretar tal o sentido humorístico da mesma, foi publicada na revista O Senhor Doutor, em 1937.

Na verdade esta revista é mais um jornal e foi publicada entre 1933 e 1944, isto é, em pleno Estado Novo. Sob a direcção de Carlos Ribeiro era um semanário para crianças e nele colaboraram muitos autores e ilustradores da época.

Neste caso o desenho é da autoria de Francisco Valença (1882-1962), um prolixo ilustrador e caricaturista português. Começou a sua actividade como director da revista O Chinelo, ao lado do humorista André Brun e participou depois em várias publicações como em O Gafanhoto, Ilustração Portuguesa, Diário de Notícias Ilustrado, O Comércio do Porto Ilustrado, e Sempre Fixe, entre outros.

Neste jornal O Senhor Doutor surge como um anúncio em que se mencionam as características de três tipos de criadas: a recém-chegada da província; a criada fina, lida e cinéfila, a mais cara e a e a criada fiel, confidente e fixe, a mais barata.

Na realidade esta criada para todo o serviço é um telefone, com o corpo esguio e o feitio usual na época, identificável por quem se lembra ainda destes modelos. E para se obter mais informações podiam-se pedir esclarecimentos à Companhia dos Telefones.

Já anteriormente falei na minha dificuldade em acompanhar o humor do século XIX. Neste caso devo dizer que, à primeira vista, pensei tratar-se de um verdadeiro anúncio a criadas, mas estranhei o endereço para dar informações. Isto leva-me a concluir que também a interpretação do humor início do século XX  nem sempre é fácil.

É isso que torna a História do quotidiano tão difícil. Temos que recuar no tempo e pensar como se estivéssemos no passado. 

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