domingo, 25 de julho de 2021

Tábuas do Tempo …

O nome completo do folheto é Tábuas do tempo necessário para digerir as comidas usuais, numa referência ao tempo de digestão dos vários alimentos.

Publicado pelo Instituto Pasteur de Lisboa (IPL), destinava-se, como se afirma na contra-capa, aos que “queriam regular racionalmente as suas refeições”.

O IPL foi fundado em 1895 por Virgínio Leitão Vieira dos Santos (1873-1946) ocupando inicialmente um modesto espaço na Praça Luís de Camões. Mudou, em 1903, para a Rua Nova do Almada onde se manteve até 1958. Nesse ano foram inauguradas as novas e modernas instalações do IPL na Avenida Marechal Gomes da Costa, num edifício construído para o efeito projectado pelo arquitecto Carlos Manuel de Oliveira Ramos e que lhe valeria o Prémio Valmor.

Numa fase inicial a empresa dedicou-se à importação de soros e vacinas, produzidas pelo Instituto Pasteur de Paris. Mas embora não datado, este folheto renete-nos para o período intermédio, na Rua Nova do Almada, já com um grande desenvolvimento e laboratórios em acção, com produção própria.

Num artigo dedicado a esta empresa, publicado na revista Panorama em Setembro de 1941, podia ler-se: “Merece, finalmente, destacada referência a Secção de propaganda que tem chamado a si a colaboração de alguns dos melhores artistas gráficos, decoradores e fotógrafos do País, para os arranjos dos interiores e das montras, a realização dos cartazes e, também, das maquetes das embalagens, cujo bom gosto contribuiu para gue centenas de milhares de portugueses e estrangeiros prefiram as especialidades desta importante e modelar organização industrial.”

É extensa a citação mas vem a propósito salientar o grafismo das embalagens de medicamentos produzidos e as campanhas publicitárias destinadas a pessoal da área da saúde e à população em geral.

Como podemos constatar no final do folheto está presente a rubrica de Fred Kaldolfer (1903-1968), pintor e importante artista gráfico que a partir de 1927, passa a trabalhar sob encomenda para o Instituto Pasteur.

Cada uma das folhas do folheto encontra-se quase totalmente ocupada por uma imagem alusiva, em que ao texto se adiciona o tempo necessário para realizar a digestão daquele alimento.

Mas se a beleza das imagens nos toca, chama-nos à atenção como na base deste conceito terá estado alguma obra estrangeira porque alguns dos alimentos referidos não eram à data consumidos ou, pelo menos, não estavam divulgados em Portugal.

Vejamos os casos das maçãs azedas cruas; da couve crua; do leite-creme no forno; das ostras cruas ou estufadas; dos ovos quentes; da cenoura branca ou do salmão salgado cozido. Nada que perturbe a compreensão do texto, ou a apreciação das imagens. Não serve é como base para a História da Alimentação em Portugal.

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