quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Betty Crocker, a escritora que nunca existiu

Imagem da autora na contracapa do livro Picture Cook Book
Ao pesquisar sobre a autora de um livro «Picture Cook Book» descobri que Betty Crocker nunca existiu na realidade.
A sua criação esteve a cargo de um publicista chamado Samuel Gale que, em 1921, publicou no jornal Saturday Evening Post um anúncio a um tipo de farinha da empresa Washburn-Crosby, criada no final do século XIX e mais tarde designada General Mills. Tratava-se de um puzzle que as pessoas completavam e enviavam para a empresa, a troco de um prémio que era uma almofada de alfinetes com a forma de um saco de farinha (Gold Medal Flour).
O sucesso foi extraordinário e a empresa recebeu mais de 30.000 respostas. Com elas vinham muitas perguntas sobre bolos e outros cozinhados. À época era evidente que as respostas tinham que ser dadas por uma mulher e o departamento de marketing, masculino, inventou a figura de Betty Crocker. 
Durante anos esta figura foi uma presença constante na imprensa e na rádio, tornando-se numa mãe orientadora em conselhos culinários em questões variadas postas pelas donas de casa.
Respondendo às suas perguntas Betty Croker deu confiança às suas leitoras que recebiam cartas assinadas e que em 1924 ganhou mesmo voz num programa de rádio onde eram dadas lições de culinária. A primeira pessoa a interpretar essa voz foi uma professora de Economia Doméstica chamada Marjorie Child Husted.
Em 1951, a empresa decidiu dar um rosto a essa voz e contratou uma artista chamada Adelaide Hawley para fazer de Betty na televisão.
Mas a cara de Betty já surgia impressa a partir de 1920 em vários anúncios. Até 1936 foi usada uma imagem que era um misto de pintura e de fotografia. Em 1955 a cara de Betty foi modificada e o mesmo aconteceu posteriormente por várias vezes. Em 1965 chegou a parecer-se com Jaqueline Kennedy, mas democratizou-se posteriormente.

O nome de Betty Crocker tornou-se tão familiar que, em 1945, a revista Fortune colocava-a em segundo lugar nas mulheres americanas mais populares, sendo a primeira Eleonor Rossevelt.
Em 1950 foi publicado o seu best seller «Picture Cook Book», de que aqui se apresenta a primeira edição. Ainda hoje se podem adquirir dezenas de livros publicados com o nome desta autora, que serviu igualmente para vender sopas e misturas em pó para bolos.
Em Portugal aconteceu o mesmo quando Maria de Lurdes Modesto, a trabalhar para a Fima-Lever, começou a assinar textos de culinária com o pseudónimo de Francine Dupré, numa campanha publicitária feita pela Lintas para a Margarina Vaqueiro e não é caso único.

Por aqui se conclui que a figura do escritor fantasma, que eu só descobri há alguns anos através de um filme, pode ter mais sucesso que um verdadeiro escritor. Que o digam as muitas figuras públicas que agora publicam livros com o seu nome, sem nunca terem escrito uma linha.

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