sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A propósito do ponto de Assis

O bordado em ponto de Assis foi muito usado durante o século XX em toalhas de mesa. É um ponto que nos é familiar e nunca me tinha interrogado se era um ponto português ou não. Na realidade não é. Como o nome indica é um ponto com origem na cidade italiana de Assis, bastante recente no que respeita a bordados, uma vez que data do início do século XX.
Foto tirada do Pinterest
O ponto de Assis consiste em contornar com linha preta os elementos que se querem evidenciar, leões, dragões ou outros, deixando o interior em branco. À sua volta é feito um bordado em ponto de cruz, numa única cor, geralmente vermelha, azul ou âmbar, o que que vai realçar o interior não bordado.
Este ponto baseia-se num outro o chamado ponto Holbein, precisamente porque está presente em muitas das pinturas de Hans Holbein o Jovem (c. 1497 - 1543).
Jane Seymour por Holbein
Foi um dos grandes retratistas do século XVI, tendo sido essa a função que exerceu na corte do rei inglês Henrique VIII, desde 1535. Holbein tinha um cuidado extremo com os pormenores e a representação do bordado presente nos trajes, tal como a das jóias ou outros aspectos é minuciosa.
Pormenores do retrato de Jane Seymour
Este tipo de bordado é feito com linha preta sobre tecido branco, com desenhos tipo arabesco e foi muito usado durante o século XVI no vestuário das classes mais abastadas. Podemos vê-lo nos punhos da rainha Jane Seymour (hoje no Museu Kunsthistorisches de Viena de Áustria), no peitilho de Henrique VIII e no colarinho de muitas blusas de pessoas pintadas por Holbein.
Henrique VIII pintado por Holbein. Note-se o peitilho bordado
O Holbein, por sua vez, faz parte do conjunto dos chamados “bordados a preto” e foi também conhecido como “ponto espanhol”, mas o seu uso é também tradicional na indumentária de alguns países nórdicos.
 
Thomas Godsalve e filho por Holbein. Veja-se o colarinho do filho.
Retrato de um homem com chapéu vermelho por Hans Holbein
Portanto da próxima vez que virem um quadro de Holbein os olhos vão dirigir-se para os bordados, que estavam lá “escondidos” e que o conjunto nos fazia não reparar nesses pequenos pormenores.
Margaret Roper por Holbein. Metropolitam Museum
O mesmo poderá acontecer se virmos uma toalha de mesa com bordado em ponto de Assis, situação que é hoje cada vez menos provável, nesta época em que o que se procura é ter pouco trabalho. 

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