domingo, 7 de abril de 2013

Um almoço de espargos e túberas

O meu amigo Afonso comprou na província um ramo de espargos selvagens e túberas e aproveitámos para fazer um almoço de regresso aos tempos antigos.

A minha mãe que era do Entroncamento adorava espargos selvagens e, nas poucas vezes que os conseguia arranjar fazia-os com ovos. Têm um gosto intenso, sobretudo se os compararmos com os de cultura, e fiquei sempre com um fascínio por este prato simples.
Quanto às túberas, também conhecidas por "trufas brancas" (embora sejam de outra família) ou criadilhas, são um fungo que cresce debaixo da terra e que pertence à família das Terfezias. Conheci-as pela primeira vez em 1977 em casa da Tia Anica, em Martim Longo, sobre quem um dia gostaria de falar. Relembrar o que se comeu há tantos anos atrás comprova a excelência daquelas refeições, feitas em plena Serra do Caldeirão, durante o Serviço Médico à Periferia.

Fiquei sempre com a ideia de que as túberas existiam apenas no Alentejo mas ao fazer uma pesquisa na internet descobri que afinal existem por todo o país e como não eram exploradas há muitos anos existem em abundância em vários locais. Daí os festivais de «criadilhas», como as designam nas Beiras, espalhados por várias terras, a que associam outros cogumelos.
Mas voltemos ao almoço que foi muito simples. Começámos pelos espargos que foram preparados cortando à mão as partes duras. Depois cortei a parte das cabeças e piquei os talos. Alourei em azeite e alho as cabeças que reservei. Alourei os talos picados e juntei os ovos mexidos a baixa temperatura. Foram servidos com as cabeças dos espargos por cima.
Quanto às túberas o principal problema tem a ver com a sua preparação. Apesar de dizerem que são mais saborosos com casca não vale a pena arriscar. Tem que ser bem esfregados por fora e depois descascados. Não é por acaso que a principal variedade se integra na família Terfezia Arenaria. Na realidade elas estão cheias de areia incrustada na pele e mesmo bem lavados com escova não se consegue tirar toda.
Há várias receitas e a opção por as comer com ovos é boa mas para não repetir optámos por fazer um risoto. Foram cortadas às rodelas e em seguida procedemos como para qualquer outro risoto.

O resultado foi um almoço vegetariano diferente, muito agradável. Um regresso a um tempo que não vivemos mas em que se aproveitavam produtos selvagens que a natureza oferecia. Para quem vive nas cidades só têm que descobrir onde os comprar. Estamos na época destes produtos. Aproveitem!

PS: As fotografias dos pratos inexplicavelmente perderam-se no computador. As apresentadas foram tiradas pelo Afonso Oliveira, a quem agradeço.

2 comentários:

Afonso disse...

Os espargos ficaram optimos mas segundo um amigo meu Alentejano deve-se dar um escaldão aos mesmos para tirar o amargo. Em relação às tubaras pensei que o gusto fosse mais forte tipo trufas. A melhor forma mesmo de as degustar é com ovos mexidos. Temos que revitalizar estes sabores antigos nem que seja uma vez por ano no tempo em que eles apareçem.

Ana Marques Pereira disse...

Afonso,
Em relação ao escaldar os espargos não concordo porque é essa acidez que os caracteriza e os diferencia dos outros espargos verdes de cultura, de gosto mais subtil.