terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Uma fatura do Palace Hotel da Matta do Bussaco

 
Uma simples papel, neste caso uma fatura do «Palace-Hotel da Matta do Busaco», pode fornecer imensas informações.

A fatura em nome de Domingos Pestana, antecessor de pessoa ligada à minha família, data de 23 de Setembro de 1911. Sob o título do hotel surge o nome de Paul Bergamin, a quem o estado português o havia entregue em concessão.
O Palace Hotel do Buçaco é uma edificação neomanuelina e foi  construído a partir de 1888, ano da aprovação do projecto de Luigi Manini (1848-1936) e em que colaborariam também Nicola Bigaglia, Manuel Norte Junior e José Alexandre Soares.
Uma outra fatura anterior deste hotel surge no livro do meu amigo Jorge Tavares da Silva intilulado «Bussaco. Palace Hotel». Datada de 1891 mostra que já então o hotel estava em funcionamento sob a responsabilidade de Paul Bergamin, mas designava-se então «Hotel da Matta do Bussaco».
Paul Bergamin, de origem suiça, teve um hotel em Pampilhosa, num chalet que foi construído em 1886, e que era conhecido como o “Chalet suiço” ou «Hotel Bergamin». Este hotel situava-se perto da estação de caminhos de ferro, cujo bufete também era explorado por Bergamin e que serviu, em 1906, para efectuar a escritura para a construção do Teatro Grémio de Instrução e Recreio de Pampilhosa, em terrenos oferecidos por Paul Bergamin, tendo contribuído para a sua construção vários industriais locais, como sócios mecenas.
De Bergamin diz-se que tinha a formação de cozinheiro chefe e pasteleiro, mas não há dúvidas de que a sua função à frente do Palace Hotel do Busaco era bem mais vasta.
Com ele trabalhavam Conrad Wissman (1859-1947) e um seu familiar R. Wissman, cujos nomes surgem também na fatura referida.
Conrad Wissmann, era de origem alemã e trouxe para Portugal os seus sobrinhos. Para além do nome já referido veio também Emília Wissmann (1884-1979), que conheceu Afonso Rodrigues Costa (1875-1947) que trabalhava no Palace com quem veio a casar. Emília foi responsãvel pela criação de doçaria, entre as quais um pastel folhado recheado de doces de ovos moles, que presentemente foi recriado pela Confraria do Leitão da Bairrada e designado “Amores da Curia”, sendo apresentado em forma de coração, para justificar o nome.
Também Conrad Wissman é referido como cozinheiro-pasteleiro no Palace do Buçaco, mas do mesmo modo o seu papel foi muito maior. Em 1907, Conrad Wissmann e o casal Emília Wissmann e Afonso Rodrigues Costa, arrendaram a Villa Figueiredo, na Curia, que se iria converter no Grande Hotel da Curia. No parque das termas Emília Wissmann abriu a Pastelaria Bijou onde vendia os doces que confeccionava para o seu hotel e para o Palace da Curia, entre os quais o já referido.

Conrad Wissmann foi membro honorário da Sociedade de Propaganda de Portugal[1], proprietário do Hotel Central de Lisboa e do Hotel da Curia, gerente deste hotel, onde era coadjuvado por seus sobrinhos, também hoteleiros no Grande Hotel do Bussaco e também proprietário do Grande Hotel Avenida, em Vila do Conde.
Em 1911 quando decorreu o Congresso de Turismo em Portugal Conrad Wissmann era diretor do Hotel Central em Lisboa e vemos o seu nome surgir também no Palace Hotel do Bussaco.
Em 1916 Paul Bergamin convidou Alexandre Almeida para a gestão do Palace Hotel do Bussaco. Em 1922 assinou um contrato de trespasse iniciando remodelações no hotel que iriam durar até 1936 e que tornariam o hotel no que é hoje.
Aqui ficam as achegas à história deste hotel, onde entram muitos cozinheiros- pasteleiros em funções distintas das suas. Numa época de início de desenvolvimento do turismo em Portugal, tiveram um papel activo na hotelaria nacional.
Se também fizeram doces, não foi isso que lhes deu notoriedade. Nesse campo apenas Emília Wissmann deixou um doce com tradição.



[1]Primeira estrutura de incentivo ao turismo em Portugal.

10 comentários:

-pirata-vermelho- disse...

À Bijou ia eu lanchar com a minha tia Craveira(nome posto pela irmã, minh'avó e usado à boca pequena, sabe-se lá porquê...)
em Studebaker cabriolet, beije, com capota de lona, lindíssimo e que deveria ter sido armazenado para ficar para mim agora.
Ainda lá vou de vez em quandfo mas
de há uns anos para cá quebrou-se o encanto (devo estar a ficar velho...)

Queres ir lá um dia destes?

-pirata-vermelho- disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manuel Tomaz disse...

Talvez devido à minha idade, tenho algum gôsto por coisas antigas. O seu post de hoje, deu-me imenso prazer ao situar-me no longínquo ano de 1911. Como tudo era diferente!

Ana Marques Pereira disse...

Pirata Vermelho,
Aceito o teu convite, mas só se for de Studebaker cabriolet.
Um bj

Ana Marques Pereira disse...

Manuel Tomaz,
Fico feliz por o levar numa viagem ao passado.
Cumprimentos

-pirata-vermelho- disse...

Foi-se!
Temos que ir no meu comum carrito.

Há uma coisa que não consegui ainda perceber e que agora, aqui, se apresenta de novo com acutilância
- o que é que me faria acentuar em 'á' o 'a' exdrúxulo da palavra 'fatura', de modo a não dizer naturalmente 'fâtura'?
É a mesma situação descrita naquela anedota do actor maricônsio que ficou muito feliz por ter uma plateia cheia de espetadores...
mas aqui não é brejeirice, é título.

Explica lá, se fores capaz.

______________________________
(Quanto a lancharecos em carro comum, quem diz Bijou-Estoril diz Bijou-Santarém que também não será indiferente aos dois)
______________________

Ana Marques Pereira disse...

Pirata Vermelho,
Este poste começou com a palavra «factura». Mudei-a depois para «fatura». Este processo de indecisão repetiu-se, mais 2 vezes até que decidi fazer esta concessão ao novo acordo, a pensar que no futuro ninguém vai procurar por uma «factura».

-pirata-vermelho- disse...

Sedência, não conceção.

Qual acordo?

Rogério Maciel disse...

Uma ...??!!..."fatura" ??!! O que é uma ..."fatura" ??!!

Ana Marques Pereira disse...

Rogério Maciel,
Já respondi anteriormente.Também não concordo com a maior parte deste novo acordo ortográfico. Contudo já publiquei dois livros com a nova linguagem. Nos meus escritos, incluindo o blogue, continuo a escrever à antiga. Esta foi uma excepção. Mas dá para perceber, não dá? E não é seguramente o importante aqui. Cumprimentos.