domingo, 16 de setembro de 2012

A vendedeira de mexilhão

 
Quando na última semana comprei no Mercado da Ribeira mexilhão para cozinhar lembrei-me da imagem da preta vendedeira de mexilhão.
Foi uma das extintas profissões de Lisboa. Os negros escravos trazidos para Portugal começaram, pelo menos a partir do século XVI, a exercer a venda de comestíveis pela cidade de Lisboa.
Em 1620 quando foi publicado o Livro da Grandezas de Lisboa, da autoria de Frei Nicolau de Oliveira, este quantificou em mais de 200 o número de «negras que vendem pela cidade toda a sorte de marisco de concha e legumes cozidos.»
Preta que vende pelos logares de Lisboa Mexilhão
Macphail  Lith de M.L. da Cta. R.N. dos Mtes. [c.1842]

Temos que imaginar que as condições das cozinhas da população em geral não permitiam que nelas fossem efectuados grandes cozinhados. Daí a profusão de vendedores ambulantes que percorriam a cidade logo pela manhã. A fava rica, o grão de bico, o cus-cuz, o arroz doce, o mexilhão, o berbigão e outros pratos já cozinhados facilitavam a vida dos habitantes. Até ao final do século XIX continuou esta actividade representada em litografias da época.
A venda de vários elementos úteis no domicílio e a de produtos alimentares não cozinhados como o peixe e as galinhas faziam igualmente parte destas actividades e essas mantiveram-se até meados do século XX.
Álbum de Costumes Portuguezes - 1888
As vendedeiras de mexilhão cozinhado com azeite, alho, cebola e colorau, punham um tacho dentro de uma celha de madeira ou de uma cesta de palha que cobriam com um pano branco e colocavam-no à cabeça. Pelas ruas gritavam: «Éérri éérre, mexilhão! pró petisco do patrão!», os clientes afluíam e o almoço ficava garantido.

4 comentários:

Quélih disse...

Adoro estas tradições, profissões antigas, roupas antigas... :)

Ana Marques Pereira disse...

Quélih,
Voltarei a este tema com outras profissões.

Mário Berberan Santos disse...

O RR do pregão refere-se, certamente, à regra do consumo apenas nos meses com R, com origem em édito na França do séc. XVIII, ao que parece, para impedir intoxicações com ostras estragadas pelo calor.

Ana Marques Pereira disse...

Mario Berberan,
É engraçado que apesar de conhecer a preferência de consumo nos meses com R, não tinha percebido a ligação desta ideia com o pregão. Obrigada.