
A palavra “sopeira” é uma das provas de que a língua não é estática.
Utilizada inicialmente com o sentido de vaso para conter e servir a sopa na mesa, apresentava uma forma circular, de fundo arredondado e tinha sempre tampa. Era usada frequentemente com um prato inferior. Parece ter só surgido no século XVIII. O seu predecessor, a terrina, apresentava uma forma oval ou rectangular e, apesar de anterior, também apenas no século XVIII passou a ser exposta sobre a mesa.

Mas voltemos à “sopa” que, no seu sentido inicial, era um prato de legumes fervidos, espessado com pão, e daí o nome. Falta-nos em português o termo que em França, na Idade Média, correspondia à “potage” e que se referia aos alimentos que eram cozidos num pote.

Tudo o que diz respeito à sopa pode, nalgumas regiões, em especial em Trás-os-Montes, tomar a expressão de "sopeiro". Por exemplo aplica-se a prato sopeiro, para indicar que serve para a sopa, a colher sopeira ou mesmo a panela sopeira.
Com o tempo passou a aplicar-se às pessoas que faziam a sopa, que passaram a ser designadas por sopeiras. Embora a expressão sopeira se utilizasse sobretudo para as cozinheiras, isto é, as que faziam a sopa, foi também usada para as criadas que exerciam outras funções domésticas.

Esta designação foi muito usada no finais do século XIX e na primeira metade do século XX, passando depois a ser substituída por criadas ou cozinheiras consoante as funções exercidas.

A expressão sopeira foi caindo em desuso, em especial após o 25 de Abril, altura em que passou a ser considerada pejorativa. Embora por vezes chamadas carinhosamente «sopeirinhas», passaram a chamar-se “criadas” e posteriormente “empregadas domésticas”. A função era a mesma, embora mais simplificada com a chegada dos electrodomésticos, mas a designação tinha deixado de ser adequada.

A imagem de sopeira surgia sempre associada à do “magala”, com quem frequentemente namorava. É uma dessas fotos que faz a contracapa da revista agora apresentada -

As fotos que utilizei foram publicadas no «Notícias Ilustrado» de 3 de Agosto de 1930 e são atribuídas a Batista. O texto intitulava-se «As sopeiras da Capital». Nele se exaltavam as novas sopeiras, mais modernas e alegres quando comparadas com a figura de Juliana retratada por Eça de Queirós, no «Primo Basílio», publicado em 1878.
São imagens de uma Lisboa mais provinciana, mais calma e simples, que fica apenas a 80 anos de distância de nós.