domingo, 28 de setembro de 2025

Uma delícia chamada Dióspiro

  

Estamos na época do Dióspiro (Diospyrus kaki), um fruto que me dá muitos prazeres outonais, quando aparece bem gelatinoso e sumarento, ao amadurecer. Presentemente os supermercados privilegiam as variedades de roer, mais duras, que se conservam melhor, mas completamente sem graça. Não sei nada de variedades, mas reconheço-os à distância. Estas dividem-se em função da adstringência. A sensação adstringente deve-se à presença de taninos, sobretudo quando a fruta ainda não está madura. Estes têm um alto valor antioxidante, sendo, portanto, saudáveis por proteger de doenças cardiovasculares e oncológicas. 

As “adstringentes”, como a Kaki (Diospyrus kaki), a Coroa de Rei e Roxo Brilhante, são as mais comuns, mas precisam de uma maturação adequada antes de serem consumidas. Quanto às “não adstringentes”, como Fuyo, Hana Fuyo, O Gosho, Giro, Cal-Fuyo, Fau-fau e Sharon, podem ser consumidas logo após a colheita.

O género Diospyrus é originário do continente asiático, da China, mas o seu cultivo iniciou-se simultaneamente também no Japão e na Coreia, nos finais do século VIII. Hoje são ainda os grandes exportadores, mas em Portugal a sua produção foi, até há alguns anos esporádica em quintas e quintais.  Lembro-me de na minha infância, quando ia para a escola, passar por uma casa, que tinha no quintal um grande diospireiro, de que eu ia acompanhando o amadurecimento com os olhos.

Além de saboroso é muito saudável por extremamente rico em vitamina A, em carotenos, em flavonóides, em Vitamina C, em Cálcio, em Potássio, etc. e sobretudo é muito rico em fibras solúveis. Não preciso de o defender mais, porque é sobretudo muito saboroso quando escolhido na variedade certa, a chinesa variedade Kaki é uma boa opção, bem maduro, de preferência já rebentados. Receitas não são precisas. É só lavar, abrir e servir polvilhado de canela.

Apressem-se, o seu período é o Outono. Bom proveito!.

 

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Zé Povinho em debate. Convite

 

Uma outra visão do genial Rafael Bordalo Pinheiro e de uma das suas criações que chegou até aos dias e hoje, o Zé Povinho, sempre actual. 

Dia 27 de Setembro nas Caldas da Rainha. Se estiverem por perto, não percam. 

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Uma caixa com surpresa

 

A caixa, em si, apresenta uma beleza sóbria. Com embutidos de madrepérola e pequenas argolas de suporte, foi forrada com um veludo arroxeado.  Não sei a que se destinava, mas o facto de ter fechadura faz supor poder ter contido objectos de valor, material ou sentimental.

Há dias, ao pegar na caixa, uma placa existente na tampa superior caiu. Lá dentro, colado à madeira encontrava-se uma fotografia de uma figura feminina, tapada por uma folha de papel vegetal muito amarelecida. A caixa foi, entretanto, restaurada e a folha substituída.

Quando a retirei pude ler uma mensagem, em francês, escrita para mim. Passo a explicar. Esta dizia: “Aquele ou aquela que um dia possa descobrir esta fotografia, saiba que estes traços cheios de charme são os de uma grande, admirável e bela trágica francesa Madame Vera Sergine, nascida 15 de Abril de 1884 em Paris. O seu verdadeiro nome é “Marie Roche” e é casada com “Pierre Renoir”, actor, filho do grande pintor Renoir”.  

E do lado esquerdo a autora desta informação, com grande probabilidade a Condessa Josselyn Costa de Beauregard (1897-1972), acrescentava: “Ela é boa, inteligente, grande artista e bela. Escrito em 1924”. 

O nome verdadeiro da artista Vera Sergine (1884 – 1946), era Marie Marguerite Aimée Roche. Foi casada com um outro actor de teatro e de cinema francês, famoso na época, Pierre Renoir (1885 -1952) foi um actor. Este, tal como vimos, era filho do pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir e irmão mais velho do director de cinema Jean Renoir. Eu que admiro este cineasta e tenho como um dos meus preferidos o seu filme Boudou sauvé des eaux, de 1932, fiquei feliz. Vera Sergine foi também mãe do cineasta Claude Renoir, mostrando que na família corria sangue artístico.

A década de 1920 foi também de grande moda dos cocktails e o livro  “Cocktails de Paris”, publicado em 1929, inclui várias receitas com nomes de artistas do teatro e do cinema mudo francês de então. Entre esses cocktails surgia um dedicado a Vera Sergine. Chamado Boulouris era uma variação da tradicional gemada com Vinho do Porto, que incluía também conhaque e Cordial-Médoc, tornado-o mais alcoólico. O nome remetia para a praia de Boulouris, em Saint-Raphaël, no sudeste de França), onde Véra e o seu marido, Pierre, possuíam uma casa, a Villa Argentina.

(E finalmente lá consegui eu puxar a brasa para a minha sardinha, isto é, para o Garfadas).