Uma das maiores dificuldades no que respeita os trabalhos de rendas e bordados é atribuir-lhes uma autoria. Mesmo as rendeiras e bordadeiras de fama nada lhes garante o reconhecimento do seu trabalho, excepto por quem adquiriu directamente a peça, informação que com o tempo se vai perder. Com algumas pequenas excepções, nem as heranças permitem saber por quem foi feita aquela toalha que veio de casa das nossas mães ou tias. Eu própria tenho dificuldade me lembrar-me dos pequenos trabalhos que fiz durante a infância e adolescência.
Illustração Portuguesa 1910 |
A luva cinzenta. Pintura de Mª Augusta por Columbano. MNAC. Museu do Chiado. |
A perfeição da obra faz-me acreditar que teria sido a própria Maria Augusta Prostes Bordalo Pinheiro (1841 - 1915) que a teria feito. Maria Augusta ficou conhecida pela sua actividade dinamizadora no sector das rendas de bilros, mas dizer isso é ser demasiado redutor da actividade de uma mulher tal envolvida no campo das artes. Dissemos já que dava aulas de pintura e sabemos que foi autora de várias pinturas em que destacamos o tecto da sala de jantar do Palácio do Beau Séjour, onde trabalhou em colaboração com os seus irmãos Rafael e Columbano. Mas pintou também cerâmica, tendo deixado algumas obras, presentemente em Museus.
Prato pintado por Mª Augusta BP. Museu Bordalo Pinheiro. |
A sua actividade em Peniche,
onde criou uma escola que se dedicava exclusivamente ao ensino feminino das
rendas de bilros da região, levou à recuperação de modelos antigos e à
elaboração de novos desenhos. Apoiando-se nos conhecimentos de uma rendilheira
da terra, aprendeu a arte deste tipo de renda de bilros e desenvolveu-a a um
nível de maior erudição. Rodeou-se das melhores artífices da terra e após dois
anos à frente deste projecto, deixou um caminho aberto e voltou a Lisboa.
Piques. Foto de Ana Montez para o livro Vestir a Mesa
O reconhecimento do seu trabalho levou a que a 1 de Setembro de 1887, fosse nomeada a primeira professora de desenho industrial da escola Rainha D. Maria Pia. Abriu posteriormente em Lisboa, na Rua das Taipas, um atelier, que era visitado pela rainha D. Amélia, que depois mudou para a Rua António Maria Cardoso. Os seus trabalhos foram apresentados em múltiplas exposições nacionais e internacionais tendo sido galardoados com prémios.
Lenço com renda da autoria de Mª Augusta BP. Museu do Chiado. MNAC.
Cincinato da Costa, autor do
Catálogo da Secção Portuguesa, de 1908, na Exposição Nacional do Rio de
Janeiro, fez a seguinte afirmação: "As rendas da Sra. D. Maria Augusta
Bordalo Pinheiro têm já hoje celebridade no país e no estrangeiro nas
Exposições de Paris em 1900, e de S. Luís (Mo.), em 1904, na América do Norte,
os seus trabalhos foram justamente reputados como dos melhores no género”[1].
Mas também os seus trabalhos
na área dos bordados eram reputados e a ela se atribui o bordado de um leão num
reposteiro para o Restaurante Leão de Ouro, em Lisboa. Nele se reuniam os
intelectuais e artistas do «Grupo do Leão» de que fazia parte o seu irmão Columbano
que o imortalizou numa pintura a óleo com o mesmo nome.Pormenor da toalha
Sem provas da afirmação
escrita em título, fica-me a esperança de que a atribuição seja verosímil. A perfeição e a beleza do bordado esses são inegáveis.
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[1] Pereira, Ana Marques, Vestir a Mesa/Dressing the Table, 2018.
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