sexta-feira, 30 de julho de 2021
Restaurante Aubette. A propósito de uma Ementa
domingo, 25 de julho de 2021
Tábuas do Tempo …
O nome completo do folheto é Tábuas do tempo necessário para digerir as comidas usuais, numa referência ao tempo de digestão dos vários alimentos.
Publicado pelo Instituto Pasteur de Lisboa (IPL),
destinava-se, como se afirma na contra-capa, aos que “queriam regular racionalmente as suas refeições”.
O IPL foi fundado em 1895 por
Virgínio Leitão Vieira dos Santos (1873-1946) ocupando inicialmente um modesto
espaço na Praça Luís de Camões. Mudou, em 1903, para a Rua Nova do Almada onde
se manteve até 1958. Nesse ano foram inauguradas as novas e modernas instalações
do IPL na Avenida Marechal Gomes da Costa, num edifício construído para o
efeito projectado pelo arquitecto Carlos Manuel de Oliveira Ramos e que lhe
valeria o Prémio Valmor.
Numa fase inicial a empresa
dedicou-se à importação de soros e vacinas, produzidas pelo Instituto Pasteur
de Paris. Mas embora não datado, este folheto renete-nos para o período
intermédio, na Rua Nova do Almada, já com um grande desenvolvimento e
laboratórios em acção, com produção própria.
Num artigo dedicado a esta
empresa, publicado na revista Panorama
em Setembro de 1941, podia ler-se: “Merece, finalmente, destacada referência a Secção
de propaganda que tem chamado a si a colaboração de alguns dos melhores
artistas gráficos, decoradores e fotógrafos do País, para os arranjos dos
interiores e das montras, a realização dos cartazes e, também, das maquetes das
embalagens, cujo bom gosto contribuiu para gue centenas de milhares de
portugueses e estrangeiros prefiram as especialidades desta importante e
modelar organização industrial.”
É extensa a citação mas vem a
propósito salientar o grafismo das embalagens de medicamentos produzidos e as
campanhas publicitárias destinadas a pessoal da área da saúde e à população em
geral.
Como podemos constatar no
final do folheto está presente a rubrica de Fred Kaldolfer (1903-1968), pintor
e importante artista gráfico que a partir de 1927, passa a trabalhar sob
encomenda para o Instituto Pasteur.
Cada uma das folhas do folheto
encontra-se quase totalmente ocupada por uma imagem alusiva, em que ao texto se
adiciona o tempo necessário para realizar a digestão daquele alimento.
Mas se a beleza das imagens
nos toca, chama-nos à atenção como na base deste conceito terá estado alguma obra
estrangeira porque alguns dos alimentos referidos não eram à data consumidos ou,
pelo menos, não estavam divulgados em Portugal.
Vejamos os casos das maçãs
azedas cruas; da couve crua; do leite-creme no forno; das ostras cruas ou
estufadas; dos ovos quentes; da cenoura branca ou do salmão salgado cozido. Nada que perturbe a
compreensão do texto, ou a apreciação das imagens. Não serve é como base para a
História da Alimentação em Portugal.
terça-feira, 20 de julho de 2021
Picasso minha alma gémea
Faço minhas as suas palavras. Nunca uma frase me fez sentir tão identificada.
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Nota: Cartazes publicitários espalhados por Lisboa a propósito da EMUA – Ephemeral Museum of Urban Art, que teve início no dia 5 de Maio e estará até 25 de Julho na Lx Factory, em Lisboa.
sexta-feira, 9 de julho de 2021
Memórias esquecidas: o duplicador
O meu pai havia-me ensinado a importância de resumir os textos e foi o que eu fiz a História. Escrevi uma pequena História, baseada no compêndio de leitura obrigatória do Matoso. Os meus colegas de turma quiseram ter acesso a ele, mas então não havia ainda fotocópias. Acontece que num dos empregos do meu pai existia uma máquina duplicadora. Lembro-me que tinha uma tina com um líquido de onde saía uma folha idêntica ao original, mais grossa e brilhante. Fiz umas cópias destinadas a venda aos meus colegas. Distribui-as pelos interessados que deviam pagar-me uma insignificância, para compensar o preço das folhas. Mas isso nunca aconteceu.
Foi o meu primeiro negócio e logo ali devia ter percebido que não tinha jeito para ganhar dinheiro. Ao longo da vida viria a confirmar isso.
Mas esta história não serve para me queixar, mas para descrever uma memória perdida do tempo em que surgiram as primeiras máquinas duplicadoras. Um objecto que já quase ninguém recorda. Como a modernidade é efémera.
quinta-feira, 1 de julho de 2021
Uma ementa de origem improvável
Agradeço ao meu amigo Pedro a oferta desta ementa que me atraiu logo pelo grafismo, mas que me surpreendeu pela proveniência.
Não se pode saber como chegou a Lisboa esta ementa de 1944, desenhada à mão, desdobrável (tipo pop-up), feita pacientemente em Moçambique na Missão da Imaculada Conceição de Amatongas.
Ementa montada |
Falemos primeiro nesta missão,
inaugurada em 1914, e dirigida por padres franciscanos. Nela se ministrou o ensino
primário, para além de vários ofícios. Mas especial relevância teve o ensino
agrícola que foi subsidiado pela Companhia de Moçambique. De tal modo que nos
anos 20 foi chamada Escola agrícola de
Amatongas. Em 1930 deu origem à missão de vila Pery.
Casa da Missão de Amatongas.ANTT |
Igreja. Padre e alunos. ANTT |
Alunos da Missão de Amatongas 1925. ANTT. |
Vejamos então a Ementa:
Começava com “Canja à Musungo”
que, em linguagem bantu significa homem branco, o que nos faz algum sentido.
Seguia-se “Peixe frito com salada”; depois “Costeletas de galinha à portuguesa”
e por fim “Bifes de Mpala-mpala à africana”, que presumo fosse impala. A
terminar a refeição “Creme – Pudim”; queijo e frutos colhidos na Missão.
Maquete geral apresentada na Exposição Colonial de Paris em 1931. ANTT |
Sobre a pecuária o mesmo padre
dizia que a maior influência sobre a economia indígena fora a criação de
galináceos. Embora entre os indígenas ainda se encontrasse a pequena galinha
cafre, muitos levaram exemplares mais apurados da Missão.
Que a Missão era pródiga
nestes animais não há dúvidas, a avaliar pela ementa!.
Bibliografia:
-
Missões franciscanas portuguesas, 1898-1949: no seu cinquentenário. Director
P. E José Alves Pereira. Braga: Missões Franciscanas. Número 62. Junho-Setembro
de 1948.
- Blog Delagoabayworld -
https://delagoabayworld.files.wordpress.co