quarta-feira, 28 de junho de 2017

Cozinha Saborosa e Prática

 
1956
Há livros que passam despercebidos e não são seguramente os piores. Todas as semanas leio o top 5 do jornal Expresso e não paro de me espantar com os títulos. Publica-se muito e lê-se pouco em Portugal de que resulta muitas obras ficarem desconhecidas, ao passo que outras, menos merecedoras de atenção, são amplamente divulgadas.
1944
Tenho este livro «Cozinha saborosa e Prática» há vários anos e não fosse a beleza da capa não lhe tinha dado importância. Foi publicado em 1956 pela Portugália Editora na sua fase inicial e encontrei novas publicações em 1957 e 58. No início da década de 1960 esta editora tinha escritórios na Avenida da Liberdade, tendo publicado sobretudo nas décadas de 1960 e 1970. 
1956
Nos anos 60 era dirigida por Mário Henriques Leiria e as capas dos livros eram desenhadas pelo João Câmara Leme. A capa deste livro não está assinada mas é provável que seja da sua autoria. Nela se apresenta, em posição central, uma dona de casa a bater um bolo manualmente, tendo à sua frente vários utensílios de cozinha de formas modernas.
1957
O autor desta obra é J. Jamar de nacionalidade espanhola, que publicou vários títulos na área da culinária com receitas muito práticas, dedicadas a donas de casa e sobre o qual nada consegui descobrir. A primeira edição deste livro saiu em Madrid, em 1944, e apresentava 770 receitas. A boa aceitação deste livro fê-lo aumentar o número de receitas que, na edição portuguesa traduzida por Maria Ponce, era de 1100 receitas. 

1958
Em Espanha continuou a ser editado e em 1978 ia já na 19ª edição. Em 1956 publicou Cocina con la olla a presión y batidora eléctrica; em 1964 La cocina internacional; em 1965 La cocina rápida e  em 1961 Menús familiares y de invitados, muitos deles reeditados várias vezes.
1961
Em Portugal, deste autor parece ter sido apenas publicado este título que no jornal República de 18 de Abril de 1956 o anunciava como «um novo livro sobre a agradável arte de bem comer… pelo especialista espanhol J. Jamar… indispensável às boas donas de casa». 
1963
No seu interior podemos encontrar um extenso número de receitas agrupadas por temas, como «cozidos e sopas», «sopas secas», «molhos», «ovos», «peixes», receitas de carne divididas por tipo de animal, «acepipes», «aperitivos quentes» e «doçaria», entre outras, todas de excelente qualidade.
1964
O título era apelativo (que mais se pode desejar do que uma cozinha saborosa e prática) pelo que variantes do mesmo surgiram mais tarde como: «Cozinha rápida e saborosa com microondas Sharp», publicado em 1993 por Maria Helena Gomes ou, ainda mais ambicioso, «Cozinha essencial: saborosa, divertida, rápida, inteligente e com estilo...» da autoria de Sabine Sälzer e  Sebastian Dickhaut, publicado em 2003.
 
1970

1971
Mostramos igualmente imagens das edições espanholas da época, que são também interessantes, pelo que se quiséssemos tirar uma conclusão sobre este texto seria mesmo sobre a importância das capas dos livros como forma de nos atrair para o seu interior.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

O cardo nos Santos Populares

O uso do cardo, ou alcachofra brava, foi uma das práticas que mais se perdeu nos Santos Populares. A tradição dizia que se devia queimar na fogueira a parte florida do cardo que posteriormente era colocado num vaso. Quando este floria novamente era sinal de que o amor era correspondido, provocando uma alegria serena e antevendo na imaginação da jovem a possibilidade de um casamento futuro. 


Nesta capa do livro «Poeira das Cantigas» de 1939, escrito por José Castelo e ilustrado por Mário Costa (1902-1975) representam-se as festas populares com danças à volta da fogueira e, em primeiro plano, o vaso com o manjerico onde desponta o cravo e o cardo.
Hoje resta-nos o manjerico com os cravos com quadras de amor!

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Dos rebuçados brancos

Ontem no final do almoço trouxeram no prato a conta e alguns rebuçados brancos envoltos em celofane encarnado. Era uma gentileza habitual nalguns restaurantes, mas foi desaparecendo e agora só se encontra na província.
Estes tinham escrito no papel «Bolas de neve» Nazaré e o dono do restaurante disse-me que devido ao aumento do imposto sobre o açúcar ia deixar de os oferecer. Mostrou-me uns outros, igualmente envoltos em papel idêntico, mas sem qualquer impressão.
Não aprecio especialmente rebuçados mas quando ouço falar em desaparecimento ficou logo em estado de alerta. Lembrava-me de uns rebuçados semelhantes mas que eram de côco e em forma de bola e que penso também já desapareceram.
Quando comecei a pesquisar descobri que imensas pessoas tinham nostalgia destes rebuçados e associavam-nos à infância. Seguramente pessoas muito jovens porque, como vim a descobrir, a sua produção é muito recente em Portugal.
As chamadas «Bolas de neve» são produzidas pela empresa Nazaré, de J. Diniz e Filho, uma fábrica fundada em 1955 em Afife, Viana do Castelo. O pedido de registo desta marca foi feito em Agosto de 2001, mas viram-se envolvidos na oposição do uso da marca por uma outra empresa até 2006, tendo perdido o processo.
A outra empresa era a Vieira de Castro, que teve o seu início em Famalicão em 1943 e que registou um produto semelhante, os «Flocos de neve», em 1991. Com uma produção variada de produtos alimentares, inicialmente mais ligados à confeitaria e posteriormente ao fabrico de bolachas, apresenta hoje um leque variado de produtos que passa pelas amêndoas cobertas e pelos rebuçados. Dentro destes os «Flocos de neve» têm um papel de destaque pelo volume de vendas.
Descobri depois que também o Continente vende uns rebuçados semelhantes chamados «Lágrimas de neve», possivelmente os tais sem letras no papel de que falei anteriormente. No meio das informações surgiram ainda uns rebuçados deste tipo, chamados «Flocos de nieve» Diana e que seriam produzidos em Espanha.
Não me foi possível descobrir o raciocínio por detrás da criação destes rebuçados que, em comum, têm a brancura do produto que o liga à neve e o invólucro transparente encarnado que devia remeter para o Natal, numa época em que ainda se associavam os doces às festas. Mas para haver tanta competição entre os vários rebuçados é porque se trata de um produto de sucesso. 

segunda-feira, 12 de junho de 2017

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Licores de Portugal na Mercearia Santana

A Mercearia Santana, da família Montez, fica situada no centro antigo de Sacavém. O local de comércio e a habitação foram transformados em museu pela equipe do Museu de Sacavém que dinamiza o projecto cultural.
Sobre o espaço em si falarei noutra oportunidade, com maior pormenor.
Hoje quero convidar as pessoas interessadas para estarem presentes amanhã à tarde, dia 10 de junho, para me ouvirem falar sobre licores e degustarem o Arrobe de Arinto, uma cortesia da Master Flavours of Portugal.

O programa cultural pode ser consultado neste link.

Apareçam e aproveitem para visitar o local. São três em um!