Primeiro apareceu-me uma
publicidade enorme, às águas referidas, num jornal “O Distrito de Portalegre”, num
número festivo, de 1912. Logo no dia seguinte surge
um postal com publicidade às mesmas.
Confesso que embora já possa
ter visto alguma publicidade não me diziam nada. Tinha que as pesquisar. E,
surpresa, como elas estavam aqui tão perto.
As águas do Mouchão da Póvoa, situavam-se
no concelho de Vila Franca de Xira e foram concessionadas à Sociedade do
Mouchão da Póvoa por alvará de 1 de Novembro de 1910. Mas primeiro há que
explicar que os mouchões são as ilhotas do Tejo e que esta, concretamente, era
a maior. Era um local importante com terrenos agrícolas férteis e ancoradouro para
muitas aves aquáticas invernantes.
Em Abril de 2016, deu-se o rompimento
de um dique no Mouchão da Póvoa. Várias tentativas de entidades diversificadas
e até mesmo os próprios pescadores tentaram resolver o problema. Em vão. O
terreno era privado e nada foi feito. Adélia Gominho, autarca em Vila Franca de Xira,
entre outros, chamou à atenção para o aumento da salinização das águas
muitos quilómetros rio adentro, com consequências futuras também na agricultura
de proximidade. A extensão do dique destruído foi aumentando, as casas e os
terrenos foram-se afundando e a água do mar misturou-se com a salobra. O
mouchão da Póvoa está neste momento quase submerso.
Nunca existiram termas,
propriamente ditas, mas uma fonte de água captada num poço artesiano com 46 metros de profundidade e ao lado uma
oficina de engarrafamento. Situada na ponta sul do mouchão, a
instalação da nascente da outrora famosa Água Minero Medicinal do Mouchão da
Póvoa foi abandonada em Abril de 1951. Actualmente
apresenta-se tudo em estado de ruína.
De acordo com a publicidade da época, esta água tinha indicação para
tratamento de úlceras da pele e mucosas, eczemas e todas as doenças da pele, inflamações
da boca, olhos e garganta, etc. E, para
acentuar as suas capacidades curativas, vendia-se apenas nas farmácias e
drogarias.
No passado, foi distinguida com a medalha de ouro nas exposições mundiais de
Londres e Roma, em 1913, e em 1915 no Panamá. Hoje apenas se podem encontrar as
antigas garrafas e manifestações da actividade publicitária a enaltecer as suas
qualidades.
Mas estes vestígios alertam-nos também
para um desastre ecológico, mesmo às portas de Lisboa, que ignoramos todos. Vejam então este filme, para se inteirarem melhor.
https://cnnportugal.iol.pt/rio-tejo/mouchao-da-povoa/exclusivo-maior-ilha-do-tejo-em-risco-promessas-do-governo-nunca-sairam-do-papel/20230117/63c5eb950cf2c84d7fc3851d