quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Receitas antigas


  Ao organizar um conjunto de receitas antigas encontrei no meio das folhas soltas um conjunto de 8 pequenos papéis amarelados e partidos.

Pensei que se tratava de pequenas receitas em dois pedaços, mas quando comecei a colá-las percebi que era uma folha grande partida. Como de costume esqueci-me de fotografá-las antes de iniciar o restauro e não posso dar uma ideia do estado inicial.

O mau estado do papel e as manchas de doce faziam as folhas parecer mais antigas, mas afinal trata-se de receitas de início do século XX, por já estarem escritas com o sistema métrico actual. Ainda assim muito interessantes e provavelmente de origem muito anterior.

Das receitas constam: os Ovos Brancos; os Ovos Reais; [Rebuçados de ovos]; Bolos de D. Christina Cruz; Puding de Queijo; Bolos de Londres e um Bolo de ??? (não consegui perceber o nome).

Imprimi as folhas e consegui escrever por cima nas lacunas e locais menos nítidos.

Aqui fica o resultado do meu trabalho

 

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

A Água do Mouchão da Póvoa

  

Primeiro apareceu-me uma publicidade enorme, às águas referidas, num jornal “O Distrito de Portalegre”, num número festivo, de 1912.[1] Logo no dia seguinte surge um postal com publicidade às mesmas.

Confesso que embora já possa ter visto alguma publicidade não me diziam nada. Tinha que as pesquisar. E, surpresa, como elas estavam aqui tão perto.

 

As águas do Mouchão da Póvoa, situavam-se no concelho de Vila Franca de Xira e foram concessionadas à Sociedade do Mouchão da Póvoa por alvará de 1 de Novembro de 1910. Mas primeiro há que explicar que os mouchões são as ilhotas do Tejo e que esta, concretamente, era a maior. Era um local importante com terrenos agrícolas férteis e ancoradouro para muitas aves aquáticas invernantes.

Em Abril de 2016, deu-se o rompimento de um dique no Mouchão da Póvoa. Várias tentativas de entidades diversificadas e até mesmo os próprios pescadores tentaram resolver o problema. Em vão. O terreno era privado e nada foi feito. Adélia Gominho, autarca em Vila Franca de Xira, entre outros, chamou à atenção para o aumento da salinização das águas muitos quilómetros rio adentro, com consequências futuras também na agricultura de proximidade. A extensão do dique destruído foi aumentando, as casas e os terrenos foram-se afundando e a água do mar misturou-se com a salobra. O mouchão da Póvoa está neste momento quase submerso.


Nunca existiram termas, propriamente ditas, mas uma fonte de água captada num poço artesiano com 46 metros de profundidade e ao lado uma oficina de engarrafamento. Situada na ponta sul do mouchão, a instalação da nascente da outrora famosa Água Minero Medicinal do Mouchão da Póvoa foi abandonada em Abril de 1951. Actualmente apresenta-se tudo em estado de ruína.

De acordo com a publicidade da época, esta água tinha indicação para tratamento de úlceras da pele e mucosas, eczemas e todas as doenças da pele, inflamações da boca, olhos e garganta, etc.  E, para acentuar as suas capacidades curativas, vendia-se apenas nas farmácias e drogarias.

No passado, foi distinguida com a medalha de ouro nas exposições mundiais de Londres e Roma, em 1913, e em 1915 no Panamá. Hoje apenas se podem encontrar as antigas garrafas e manifestações da actividade publicitária a enaltecer as suas qualidades.  

 Mas estes vestígios alertam-nos também para um desastre ecológico, mesmo às portas de Lisboa, que ignoramos todos. Vejam então este filme, para se inteirarem melhor.

 https://cnnportugal.iol.pt/rio-tejo/mouchao-da-povoa/exclusivo-maior-ilha-do-tejo-em-risco-promessas-do-governo-nunca-sairam-do-papel/20230117/63c5eb950cf2c84d7fc3851d



[1] O periódico O Distrito de Portalegre foi fundado a 27 de Abril de 1884 e durou até 2010.