segunda-feira, 13 de outubro de 2025
Exposição em Coimbra
domingo, 28 de setembro de 2025
Uma delícia chamada Dióspiro
Estamos na época do Dióspiro (Diospyrus kaki), um fruto que me dá muitos prazeres outonais, quando aparece bem gelatinoso e sumarento, ao amadurecer. Presentemente os supermercados privilegiam as variedades de roer, mais duras, que se conservam melhor, mas completamente sem graça. Não sei nada de variedades, mas reconheço-os à distância. Estas dividem-se em função da adstringência. A sensação adstringente deve-se à presença de taninos, sobretudo quando a fruta ainda não está madura. Estes têm um alto valor antioxidante, sendo, portanto, saudáveis por proteger de doenças cardiovasculares e oncológicas.
As “adstringentes”,
como a Kaki (Diospyrus kaki), a Coroa de Rei e Roxo Brilhante, são as mais
comuns, mas precisam de uma maturação adequada antes de serem consumidas.
Quanto às “não adstringentes”, como Fuyo, Hana Fuyo, O Gosho, Giro, Cal-Fuyo,
Fau-fau e Sharon, podem ser consumidas logo após a colheita.
O género Diospyrus é originário do continente asiático, da China, mas o seu cultivo iniciou-se simultaneamente também no Japão e na Coreia, nos finais do século VIII. Hoje são ainda os grandes exportadores, mas em Portugal a sua produção foi, até há alguns anos esporádica em quintas e quintais. Lembro-me de na minha infância, quando ia para a escola, passar por uma casa, que tinha no quintal um grande diospireiro, de que eu ia acompanhando o amadurecimento com os olhos.
Além de saboroso é muito saudável por extremamente rico em vitamina A, em carotenos, em flavonóides, em Vitamina C, em Cálcio, em Potássio, etc. e sobretudo é muito rico em fibras solúveis. Não preciso de o defender mais, porque é sobretudo muito saboroso quando escolhido na variedade certa, a chinesa variedade Kaki é uma boa opção, bem maduro, de preferência já rebentados. Receitas não são precisas. É só lavar, abrir e servir polvilhado de canela.
Apressem-se, o
seu período é o Outono. Bom proveito!.
terça-feira, 23 de setembro de 2025
Zé Povinho em debate. Convite
Uma outra visão do genial Rafael Bordalo Pinheiro e de uma das suas criações que chegou até aos dias e hoje, o Zé Povinho, sempre actual.
Dia 27 de Setembro nas Caldas da Rainha. Se estiverem por perto, não percam.
sábado, 13 de setembro de 2025
terça-feira, 2 de setembro de 2025
Uma caixa com surpresa
A caixa, em si, apresenta uma beleza sóbria. Com embutidos de madrepérola e pequenas argolas de suporte, foi forrada com um veludo arroxeado. Não sei a que se destinava, mas o facto de ter fechadura faz supor poder ter contido objectos de valor, material ou sentimental.
Há dias, ao pegar na caixa,
uma placa existente na tampa superior caiu. Lá dentro, colado à madeira encontrava-se
uma fotografia de uma figura feminina, tapada por uma folha de papel vegetal
muito amarelecida. A caixa foi, entretanto, restaurada e a folha substituída.
Quando a retirei pude ler uma
mensagem, em francês, escrita para mim. Passo a explicar. Esta dizia: “Aquele
ou aquela que um dia possa descobrir esta fotografia, saiba que estes traços
cheios de charme são os de uma grande, admirável e bela trágica francesa Madame
Vera Sergine, nascida 15 de Abril de 1884 em Paris. O seu verdadeiro nome é “Marie
Roche” e é casada com “Pierre Renoir”, actor, filho do grande pintor Renoir”.
E do lado esquerdo a autora desta informação, com grande probabilidade a Condessa Josselyn Costa de Beauregard (1897-1972), acrescentava: “Ela é boa, inteligente, grande artista e bela. Escrito em 1924”.
O nome verdadeiro da artista Vera Sergine (1884 – 1946), era Marie Marguerite Aimée Roche. Foi casada com um outro actor de teatro e de cinema francês, famoso na época, Pierre Renoir (1885 -1952) foi um actor. Este, tal como vimos, era filho do pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir e irmão mais velho do director de cinema Jean Renoir. Eu que admiro este cineasta e tenho como um dos meus preferidos o seu filme Boudou sauvé des eaux, de 1932, fiquei feliz. Vera Sergine foi também mãe do cineasta Claude Renoir, mostrando que na família corria sangue artístico.
A década de 1920 foi também de grande moda dos cocktails e o livro “Cocktails de Paris”, publicado em 1929, inclui várias receitas com nomes de artistas do teatro e do cinema mudo francês de então. Entre esses cocktails surgia um dedicado a Vera Sergine. Chamado Boulouris era uma variação da tradicional gemada com Vinho do Porto, que incluía também conhaque e Cordial-Médoc, tornado-o mais alcoólico. O nome remetia para a praia de Boulouris, em Saint-Raphaël, no sudeste de França), onde Véra e o seu marido, Pierre, possuíam uma casa, a Villa Argentina.
(E finalmente lá consegui eu
puxar a brasa para a minha sardinha, isto é, para o Garfadas).
sexta-feira, 15 de agosto de 2025
Ementa do almoço oferecido por Émile Loubet
Quando publiquei o livro Mesa Real, em 2000, incluí uma receita de 29 de Outubro de 1905, respeitante a um almoço oferecido pelo Presidente da República francesa ao Rei D. Carlos e à rainha D. Amélia.
Nessa altura consegui que a imagem me fosse facilitada por Remi Flachard, livreiro em Paris que a possuía. Tratava-se do então único livreiro específico na área da gastronomia. Possuía os melhores livros da especialidade, ementas, cartazes e muitas outras informações relativas a culinária. Os seus catálogos eram fantásticos e informativos.
Dada a qualidade das suas obras, e os preços exorbitantes, eu
raramente conseguia comprar alguma coisa, mas sempre que ia a Paris ia
visitá-lo. Mesmo assim ainda fiz algumas boas compras. Agora, ao procurara
informações sobre ele percebi que a loja já tinha fechado e que Remi Flachard faleceu.
É natural que não se encontre na net mais dados porque ele era avesso à
tecnologia. Já na época não aceitava cartões. Quando se comprava um livro tinha
que se ir levantar o dinheiro num terminal bancário para pagar.
Esta memória tem a ver com o
facto de esta semana, num lote de interessantes ementas, vir incluída uma, cuja
capa me chamou logo à atenção. Tratava-se da ementa do almoço de despedida oferecido
a bordo do couraçado Léon Gambetta, aos então reis de Portugal, como
agradecimento pela recepção em Lisboa, entre 27 e 29 de Outubro de 1905.
Aqui deixo uma reprodução da ementa e imagens relativas ao momento desta visita, então rara, de um Presidente da República a um Rei. Com este achado, regresso a 25 anos atrás, feliz por ser agora possuidora desta recordação.
quarta-feira, 6 de agosto de 2025
Os dez mandamentos da mesa saudável
Estes 10 mandamentos foram
levados a sério por quem os seguia, de tal modo que chegou a encaixilhá-los. O
quadro esteve provavelmente numa sala de jantar para lembrar os preceitos sobre
alimentação que deviam ser seguidos. A avaliar pelo caixilho, devem ter pelo
menos 50 anos.
Depois destes saíram muitos
outros, designados Mandamentos para a Alimentação saudável; para a
Vida saudável, etc. Todos eles assimilando as correntes da época, adaptaram-se
a novas tendências. Na realidade, aquilo que é importante é a diversidade alimentar
e as noções de bom senso. Seguindo este caminho, sem correr atrás das novas modas, mas
tirando delas o mais sensato, estamos sempre bem, mesmo sem regras ou mandamentos.
sábado, 19 de julho de 2025
Objecto mistério Nº 58. Resposta: Bordaloue
Como uma das pessoas comentou no Facebook: “se a resposta fosse molheira era muito fácil”. Na realidade este tipo de objecto assemelha-se às molheiras pela sua decoração floral, mas a sua forma é ligeiramente diferente, isto é, não tem bico e o corpo é um pouco mais largo. O seu fim também era diferente. Designado bordaloue era um mictório feminino.
Surgiu no
início do século XVIII, quando as casas de banho não existiam, e
o seu uso manteve-se durante o século XIX. À medida que começaram a ser
construídos sanitários nas casas e outros edifícios, o uso destes objectos
reduziu drasticamente e hoje são exemplares raros.
Embora sem provas,
diz-se que o seu nome se deve ao do jesuíta francês Louis Bourdaloue
(1632-1704), conhecido pelos seus sermões cativantes de mais de uma hora de
duração, que as senhoras ouviam com enlevo.
Na época, as
senhoras usavam saias longas e largas, sem calças por baixo. Isso permitia-lhes
usar discretamente o vaso trazido por suas criadas para se aliviarem em eventos
públicos ou em viagens.
O facto de
serem pequenos e neste caso é extraordinariamente leve, facilitava seu
transporte e o acondicionamento em viagens. Mas eram também usados em banquetes
demorados, onde as damas se escondiam atrás das cortinas quando precisavam de
urinar.
Quanto aos
homens, nesses banquetes, e a avaliar por gravuras inglesas, tinham bacios
escondidos nos armários da sala de jantar.
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Gravura inglesa de 1814 |
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terça-feira, 15 de julho de 2025
Objecto Mistério Nº 58. Pergunta.
O objecto que
hoje apresentamos em cerâmica, muito leve, apresenta uma boca oval, com as dimensões de 15
x 10 com, excluindo a asa ou pega.
Como se designa e qual a sua utilidade?
quarta-feira, 2 de julho de 2025
Separadores de pratos
Confesso que nunca tinha visto
separadores de pratos feitos especialmente para esse fim. Em tecido branco, de
piqué de um lado e feltrado do outro, ou com belos tecidos coloridos, todos se
apresentam orlados. Mais frequentemente com fita de seda, por vezes com gorgorão,
ou mesmo com franja.
Hoje em dia as pessoas colocam,
de forma prática, folhas de rolos de papel de cozinha para separar os pratos que
se desejam empilhar. Funciona, mas não corresponde ao mesmo efeito protector.
Podem também encontrar-se, em raras lojas, protectores em feltro, mas não têm a
beleza destes exemplares.
Datados alguns do final do
século XIX e outros do início do século XX, são espelho de um requinte e
cuidado de protecção de pratos de qualidade.
Para mim, foi uma descoberta e um encantamento pelas coisas simples, cuidadas. Sempre a aprender!
segunda-feira, 23 de junho de 2025
Congresso da Associação Hispânica dos Historiadores de Papel
Vai ter lugar em Lisboa, na Biblioteca Nacional, nos dias 26, 27 e 28 de Junho, o referido congresso internacional. Irei apresentar o tema “Marcas de água em manuscritos de culinária”.
É um tema importante que muito
esclarece sobre as obras conhecidas e que ajuda a adicionar muitas mais
informações do que o mero estudo das receitas. O seu estudo evita muitos dos
disparates que às vezes se dizem por aí.
Nas minhas publicações sobre
livros de receitas antigos procurei sempre completar o estudo com estas informações.
O resto do programa é muito interessante e pode ser consultado em: https://ahhp.es/xv-congreso-internacional-ahhp-programa-definitvo/
terça-feira, 10 de junho de 2025
Um cartão pop-up
À primeira vista parece um
cartão normal, com uma temática infantil, a Branca de Neve e os Sete Anões,
acentuado pela letra de menina que escreveu nele o nome da amiga (“para a Lúcia”).
Quando se abre percebe-se que é
uma carteira de agulhas especial. Para a menina, está visto, que devia aprender
a cozer e a bordar desde pequenina.
Ao abri-lo temos a surpresa de
visitar o interior da casa onde vive a Branca de Neve e os seus sete amigos. Completa:
com o quarto com as caminhas alinhadas, a cozinha com o grande forno e, em
relevo, a mesa onde todos se sentam para comer.
Nas costas, acentuando a infantilidade, dois gatinhos que brincam com novelos de lã.
É nestas alturas que regressamos à infância.
quinta-feira, 5 de junho de 2025
Um “Pantagruel” espelho da alma
Este livro em péssimo estado, com lombada arrancada, folhas soltas, etc. suscitou-me várias sensações. Na realidade, só um livro de culinária se permite chegar a este estado. Provavelmente acarinhado no início, foi tantas vezes consultado que se desmoronou.
Dificilmente um romance sofre um estado de degradação semelhante, ainda que lido várias vezes. E se tal acontecesse seria descartado. Mas os livros de culinária estão habituados a tractos de polé. Consultados em ambiente hostil como é uma cozinha, próximos de alimentos, raramente escapam à aquisição de nódoas. Muitos chegam-me à mão bastante deteriorados, a necessitar de encadernação e transformam-se em belezas. Mas neste estado, acho que nunca vi.
Como a minha saúde não tem sido a melhor, olhei para ele e solidarizei-me com o seu estado. Este vai ficar assim. Fica na classe dos “atados” que ultimamente me têm chegado à mão: atados de receitas; atados de cartas, etc. Uma união espiritual de semelhantes. Já sei que vão pensar que não é o que se espera que se diga de um velho livro de receitas. São dias.
quinta-feira, 15 de maio de 2025
Uma ementa dos anos 20
Fiquei entusiasmada com esta
ementa de um grupo, aparentemente fundado em 26 de Novembro de 1922, designado “Grupo
dos 15 amigos de S. Bento”. O jantar
realizou-se em 11 de Janeiro de 1925 e era o 8º jantar de confraternização,
pelo que posso supor que teria tido lugar duas vezes por ano.
Os promotores da iniciativa foram
João Alves e António Branco, mas infelizmente não consegui descobrir a que se
dedicava esta associação. A ementa apresentava uma fotografia de qualidade, provavelmente
relacionada com o grupo, onde se podia ver o antigo Arco de S. Bento.
Vejamos então o “Menu” que é
descrito de forma humorística com designações que nos remetem para o espírito bem-humorado
deste tipo de associações. Ficamos a conhecer a ordem da refeição mas no que
respeita à confecção é um mistério dadas as designações usadas.
O jantar teve lugar no Restaurant
Sport, em Sete Rios, em Lisboa. Esta designação à francesa, só começou a
divulgar-se em Lisboa depois de 1870, usando-se em vez disso a designação de “casa
de pasto”, enquanto o café era designado “botequim”. Ao consultarmos o Novo
Guia do Viajante em Lisboa, de 1872, escrito por Júlio Cesar Machado, no
que respeita aos hotéis, casas de pasto, botequins ou cafés, encontramos
referência a um total de 46 estabelecimentos, mas apenas três destes se
designavam “restaurant”.
Estávamos agora na década de
1920, e a designação à francesa mantinha-se. Infelizmente não consegui
encontrar qualquer informação sobre o estabelecimento, mas a designação remete-nos
para um gosto sobre o desporto que começava a despontar.
Uma pequena foto no cimo da
fotografia deixa-nos ainda a dúvida de quem se tratará. De um dos promotores?
Do fundador da associação dos 15 amigos?
Por aqui nos ficamos, pelo
menos por agora.
terça-feira, 8 de abril de 2025
Marylin Monroe em triplicado
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Ementa desdobrável |
Este conjunto dos três
elementos certamente que pertenceu a algum admirador de Marylin Monroe, que não é difícil encontrar.
Trata-se de duas cartas de restaurante, de comidas e de bebidas e de um envelope
de cartas.
Provavelmente até nem era um
coleccionador de ementas mas não resistiu ao apelo da imagem desta estrela
luminosa. As cartas de restaurante são mais difíceis de adquirir que as ementas,
pelo que as que surgem são mais frequentemente roubadas.
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Carta de vinhos |
O restaurante em causa já não
existe há, pelo menos, 10 anos e sobre ele nada descobri. A sua história também não devia ir além do título. Situava-se no Hotel Holiday Inn junto ao
aeroporto de Paris-Orly.
A embalagem com papel de
carta, com a imagem velada da artista que se repete no interior do envelope, é
daquelas coisas que compramos, como acontece com algumas agendas e que achamos
bonitas demais para uso. Ficam intactas.
segunda-feira, 17 de março de 2025
Museu virtual: Suporte com facas de fruta
Nome
do Objecto: Suporte de facas de fruta
Marcas: apenas presentes na lâmina da faca.
Origem: adquirido no mercado português.
Grupo
a que pertence: equipamento culinário.
Objectos semelhantes: encontramos outras peças da época marcadas Meissen e com desenhos “blue onion”. Existem igualmente modelos em leque, em vez desta disposição circular.
Observações: Tipo de facas usadas no século XIX em vários países. Era considerada uma peça luxuosa. No século XVIII haviam já surgido facas de fruta, mas articuladas (tipo canivete), frequentemente com os cabos em marfim.
terça-feira, 4 de março de 2025
O final do Carnaval
Não tendo sido atingida pela alegria carnavalesca, descobri hoje esta imagem de A Paródia de 1901, alusiva à época.
Na capa pode
ver-se a estação do Entroncamento onde se cruzam dois comboios. O da direita
com os foliões, que corresponde ao comboio da Carne, que partem. Chega o
comboio do Peixe que corresponde ao regime de abstinência, que se inicia na quarta
feira de cinzas, à noite. Da janela sai a imagem de um clérigo que impõe a
ordem.
Como tudo mudou em pouco mais de um século. Quem se lembra hoje destes antigos hábitos alimentares?