Quando há dois dias o José
Daniel falou na marmita norueguesa, a propósito de uma notícia publicada em O Universo
Ilustrado, de 1880, tinha acabado de me chegar às mãos um folheto com
receitas para a mesma. Achei que já tinha falado sobre o tema, o que é verdade,
mas com o nome de “fogão norueguês”. Ver aqui no blogue 👈
Já tinha vontade de falar
neste tema desde que o o italiano Giorgio Parisi, Prémio Nobel de Física de
2021, defendeu que cozinhar a massa com o fogão desligado, depois da água ferver,
permite consumir menos energia. O cientista da Universidade Sapienza, de Roma,
calculava que "pelo menos oito minutos de consumo de energia" eram
economizados com este método. Nada de novo, uma vez que algum tempo antes a
associação Unione Italiana Food, que representa os fabricantes de
massas, argumentou que manter a tampa na panela durante a fase de fervura
acelerava o processo de cozedura e permitia poupar "até 6% de energia e
emissões de CO2". Isto é, desligar o fogo após dois minutos de fervura,
deixando a tampa, economiza energia e emissões de CO2 que podem chegar a 47%. Claro
que estas noções desagradaram a chefes
de cozinha. Antonello Colonna, italiano, detentor de uma estrela Michelin,
disse que o método tornaria a massa borrachuda.
Já
experimentei com o esparguete e não ficou mal. Mas para o arroz e outros
cozinhados é perfeito. A minha técnica, sem fogão norueguês, consiste em deixar
ferver o alimento alguns minutos no máximo e depois de ligeiramente cozido, retiro,
coloco dentro da caixa do microondas (apagado), com tampa, e uma protecção de
cortiça por baixo e tapo com uma mantinha, que reservei para o efeito. Fica perfeito.
É
interessante que este tipo de cozimento, tenha sido dado a conhecer no final,
do século XIX, tenha tido grande divulgação durante a guerra (este folheto é
dessa altura) e passado todo este tempo voltamos a ter preocupações energéticas,
não por necessidade absoluta, mas por consciência. O que parecia um retrocesso
é na realidade um grande avanço.