sexta-feira, 25 de março de 2016

Ninhos de Páscoa

Esta sugestão de bolos “Ninhos de Páscoa” era uma proposta profissional para pasteleiros, uma vez que a receita dava para sete bolos. Feitos em formas redondas com o interior escavado, permitiam um decoração central com fios de ovos sobre os quais eram colocados ovos coloridos.
A receita era apresentada pelos Serviços Técnicos da empresa, onde eram feitas várias confecções pelo mestre pasteleiro, não identificado, no Laboratório de experiências. 
O pequeno livro de capas plastificadas, de que apenas possuo algumas folhas, data de 1965 e destinava-se a profissionais.
A FIMA, Fábrica Imperial de Margarina, Lda, com sede no Largo de Monterroio Mascarenhas, 1, Lisboa, foi uma das iniciativas industriais do Grupo Jerónimo Martins. Inaugurada em 1944, a fábrica em Sacavém, dedicava-se à produção de margarinas e óleos alimentares. Esta firma que já distribuía nas suas lojas a margarina «Cowerd-Vaqueiro», associou-se em 1949, com a multinacional anglo-holandesa Unilever e passou a produzir outras variedades de margarina.
Assim, neste livrinho são referidas as variedades de margarina então existentes: a Vaqueiro para bolos e massas; a Pastelaria, especial para folhados; a Imperial, especial para cremes e a Vaqueiro H para folhados de tipo dinamarquês.
De realçar que as campanhas de informação sobre a utilização da margarina ainda continuavam na década de 1960, aqui dirigidas a pasteleiros, a par das que se continuavam a fazer para as donas de casa, e o grau de modernização das mesmas que passava inclusivamente por um laboratório técnico onde eram testados os produtos.
E como ainda vamos a tempo, aqui deixo a receita, para aqueles que quiserem ter uma Páscoa nostálgica com bolos em forma de ninhos. Páscoa feliz!

domingo, 20 de março de 2016

Campbell's soup: um lata icónica

No final do século XIX as sopas enlatadas faziam o seu aparecimento comercial. É verdade que foram precedidas pelos trabalhos sobre conservação dos alimentos em vácuo levados a cabo por Nicolas Appert, em França, feitos a aprtir de 1790. Mas então os alimentos apresentavam-se em frascos.
Ladies Home Journal 1923
Em 1810 o inglês Peter Durand registou um novo método de conservação em latas seladas que iria modificar a industria alimentar. Nas décadas seguintes o método chegaria à colónia inglesa australiana e aos Estados Unidos.
Em Portugal a fábrica a vapor de José da Conceição Guerra, fundada em 1894 em Elvas, produzia sopa juliana e afirmava ser então a única em Portugal. Esta firma, mais conhecida pela produção e comercialização de frutas, em especial a ameixa de Elvas, apresentou uma grande variedade de embalagens, mas no que respeita às destinadas a sopa nunca vi nenhuma e desconheço de que material seriam feitas.
Nos Estados Unidos, em 1897, John T. Dorrance, um químico que havia estado na Europa, inventou a sopa condensada para a Companhia de Sopa Campbell, em que após a adição de água era possível obter rapidamente uma sopa. Esta empresa, que também era conhecida de forma abreviada por Campbell's, havia sido fundada um ano antes por Joseph A. Campbell e Abraham Anderson, para produzirem vários tipos de alimentos enlatados. Em 1898 os rótulos das latas, por sugestão de Herberton Williams, passaram a apresentar-se nas cores encarnado e branco que as tornariam famosas.
A publicidade em revistas americanas das décadas seguintes mostram-nos donas de casa felizes a darem essas sopas aos seus filhos, representados com rostos risonhos.
A cultura americana, conhecida pelo pouco apreço pela comida caseira, rapidamente adaptou este produto industrial, a par de muitos outros e transformou-o num sucesso.
 
Na década de 1940 surge uma nova campanha publicitária às sopas Campbell's agora dirigidas a homens, a fazer lembrar-nos aquele anuncio a um bacalhau pré-peparado, vendido em Portugal nos anos 70-80, cuja embalagem dizia «destinado a homens temporariamente sós».
É provável que Andy Warhol fosse um apreciador do paladar das ditas sopas. Era-o pelo menos da estética das suas embalagens. E em 1962 utiliza a representação monótona, repetitiva, mas igualmente variada, das 32 das variedades de sopa existentes e reproduz o conjunto em serigrafia, numa manifestação de pop art. 
Ainda na década de 1960 e nos anos de 1970 retomaria este tema, em cores variadas, que a própria fábrica, com sentido de oportunidade, viria a comercializar mais tarde em edição limitada.

segunda-feira, 14 de março de 2016

O mistério do pão de Mafra

Até aquele dia nunca tinha pensado porque existia um pão de Mafra. A origem do pão alentejano era fácil perceber com todos aqueles campos semeados de trigo e outros cereais. Era inevitável que houvesse pão alentejano.
Quando há algumas semanas fui com uns amigos para a chamada zona saloia almoçar levaram-me a uma padaria comprar o verdadeiro pão de Mafra. Era uma unidade de produção grande com a vendedora vestida de branco com touca branca. Mostrei-me interessada e o meu amigo Zé Rosa que conhece bem a região quis mostrar-me o tradicional pão de Mafra.
Na realidade este pão é o mais conhecido dos pães saloios, assim chamados por serem produzidos na região saloia que desde a Idade Média abastecia a cidade de Lisboa, onde era vendido nas ruas.
Era também daí que vinham os produtos hortícolas cultivados pelos descendentes dos árabes que haviam saído da cidade de Lisboa, depois da sua ocupação. Devem ter também cultivado cereais, o que hoje já não é visível porque só assim se explicava a produção de pão. Mas um outro factor deve ter pesado neste fabrico: o da intensa moagem feita em moinhos de vento que ainda hoje se podem ver nesta região. 

Todo este raciocínio vem a propósito da conversa com uma senhora da aldeia de Santo Estevão das Galés, de 71 anos de idade, de nome Maria do Rosário, mas a quem, como ela disse chamam Mimi. Tinha fama de fazer o melhor pão da região e valia a pena lá ir. Quando chegamos encontramos uma senhora vestida de preto e o forno estava há muito sem funcionar. Já não fazia pão. Começou-me a contar as razões desta alteração enquanto mostrava o local de fabrico do pão, a masseira e os outros utensílios. O forno fechado estava coberto com jornais e indicava que há muito não era usado. 
Com o vagar de quem está sozinha começou pelo princípio, pelo tempo em que conheceu o marido e em que começaram namoro. Depois casaram. O marido era moleiro, filho e neto de moleiros. Tinha sido concebido dentro do moinho. Tentou deixar de ser moleiro, mas não conseguiu e voltou a esta profissão e ela, depois de casada, fez-se padeira. Chegou a ser considerada a melhor padeira da região como também confirmam as fotos de alguém que a fotografou mais nova, vestida de branco a fazer pão, que encontrei depois na internet.
A conversa desenrolava-se num rosário contínuo, que ia sempre parar à doença do marido. Descreveu-me em pormenor o dia em que o marido adoeceu, a chegada da ambulância, os diálogos e a partida do marido para o hospital. Quis apressar-lhe a narrativa, saber porque afinal já não fazia pão. 
As pessoas que me acompanhavam impacientavam-se para partir e ela cada vez mais se enredava na sua história. Pedi-lhe para fotografar e rapidamente destapou o forno, pegou na pesada pá de madeira que se encontrava presa nos barrotes do tecto e fingiu que tirava o pão do forno. Por momentos voltou ao passado. Os olhos brilharam e parecia que tudo era como antigamente.
O discurso pormenorizado continuava, saboreando o momento e arrastando-o para me prender. Para encurtar a conversa, que gravei no telefone quando me apercebi que ia ser longa, perguntei se o marido tinha falecido no hospital. Não, ainda voltou para casa doente e ela teve que tratar dele. Quando faleceu ela adoeceu. Agora estava melhor. Sugeri-lhe que talvez pudesse fazer o seu pão tão apreciado novamente. Talvez, com a ajuda do filho, respondeu-me. Eu prometi voltar e ir comprar-lhe pão.
Ficamos as duas pelas promessas que sabíamos que nenhuma ia cumprir. Foi uma boa tarde para as duas. 

terça-feira, 8 de março de 2016

Museu virtual: Tabuleiro de acepipes

Nome do Objecto: Tabuleiro de acepipes

Descrição: Tabuleiro rectangular de cor verde marinho, com duas cavidades rectangulares e duas quadradas mais pequenas e centrais.

Material: Cerâmica vidrada.

Época: De 1950 a finais de 1960.
Marcas: Gilman & Cª. Sacavém (Fábrica de Louça de Sacavém)

Origem: Adquirido no mercado português.

Grupo a que pertence: Equipamento culinário.

Função Geral: Servir alimentos
Função Específica: Utilizado na apresentação de aperitivos.
Nº inventário: 2080.
Objectos semelhantes: Não inventariados.

Observações:
Os aperitivos, por regra, eram servidos apenas antes do almoço e continuavam a ser designados à francesa, hors d’oeuvre. A forma de apresentação em taças de cerâmica separadas era contudo mais habitual no domicílio, como acontece com as peças realizadas pela Secla, ou pela Vista Alegre, nesta época. Nalguns casos as taças formam conjuntos, mais frequentemente circulares, com ou sem tabuleiros, como se pode observar nalguns serviços de aperitivos da Fábrica Vista Alegre. Este tipo de conjuntos era contudo mais frequente em vidro, sendo acompanhados por uma base metálica ou de prata. 

domingo, 6 de março de 2016

Depois de beber cada um dá o seu parecer

Tendo como título um provérbio popular e como subtítulo «Servir bebidas» vai realizar-se no Porto, na Casa Museu Guerra Junqueiro, um ciclo de conferências, que acompanha uma exposição e que teve já início no dia 3 de março. 
O bebedor de vinho. Segunda metade do séc. XVIII. Crédito Franz Laktan
Esta iniciativa, e as que se adivinham nesta área, faz-me crer que, finalmente em Portugal,as pessoas começam a perceber que à volta da alimentação há mais vida do que as meras receitas. Num país em que ainda ontem foi anunciado que estamos colocados à cabeça no que respeita à iliteracia europeia, muita coisa fica explicada.

O programa aliciante aqui fica, em especial para as pessoas do Norte, mas também serve de pretexto para quem se puder deslocar à bela cidade do Porto. 

quinta-feira, 3 de março de 2016

BiblioAlimentaria em Coimbra

Inaugurou-se no dia 4 de março na Universidade de Coimbra, a Exposição BiblioAlimentaria, de livros de culinária, integrada no programa da Semana Cultural desta Universidade.
 
Esta iniciativa é acompanhada por várias palestras sobre esta temática, como se pode ver no programa apresentado.
Nota: A comunicação “Neveiros, gelo e frigoríficos” terá lugar no dia 18 e não no dia 15 de Março.