quarta-feira, 29 de julho de 2020

Uma pessegada com “upgrade”


Já lá vão dez anos que descobri a pessegada, como falei aqui. Desde então uso-a como uma agradável iguaria dos tempos de Verão.
Desta vez introduzi-lhe algumas alterações. Aos pêssegos, sempre rijos, juntei uma manga pouco madura e mirtilhos.
Temperei com açúcar e canela, reguei com um bom vinho branco a que acrescentei um Vinho do Porto velho e aromatizei com folhas de hortelã. Simples.
Ficou deliciosa e muito refrescante. Experimentem!.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Para desenjoar


Foi a beleza das imagens de uma pequena caixa de comprimidos que me atraiu. É uma amostra para ensaio clínico que era oferecida aos médicos. Quando um medicamento novo saía eram oferecidas algumas caixas aos médicos para darem aos doentes, permitindo-lhes ficar com informação directa sobre o seu efeito. Há alguns anos isso foi proibido, o que não me apetece comentar.

Este medicamento, o dimenidrinato, tem uma longa história e ainda hoje é utilizado. Criado em 1947 por 2 investigadores do Johns Hopkins Hospital, Lesley Gay e Paul Garliner, revelou-se logo eficaz como anti-emético. Antes porém de comunicarem a sua investigação fizeram um estudo, em 1948, no final da II Guerra Mundial, em colaboração com a Marinha americana, nos marinheiros do navio US Navy. A chamada «Operação enjoo» abrangeu 1376 soldados americanos divididos em dois grupos. Os que tomaram o medicamento não enjoaram na longa viagem de Baltimore para Bremerhaven, na Alemanha.
Confirmada a sua eficácia os autores publicaram os resultados e a partir de 1949 o produto era comercializado.
Não sei dizer quando foi introduzido em Portugal porque o seu registo foi muito tardio. Foi comercializado pelo Instituto Luso-Farmaco, que foi constituído em 1948 por António Diogo Bravo e Miguel Cocco. Na embalagem vem identificado como único depositário: Paulo Cocco, Lda.

Em 1964 era construído um novo edifício da autoria de Carlos Tojal e Carlos Roxo, na Rua do Quelhas, 8, em Lisboa. O edifício moderno e luminoso apresentava painéis de azulejos da autoria de Sã Nogueira alusivos a temas farmacológicos. Guardo dessa local boas recordações do meu tempo de jovem médica.
Painel de azulejo exteior de Sá Nogueira. Foto do  site SOS Azulejos 
Possuía um “Centro de Documentação” que era o melhor de Lisboa. Nenhuma Universidade, Hospital ou Laboratório se lhe comparava. Eu ia lá regularmente consultar as revistas médicas que recebiam e fazer fotocópias. Foi aí que aprendi, com uma Bibliotecária muito eficiente de que já não recordo o nome, o que era uma “Keyword” e a importância da catalogação. Num pequeno caderninho, que ainda possuo, ia registando as minhas leituras.
Foto da internet (wikimedia)
Hoje o edifício foi transformado em bloco de apartamentos, a empresa já não existe mas, extraordinariamente, o medicamento ainda é comercializado, com o nome de Enjomim e de Vomidrine.

Quanto ao autor dos alusivos desenhos da embalagem, ignoro quem tenha sido. Infelizmente apenas se encontra representado o enjoo por mar e por avião. Indicado para todos os enjoos ficou-nos a faltar os enjoos terrestres, como diz na bula. Devia ser igualmente interessante.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

O livro «Le Menagier de Paris»

Falar deste livro num poste é demasiado ambicioso, como veremos. Contudo, não resisti a mostrar a beleza desta minha última aquisição.
O manuscrito foi escrito entre 1392-1394 e só foi publicado em 1846 pelo Barão Jérôme Pichon em 1846. Adquirido por este num alfarrabista viria a detectar a existência de dois outros manuscritos, um da primeira metade do século XV e outro na Biblioteca da Bélgica, que poderá ter pertencido aos Duques de Borgonha.
Publicado pela primeira vez pela Société des Bibliophiles François o livro tinha como subtítulo «Tratado de moral e economia doméstica composto cerca de 1393, por um parisiense burguês. Contendo preceitos morais, alguns factos históricos, instruções sobre a arte de administrar uma casa, informações sobre o consumo do rei, dos príncipes e da cidade de Paris, no final do século XIV, conselhos sobre jardinagem e a escolha dos cavalos; um tratado de culinária muito extenso e outro não menos completo sobre a caça ao falcão».
A edição de Pichon foi limitada a 324 cópias, tendo-se tornado muito rara. Mas teve várias reedições posteriores até aos dias de hoje.
Em 1981 a Oxford University Press publicou uma nova versão, trabalho de mais de 20 anos de Georgine Brereton, professora no St. Hilda’s Colllege, que uma morte precoce não permitiu completar, o que foi feito por Janet M. Ferrier. Adquiri este livro há alguns anos mas nuca me debrucei sobre ele, apesar da sua utilidade e rigor, como constato agora.
Há pouco tempo vi uma outra edição à venda a que não resisti. Apresenta apenas uma versão parcial do texto, com dois textos introdutórios, um dos quais sobre a cidade de Paris no século XIV, acompanhado por um plano da cidade de grandes dimensões desdobrável.
É que o autor do manuscrito era um burguês parisiense abastado, que havia casado com uma jovem de 15 anos a quem era necessário ensinar as regras de respeito para com o seu marido, mas também os conhecimentos que tornariam a sua casa organizada e honrada. É isso que justifica no livro temas tão vastos como noções de moral, a par de jardinagem, culinária, etc.
Esta edição, patrocinada pelo Credit Lyonnais, em 1961, para alguns dos seus clientes, apresenta-se dentro de uma caixa forrada de tapeçaria, considerada uma forma de expressão da Idade Média e cuja imagem traduz o caracter ”doméstico” da obra, como explicam.