Foi ao folhear o jornal Século, de 16 de Outubro de 1948, um “Número especial dedicado ao Império”, de grandes dimensões e volume, que me deparei com uma notícia sobre a Companhia da Zambézia e o Chá Li-Cungo.
Após a Conferência de Berlim, em 1885, onde Portugal assumiu a obrigação de assegurar a ocupação efectiva dos seus territórios, Joaquim Carlos Paiva de Andrade que era oficial do exército português e adido militar em Paris, decidiu
explorar as riquezas minerais de Moçambique.
A sua proposta inicial, em 1878, foi para efectuar uma exploração mineira e florestal de uma vasta área da Zambézia e em Maio de 1892 fundou a Companhia da Zambézia, com capitais vindos de vários países além de Portugal, como a África do Sul, a Alemanha, a França, a Inglaterra, os Estados Unidos, etc.
A concessão seria posteriormente alargada a outros territórios limitados pelo rio Li-cungo, cujo nome viria a ser dado a uma das maiores produções da empresa: o chá.
Embora a produção inicial da companhia tenha sido de coco, borracha, café, arroz e outros produtos, em 1934 iniciou a produção de chá. Para além das plantações foi construída uma fábrica de transformação do chá.
Com a aprovação dos ingleses, o chá foi introduzido em Londres onde foi considerado de grande qualidade. Seguiu-se a exportação para a Turquia, Pérsia, Polónia, Checolosváquia, América do Norte, Espanha, etc.
Edifício da gerência da Companhia da Zambézia, em pleno palmar |
Em Portugal, porém, o chá da África Oriental continuava desconhecido e os apreciadores desta bebida continuavam a consumir chá Lipton ou Horniman.
Começou então uma campanha publicitária em Portugal, ao chá Li-cungo, com ofertas de amostras de chá e de serviços de chá em louça contra a troca de pacotes.
O chá era vendido em pacotes de cartão de várias cores, consoante a quantidade. Ficou mais conhecido o pacote amarelo, que correspondia aos 100 gramas, mas recordo-me de pacotes mais pequenos de cor rosa.
Um dos modelos de bule e açucareiro feitos pela Fábrica de Sacavém |
O sucesso em Portugal foi grande e a sua venda não parou de crescer. Era considerado internacionalmente um chá de qualidade e a sua produção foi também aumentando progressivamente. Assim, de acordo com a notícia do Século, a sua produção que, em 1935, era de 37.000 toneladas aumentou, em 1947, para 243.699.
Desconheço a data em que a sua importação para Portugal foi suspensa. Há alguns anos surgiram no mercado novamente embalagens de chá Li-Cungo, de forma esporádica.
Infelizmente não possuo dados para terminar esta história, que parecia de sucesso.