sábado, 13 de setembro de 2025
terça-feira, 2 de setembro de 2025
Uma caixa com surpresa
A caixa, em si, apresenta uma beleza sóbria. Com embutidos de madrepérola e pequenas argolas de suporte, foi forrada com um veludo arroxeado. Não sei a que se destinava, mas o facto de ter fechadura faz supor poder ter contido objectos de valor, material ou sentimental.
Há dias, ao pegar na caixa,
uma placa existente na tampa superior caiu. Lá dentro, colado à madeira encontrava-se
uma fotografia de uma figura feminina, tapada por uma folha de papel vegetal
muito amarelecida. A caixa foi, entretanto, restaurada e a folha substituída.
Quando a retirei pude ler uma
mensagem, em francês, escrita para mim. Passo a explicar. Esta dizia: “Aquele
ou aquela que um dia possa descobrir esta fotografia, saiba que estes traços
cheios de charme são os de uma grande, admirável e bela trágica francesa Madame
Vera Sergine, nascida 15 de Abril de 1884 em Paris. O seu verdadeiro nome é “Marie
Roche” e é casada com “Pierre Renoir”, actor, filho do grande pintor Renoir”.
E do lado esquerdo a autora desta informação, com grande probabilidade a Condessa Josselyn Costa de Beauregard (1897-1972), acrescentava: “Ela é boa, inteligente, grande artista e bela. Escrito em 1924”.
O nome verdadeiro da artista Vera Sergine (1884 – 1946), era Marie Marguerite Aimée Roche. Foi casada com um outro actor de teatro e de cinema francês, famoso na época, Pierre Renoir (1885 -1952) foi um actor. Este, tal como vimos, era filho do pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir e irmão mais velho do director de cinema Jean Renoir. Eu que admiro este cineasta e tenho como um dos meus preferidos o seu filme Boudou sauvé des eaux, de 1932, fiquei feliz. Vera Sergine foi também mãe do cineasta Claude Renoir, mostrando que na família corria sangue artístico.
A década de 1920 foi também de grande moda dos cocktails e o livro “Cocktails de Paris”, publicado em 1929, inclui várias receitas com nomes de artistas do teatro e do cinema mudo francês de então. Entre esses cocktails surgia um dedicado a Vera Sergine. Chamado Boulouris era uma variação da tradicional gemada com Vinho do Porto, que incluía também conhaque e Cordial-Médoc, tornado-o mais alcoólico. O nome remetia para a praia de Boulouris, em Saint-Raphaël, no sudeste de França), onde Véra e o seu marido, Pierre, possuíam uma casa, a Villa Argentina.
(E finalmente lá consegui eu
puxar a brasa para a minha sardinha, isto é, para o Garfadas).
sexta-feira, 15 de agosto de 2025
Ementa do almoço oferecido por Émile Loubet
Quando publiquei o livro Mesa Real, em 2000, incluí uma receita de 29 de Outubro de 1905, respeitante a um almoço oferecido pelo Presidente da República francesa ao Rei D. Carlos e à rainha D. Amélia.
Nessa altura consegui que a imagem me fosse facilitada por Remi Flachard, livreiro em Paris que a possuía. Tratava-se do então único livreiro específico na área da gastronomia. Possuía os melhores livros da especialidade, ementas, cartazes e muitas outras informações relativas a culinária. Os seus catálogos eram fantásticos e informativos.
Dada a qualidade das suas obras, e os preços exorbitantes, eu
raramente conseguia comprar alguma coisa, mas sempre que ia a Paris ia
visitá-lo. Mesmo assim ainda fiz algumas boas compras. Agora, ao procurara
informações sobre ele percebi que a loja já tinha fechado e que Remi Flachard faleceu.
É natural que não se encontre na net mais dados porque ele era avesso à
tecnologia. Já na época não aceitava cartões. Quando se comprava um livro tinha
que se ir levantar o dinheiro num terminal bancário para pagar.
Esta memória tem a ver com o
facto de esta semana, num lote de interessantes ementas, vir incluída uma, cuja
capa me chamou logo à atenção. Tratava-se da ementa do almoço de despedida oferecido
a bordo do couraçado Léon Gambetta, aos então reis de Portugal, como
agradecimento pela recepção em Lisboa, entre 27 e 29 de Outubro de 1905.
Aqui deixo uma reprodução da ementa e imagens relativas ao momento desta visita, então rara, de um Presidente da República a um Rei. Com este achado, regresso a 25 anos atrás, feliz por ser agora possuidora desta recordação.
quarta-feira, 6 de agosto de 2025
Os dez mandamentos da mesa saudável
Estes 10 mandamentos foram
levados a sério por quem os seguia, de tal modo que chegou a encaixilhá-los. O
quadro esteve provavelmente numa sala de jantar para lembrar os preceitos sobre
alimentação que deviam ser seguidos. A avaliar pelo caixilho, devem ter pelo
menos 50 anos.
Depois destes saíram muitos
outros, designados Mandamentos para a Alimentação saudável; para a
Vida saudável, etc. Todos eles assimilando as correntes da época, adaptaram-se
a novas tendências. Na realidade, aquilo que é importante é a diversidade alimentar
e as noções de bom senso. Seguindo este caminho, sem correr atrás das novas modas, mas
tirando delas o mais sensato, estamos sempre bem, mesmo sem regras ou mandamentos.
sábado, 19 de julho de 2025
Objecto mistério Nº 58. Resposta: Bordaloue
Como uma das pessoas comentou no Facebook: “se a resposta fosse molheira era muito fácil”. Na realidade este tipo de objecto assemelha-se às molheiras pela sua decoração floral, mas a sua forma é ligeiramente diferente, isto é, não tem bico e o corpo é um pouco mais largo. O seu fim também era diferente. Designado bordaloue era um mictório feminino.
Surgiu no
início do século XVIII, quando as casas de banho não existiam, e
o seu uso manteve-se durante o século XIX. À medida que começaram a ser
construídos sanitários nas casas e outros edifícios, o uso destes objectos
reduziu drasticamente e hoje são exemplares raros.
Embora sem provas,
diz-se que o seu nome se deve ao do jesuíta francês Louis Bourdaloue
(1632-1704), conhecido pelos seus sermões cativantes de mais de uma hora de
duração, que as senhoras ouviam com enlevo.
Na época, as
senhoras usavam saias longas e largas, sem calças por baixo. Isso permitia-lhes
usar discretamente o vaso trazido por suas criadas para se aliviarem em eventos
públicos ou em viagens.
O facto de
serem pequenos e neste caso é extraordinariamente leve, facilitava seu
transporte e o acondicionamento em viagens. Mas eram também usados em banquetes
demorados, onde as damas se escondiam atrás das cortinas quando precisavam de
urinar.
Quanto aos
homens, nesses banquetes, e a avaliar por gravuras inglesas, tinham bacios
escondidos nos armários da sala de jantar.
![]() |
Gravura inglesa de 1814 |
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terça-feira, 15 de julho de 2025
Objecto Mistério Nº 58. Pergunta.
O objecto que
hoje apresentamos em cerâmica, muito leve, apresenta uma boca oval, com as dimensões de 15
x 10 com, excluindo a asa ou pega.
Como se designa e qual a sua utilidade?
quarta-feira, 2 de julho de 2025
Separadores de pratos
Confesso que nunca tinha visto
separadores de pratos feitos especialmente para esse fim. Em tecido branco, de
piqué de um lado e feltrado do outro, ou com belos tecidos coloridos, todos se
apresentam orlados. Mais frequentemente com fita de seda, por vezes com gorgorão,
ou mesmo com franja.
Hoje em dia as pessoas colocam,
de forma prática, folhas de rolos de papel de cozinha para separar os pratos que
se desejam empilhar. Funciona, mas não corresponde ao mesmo efeito protector.
Podem também encontrar-se, em raras lojas, protectores em feltro, mas não têm a
beleza destes exemplares.
Datados alguns do final do
século XIX e outros do início do século XX, são espelho de um requinte e
cuidado de protecção de pratos de qualidade.
Para mim, foi uma descoberta e um encantamento pelas coisas simples, cuidadas. Sempre a aprender!