quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Convite: Lançamento de livro na Covilhã

 

Durante o Festival da Cherovia, de que sou confrade, irei apresentar o livro “Receitas particulares e Curiosas”, baseado em dois manuscritos de receitas, do século XIX, da região Norte.

Ao mesmo tempo farei uma pequena exposição de objectos relacionados com a cozinha e a mesa, que fazem parte do meu espólio e do sonho de um dia fazer um Museu. Apareçam!

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Uma caixa protectora

 

Os cadernos dedicados especificamente ao registo de receitas da época de 1960-1970, são hoje muito interessantes.

Tenho vários com receitas, mas a grande maioria encontra-se em branco ou apenas com meia dúzia de receitas registadas. Aquele ar arrumadinho para registo do que já se encontrava em cadernos antigos ou em papéis soltos, não resultou completamente.

Eu percebo isso bem. As agendas muito bonitas, cá em casa, também ficavam sem registos, sendo preferidas as mais práticas e que não davam pena “estragar”.

Hoje, nas arrumações, encontrei vários destes cadernos, que mostrarei proximamente, mas agora fico-me por esta, metida numa caixa de papelão e completamente nova. Nunca foi usada, como muitas outras. Perderam-se as receitas, mas ganhou-se um caderno com capa de plástico, impecável. Às vezes não se pode ter tudo.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Uma ementa e uma boa história associada

  

Tenho um bom arquivo de ementas que guardo por temas. Algumas têm interesse pelo aspecto gráfico, outras pela sequência de pratos e outras ainda, as comemorativas, podem ser valorizadas de acordo com o motivo ou quando têm uma história associada. Foi o caso da que agora se apresenta e que nos mostra como, às vezes, o mundo é pequeno.

 O meu amigo Pedro ofereceu-me uma ementa de um almoço de homenagem a Noel Perdigão. Datada de 12 de Março de 1944 teve lugar na Casa do Ribatejo. Olhei para ela e pensei: “Este nome diz-me qualquer coisa. Já me passou pelas mãos algum tipo de informação”. Como tinha estado a fazer recortes (que eu guardo por temas) de umas revistas antigas que se encontravam deterioradas, pensei que devia ser daí.

Depois de uma longa procura, uma vez que todo o material relacionado com esta figura, não estava ainda arquivado acabei por encontrar uma pasta onde se encontrava um jornal Vida Ribatejana, de 21 de Janeiro de 1977, dando a notícia da morte de Noel Perdigão com 81 anos, com pormenores sobre a sua vida e agradecimentos à sua vasta colaboração nesse jornal.

Já em 1955 a Vida Ribatejana havia publicado um artigo de duas páginas sobre este artista com o subtítulo “Pintor Ribatejano”. Elogiando a sua acção mostrava várias obras da sua autoria.

Para além da sua obra artística como pintor e desenhador, fica-nos a ideia de alguém que era apreciado pelos seus colegas. No mesmo lote consta uma capilha com uns versos a ele dedicados por ocasião da sua mudança de jornal para um outro e que aqui se mostra. Assinado por vários colegas, os versos recorrem aos vários jornais da época, cujos títulos são enquadrados na métrica. Permito-me pensar que poderia existir outra ementa deste dia, sabendo bem como são os portugueses nas despedidas… Mas essa não apareceu.

Noel Perdigão ao centro

Mas o mais interessante é que possuo as fotos, em álbum e avulsas, que cobrem a vida de Noel Perdigão. Compradas noutro local vieram juntar-se à ementa e completar uma história. Situações destas não são raras quando é vendido um espólio a várias pessoas. O que é raro é juntar dados dispersos de uma vida, completá-los e valorizá-los. E isso é o que eu faço quase todos os dias.

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Objecto mistério Nº 67. Resposta: chávena para café turco

 

O chamado “café turco” é uma bebida do café tradicionalmente preparada sem filtro e com café moído finamente. Para além do café e da água, o açúcar costuma ser adicionado logo na preparação. Tradicionalmente era feito nas brasas, sendo fervido num utensílio designado cezve. Este apresenta um feitio tronco cónico, com uma asa horizontal em madeira e mais tradicionalmente é feito em cobre.

Dois tipos de Cezve. Colecção AMP
É a forma mais original de preparar o café, no Médio Oriente e que se espalhou inicialmente no Império Otomano e que se mantém até hoje na Turquia e noutros países envolventes. Foi da cidade portuária de Mocha, situada no actual Iémen, que se desenvolveu o comércio de café nos séculos XV e XVI. Daí o café espalhou-se pela primeira vez no Império Otomano, onde era consumido principalmente em cafeterias, que se tornavam importantes pontos de encontro social e cultural.

Nos séculos XV e XVI já se encontrava nas principais cidades do Egipto, da Síria e do Iraque. O café seguiu depois para a Europa, constatando-se a existência das primeiras cafeterias europeias em Veneza, Londres, Paris e Viena no século XVII.

Ainda hoje é esta a forma de consumo desta bebida, que é servida em pequenas chávenas mais ou menos requintadas. Estas duas chávenas foram-me oferecidas pela minha afilhada Filipa, que as trouxe da Turquia, e devem datar da primeira metade do século XX.

Porta-copos para café turco. Século XIX. Colecção AMP
Mais antigos são os porta-copos em prata arrendada com um pé onde entrava um pequeno copo em porcelana e de que possuo dois exemplares.

Estive em Istambul há vários anos e lembro-me ainda de ver rapazes com os típicos tabuleiros de metal com três ou quatro braços, que terminavam numa argola e onde pousavam as pequenas chávenas. Distribuíam o café pelas lojas, respondendo aos pedidos dos clientes habituais.

Para saber mais ler o que já escrevi sobre este tema, em 2008 e 2009, carregando no link:

- O café turco 

- Istambul e o café turco 

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Objecto Mistério Nº 67. Pergunta.

 


Ofereceram-me hoje estes dois objectos.

O pires tem de diâmetro 10 cm. Quanto ao conjunto tem uma altura aproximada de 10 cm. São, portanto, pequenos. A que se destinavam?

quinta-feira, 18 de julho de 2024

A grande maravilha, segundo José de Lemos

  

Quando vi este pequeno folheto de publicidade ao GAZCIDLA, fiquei encantada com o grafismo e a história tão simples e decidi pô-la no blogue. Durante a pesquisa descobri que eu própria já havia apresentado, em 2010, esta pequena obra de José de Lemos com o título: No Comment. A Pequena maravilha. 

Da vasta obra de José de Lemos (Lisboa, 1910-1995) salientamos os livros para crianças, publicados sobretudo na década de 1940 e 1950. Quanto a este folheto está datado de 1958. Ficaram sobretudo famosos os desenhos feitos para o jornal Diário Popular. Como diz Jorge Silva, no seu livro sobre a sua obra, “O Riso Amarelo, foi a mais célebre rubrica de Lemos. Apareceu em 1965 e acompanhará o jornal até à derradeira saída das rotativas, em 28 de Setembro de 1991. O Riso será o retrato lisboeta do país e do conformismo cívico dos últimos anos da ditadura”.[1]

Passados 14 anos da minha anterior publicação acho que merece voltar para apresentar a história resumida do Necas que gela ao tomar um banho. A sua mãe tenta sem sucesso aquecer a água num fogareiro, mas sem sucesso.

Quando o sr. Silva chega a casa o Necas estava mal lavado, cheio de frio e o almoço não estava pronto, pelas mesmas razões. Quando o sr. Silva vai comer a sopa estava fria. Olhou para a mulher que se apresentava tudo enfarruscada do carvão, disse-lhe que parecia a mulher de um carvoeiro. 

A mulher do Sr. Silva (que não tinha nome, ao contrário do cão que era o Barbaças), desejou fugir para a China. Não quem queria ir para a China era o sr. Silva. E o problema adensou-se quando o Necas perguntou onde ficava a China. A pergunta inocente valeu-lhe um sopapo. Um drama familiar!

O problema ficou resolvido quando sr. Silva decidiu optar pelo GAZCIDLA. Transportou para casa a botija seguido de um camião com os vários objectos necessários à utilização do mesmo.

 Com todo este arsenal a felicidade entrou na casa da família, partilhada até pelo cão Barbaças. E tudo isto foi possível porque tinha entrado em casa, segundo o sr. Silva, a “maior maravilha do século XX”.



[1] SILVA, Jorge. José de Lemos. Abysmo. 2022.

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Museu Virtual. Batedor de ovos do século XIX

Nome do Objecto: Batedor de ovos e de massas.

Descrição: Objecto em cerâmica com forma cilíndrica globosa, assente numa base circular. Com vidrado branco tem escrito nas duas faces, em letra violeta, informações sobre a sua utilidade e sobre o prémio que a empresa tinha já ganho em Exposições universais anteriores (1851 e 1861). No seu interior assentava um batedor metálico, que não está presente.

 

Material: Pó de pedra.

 Época: 1862.

 Marcas: Tem apenas um W inciso na pasta.

Origem: Fabrico inglês adquirida no mercado nacional. Produzida por George Kent Ltd, situada em High Holborn, Londres.

 

Batedor completo. Fotografia tirada da internet.

Grupo a que pertence: Equipamento culinário para misturar os alimentos.

 Função Geral: Bater alimentos em forma líquida.

 Função Específica: Bater ovos e massas.

 Nº inventário: 5280.

 Objectos semelhantes: Vários batedores metálicos e batedores de manteiga com recipientes em vidro.

 

História da Fábrica:

Empresa fundada por George Kent em 1838. Designada inicialmente George Kent Ltd, situava-se nos nº199 a 201 em High Holborn, London WC. Em 1848 patenteou um afiador de facas, que ficou famoso, e que viria a receber vários prémios em exposições internacionais, como é declarado em publicidade e neste batedor que refere as datas de 1851 e 1862. Nos anos seguintes criou vários utensílios de cozinha que são patenteados e obtêm grande aceitação sobretudo nos Estados Unidos. Em 1868 registou uma nova patente com uma invenção de “conservadores de gelo melhorados, refrigeradores e caixas de gelo”. Em 1974 a empresa foi adquirido pela companhia suíça Brown, Boveri and Co.

 

NOTA:

Os primeiros batedores com peças rotativas devem-se provavelmente a um design americano, patenteado em 1856.

 Em Inglaterra, o primeiro batedor parece ter sido o “Whisk” de Griffiths, com patente de 1857.
 Alguns dos primeiros exemplares eram fixados dentro de uma panela, o que impedia de ser usados com outras tigelas. Muitos deles foram desenvolvidos pelos mesmos inventores que projectaram as pequenas batedeiras de manteiga accionadas manualmente e que eram de uso mais frequente.