domingo, 31 de julho de 2011

Um bote na praia da Figueira da Foz

A praia da Figueira da Foz é hoje um extenso areal. Para chegar ao mar há que caminhar por uma passadeira de madeira.
Na parte mais alta situam-se as barracas e os toldos, de riscas coloridas, que aumentam a beleza da praia. Depois há que descer e chega-se ao mar, de cores puras.
Falamos da praia da «Bola Nívea». A bola publicitária foi lá colocada há, talvez, 50 anos, numa época em que as pessoas se bronzeavam.

Perto desta, a meio caminho entre a terra e o mar, fica um pequeno restaurante de praia. «O bote».
Na altura, com o mar mais perto, servia de ponto de vigia dos banhistas. Hoje, no tempo dos protetores solares, lá se mantém, como um marco. Parece sempre lá ter estado.
Na esplanada, sob um chapéu de sol, respira-se uma brisa agradável.
A ementa é simples, mas apurada. Come-se sobretudo peixe.
No dia privilegiado em que lá estive comi percebes, carapauzinhos fritos, biqueirões grelhados e os mais esfomeados comeram sardinhas assadas com pimentos e batatas cozidas.
A acompanhar pode escolher-se cerveja ou um bom vinho a copo, numa selecção feita pela mulher do proprietário, que é enóloga.
No final a conta foi uma agradável surpresa.
Desconfia-se destes locais de praia que muitas vezes, são caros e maus. Aqui passa-se o contrário. Quem o sabe são os turistas, em especial os espanhóis. A praia da Figueira teve desde sempre um grande número de espanhóis a passar a época balnear. Para alguns é a praia que lhes fica mais perto.
Já descobriram o restaurante e à hora de almoço lá vêm eles com as famílias saborear o nosso bom peixinho ou os petiscos do dia. O Bruno, o proprietário, recebe-os bem e eles voltam todos os dias.
Os portugueses, com medo da crise, passam ao lado, o que é pena.
Vale a pena experimentar.

 

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Museu Virtual: Talher de Trinchar em caixa

Nome do Objecto: Talher de Trinchar em caixa.
Descrição: Caixa de cartão forrada exteriormente com papel e no interior com veludo e seda, que contém um conjunto para trinchar. É constituído por um garfo com suporte, uma faca de trinchar e um afiador de faca.
Material: Aço inoxidável e “falso osso” (celulóide?).
Época: Cerca de 1930.

Marcas: Cutler Craft®, Sheffield, Stainless.

Origem: Mercado inglês.

Grupo a que pertence: Equipamento culinário.
Função Geral: Equipamento culinário para o serviço e consumo.

Função Específica: Trinchar carne à mesa.
Nº inventário: 504

terça-feira, 26 de julho de 2011

Barafunda na cozinha


Esta cena de gatos na cozinha parece um quadro da Paula Rego, mas é apenas um postal ilustrado que foi enviado por uma menina que se encontrava de férias, em Agosto de 1960.
A mãe gata, que estende a massa, conta com a colaboração dos seus 5 filhos, em que cada um colabora de forma diversa.

A filha mais velha corta a massa com um copo e coloca as bolachas em meia lua num tabuleiro.
Um dos filhos tenta roubar a massa que está em cima da mesa, enquanto o outro o repreende com a colher de bater a massa.

No plano do fundo, na despensa, um dos gatos mais novos atira-se a uma outra tigela de massa que entorna.

A confusão aumenta com a entrada de passarinhos pela janela que, aproveitando a confusão, vão debicando as bolachas.
Uma verdadeira cena familiar na cozinha.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O Bebé Nestlé

A farinha Nestlé para bebés foi durante muitos anos um produto farmacêutico vendido exclusivamente em farmácias.
Isso deveu-se a ter sido criada por um farmacêutico, Henri Nestlé. De origem alemã, foi na Suíça, para onde foi viver que decidiu criar uma fórmula à base de leite de vaca, farinha de trigo e açúcar destinada a alimentar crianças mal nutridas.
Estava-se no ano de 1867, numa época em que existia uma grande mortalidade infantil e em que a alimentação das crianças era uma preocupação social.
Em Vevey, onde então vivia, experimentou a sua fórmula num filho de um vizinho, um bebé prematuro, intolerante ao leite materno. Ao contrário do esperado, o bebé sobreviveu.
Confirmava-se assim a importância de um produto a que o seu criador iria dar o seu nome: a Farinha Láctea Nestlé.
Na sua publicidade, inevitavelmente, surgiam bebés ou crianças, de aspecto saudável. Já em 1897 Alfonse Mucha, o conhecido desenhador de cartazes Arte Nova havia representado uma mãe e um filho para a publicidade da Nestlé.
Em Portugal, foi frequente a publicidade em revistas em especial na primeira metade do século XX. A expressão «Bébé Nestlé» ficou na linguagem corrente para referir uma pessoa com ar saudável e rechonchudo.

Hoje apresentamos a imagem do verdadeiro bebé Nestlé da farmácias.
O primeiro em louça deve datar dos anos 40 e fotografámo-lo na Farmácia Faria, na Figueira da Foz.
O segundo, é em material plástico e foi-me enviada a fotografia pela minha amiga Isabel Almasqué, como sendo um bebé Nestlé. Deve datar dos anos 50 e foi usado na montra de uma farmácia, para fazer publicidade à farinha Nestlé, juntamente com o produto.
Hoje apresento-lhe os dois meninos, mas prometo voltar a este tema.

domingo, 17 de julho de 2011

Cesteiro que faz um cesto....faz um cento


Numa pequena travessa junto à Casa do Paço, na Figueira da Foz, deparo-me com um vendedor de cestos. Recolhido, aproveitando a sombra do edifício, expõe os seus produtos no chão.
Olho e reconheço modelos antigos. Meto conversa com ele para recolher informações. É o sr. António Silva Leopoldo, nascido há 88 anos na aldeia de Mata Mourisca, no concelho de Pombal.
É bem conhecido pelas pessoas da Figueira, como venho a confirmar depois com um transeunte. Não admira, já desde os 14 anos que sai da sua aldeia para ir vender cestos à Figueira. Conta-me que nessa altura vinha com a irmã mais velha, a pé, descalço, acompanhado por um burrico que trazia os cestos. Aponta para o sítio onde amarrava o burro junto ao cais agora transformado em passeio. Depois mais tarde arranjou uma bicicleta. Agora vem de comboio. É um homem rijo e diz que as pessoas lhe dizem que é são por ter andado tanto a pé.

No chão encontra-se uma variedade de artigos de cestaria feitos de dois materiais: capachos, cestos, bases de tachos em esparta ou bracejo e cestas, cestos e canastas feitas em castanho.
As peças feitas em bracejo (Brachypodium Phoenicoides para quem quiser saber mais) são primeiro entrançadas e depois manuseadas para lhes dar várias formas e este é um trabalho de mulher. É a sua mulher quem as faz. Olhando bem, os pequenos círculos decorativos que circundam a borda são realmente femininos.

Já a cestaria em castanho é trabalho de homens. É preciso escolher os ramos de castanheiros novos, pô-los de molho em água, cortá-los e entrançá-los para fazer os cestos, que quando têm asas se chamam cestas.
O casal é o último da aldeia e quando morrerem já ninguém mais vai fazer esta cestaria. Um senhor que o conhece diz-me isso mesmo quando passa: «Olhe que quando acabar não há mais».

Prometo-lhe que um dia destes vou visitá-lo à aldeia. Compro-lhe todos os modelos que traz e deixo-o feliz. Mais feliz fico eu por ter encontrado a tempo um dos últimos representantes destas profissões que vão desaparecendo.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Lançamento do livro « A Mesa dos Reis de Portugal»

É amanhã, dia 13 de Julho, às 18,30 o lançamento do livro « Mesa dos reis de Portugal».

O livro, onde colaborei com um capítulo intitulado «Ofícios de boca» na Casa Real Portuguesa (séculos XVII e XVIII), conta com a participação de mais 25 historiadores interessados nesta área. Para não fazer distinções não referirei nomes, que são contudo bem conhecidos por quem se interessa por história da gastronomia ou pela vida na corte portuguesa.

A coordenação esteve a cabo de Ana Isabel Buescu e David Felismino e tem apresentação de Maria Helena da Cruz Coelho.
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O livro, que tem como subtítulo «Ofícios, consumos, cerimónias e representações (séculos XIII-XVIII)», é uma edição do Circulo de Leitores e faz parte da série "Temas e debates".

Encontra-se dividido em cinco temas principais:
- Casa e ofícios de mesa.
- A mesa dos reis. Espaços, objectos e utências.
- Os reis à mesa. Cerimónias e etiquetas.
- Os alimentos.
- Imagens e representações da mesa.
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 O lançamento terá lugar no Palácio Fronteira e estão todos convidados.


sábado, 9 de julho de 2011

Weihenstephan. A fábrica de cerveja mais antiga do mundo.

Tive esta semana uma reunião em Munique. Na verdade nunca lá cheguei. Fiquei instalada num hotel de congressos a meio caminho entre o aeroporto e a cidade, que não visitei.
Sempre que vou ao estrangeiro procuro descobrir algum alimento ou característica alimentar local que seja interessante para incluir no contexto do meu blog. Desta vez pensei que não ia conseguir.
Mais eis que me transportam para um jantar numa cervejaria. Antes do jantar oferecem-nos uma visita guiada à fábrica de cervejas contígua. Fico entusiasmada quando ouço que se trata da mais antiga fábrica de cervejas do mundo em laboração.
No exterior, numa das fachadas dos enorme complexo, deparo-me com a data de 1040. Esta é a data de que há confirmação escrita do início da fabricação de cerveja. Contudo, existiu anteriormente no local uma abadia beneditina: a abadia de Weihenstephan. Fundada cerca de 725, esteve na origem da produção de cerveja e viria a dar origem a uma das fábricas de cerveja mais conhecidas na Alemanha: a Weihenstephan.
A abadia de Weihenstephan
Um aspecto que sempre me interessou em relação à cerveja foi a diferença da sua constituição inicial.
Esta bebida antiga, que se sabe ter existido desde o século VI A.C., era diferente. Deparei-me há alguns anos atrás com essa discussão no livro de Leo Moulin, Les Liturgies de la Table. A diferença é difícil de explicar, para nós portugueses, que só temos uma única palavra «cerveja». Por isso usarei as palavras francesas e inglesas para distinguir a bebida “cerveja”, tal como a conhecemos hoje, da forma anterior, a «cervoise» ou «ale», em que não era acrescentado o lúpulo.
A flor do lúpulo
No século XV o lúpulo (hop) ainda era mal conhecido e num texto de 1444 fazia-se referências à «cervisia lupulina». No livro «Histoire des Plantes», de Rembert Dodoens, publicado em Antuerpia em 1557, surge a imagem e descrição das características do lúpulo (Lupus salictarius).
No entanto o lúpulo já era conhecido desde o fim do século VIII, o que levou Leo Moulin a fixar a data do início da fabricação da cerveja no final do século VIII ou início do século XIX.
Na minha investigação para a Mesa Real encontrei referência ao preço de venda da “cerveja do Reino” no século XVII. Em 1698 o seu consumo tendia de tal modo a aumentar que levou a uma consulta da Câmara a El-Rei. Considerava-se que uma grande ruína ameaçava o vinho «se continuar, como se vai introduzindo, a fabrica e venda de cerveja». Existiam nessa altura seis tabernas de cerveja no Poço de Fotea (actual Rua de S. Julião) e no sítio dos Remolares (actual cais do Sodré).


Voltemos à visita às instalações da Weihenstephan com a zona inicial da adição da água, arrefecimento e formação do mosto, seguida da fermentação e a cozimento da cerveja e da adição do lúpulo e que precedeu uma prova de cervejas.
Foto das antigas cubas em cobre agora substituídas por outras em aço
Foram apresentadas algumas das variedades produzidas e e iniciou-se a prova, à semelhança de uma prova de vinhos, observação da cor, cheiro da cerveja e só depois a prova propriamente dita.


Não estou habituada a este tipo de cerveja, de gosto distinto e excessivamente gasosa para os nossos padrões. Mentalmente comparo-a com a cerveja portuguesa e fico satisfeita por a nossa ganhar. Gostos adquiridos, evidentemente discutíveis.
Informam-me que a produção é enorme e a exportação importante para a Ásia, Japão, USA, etc., países com poder económico que podem adquirir uma cerveja de preço mais elevado. Fico satisfeita por eles, e pela pujança económica que a Alemanha transmite, mas também por mim, tal como nas histórias para crianças com final feliz.

sábado, 2 de julho de 2011

Bernardo Marques e a publicidade a bolachas



Da extensa obra de Bernardes Marques (1898-1962), interessa-nos hoje falar na sua actividade no campo publicitário.
Com um sentido de humor que se revelou logo em 1920, quando expôs no 3º Salão dos Humoristas, iria participar como ilustrador em várias revistas. Publicando inicialmente na revista ABC e na Ilustração Portuguesa e mais tarde na revista Panorama, para mencionar apenas as mais conhecidas, deixou-nos uma representação mordaz da sociedade, em que ridicularizava alguns ambientes. A modernidade feminina, manifestada através de novas modas e tipos de vida, foi também alvo dos seus desenhos.
No campo publicitário salientamos a sua colaboração para a publicidade de bolachas.

A primeira imagem apresentada corresponde a uma gravura que comprei há alguns anos. É o produto acabado de uma maqueta para as «Bolachas Nacional», que pertence à colecção de Maria Elisa Marques e esteve exposta em 1999, na exposição «Bernardo Marques. Obra Gráfica».
Bernardo Marques desenhou também uma maqueta para publicidade para as “Bolachas Maria” da Triunfo, um guache que também faz parte da colecção referida. Provavelmente posterior, uma vez que a fábrica era também mais recente, apresenta nos seus desenhos as características nacionalistas que o artista iria desenvolver na sua obra para o Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), mais tarde designado por SNI, na sua colaboração com António Ferro.

Nos cantos da gravura podem observar-se algumas figuras femininas que mais tarde vão ilustrar, como figuras regionais, os folhetos e ilustrações turísticas, desde o final década de trinta até à década de 50.