terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Boas Festas e Feliz Ano de 2025

 

Para desejar um Bom Ano Novo resolvi utilizar este cartão antigo da Covilhã. Deve datar da década de 1940-1950 e mostra-nos uns festejos ao “gosto antigo”. Em várias situações eram utilizadas cenas que nos remetiam para outras épocas e que tiveram sucesso no Estado Novo.

Exemplo disso é a conhecida imagem da Ceia dos Cardeais, que foi usada em publicidade a vinhos, em especial ao Porto Rainha Santa, entre outros.

A Ceia dos Cardeais foi uma peça de teatro escrita por Júlio Dantas e que estreou em 24 de Março de 1902. Durante a refeição os três cardeais, em monólogo, um português, um francês e um espanhol, recordam os seus primeiros amores, no interior de uma sala ricamente mobiliada do Vaticano, enquanto comiam um prato de faisão com trufas.

No caso do cartão aqui usado, os festejos têm lugar numa aprazível sala com lareira, onde se saúda com champagne. Também aqui foi usada uma estética a recordar o passado. O mais interessante é que se trata de um cartão de Boas Festas enviado pela empresa de José dos Santos Pinto, que desconheço a que se dedicava, mas cuja actividade no campo associativo levou a que fosse construído o estádio de Futebol da Covilhã. Em 1940, o estádio tomou, em sua homenagem, o nome de Estádio José dos Santos Pinto. A casa dos meus pais situava-se perto, no largo do campo de futebol, pelo que me traz muitas boas recordações.

A todos os meus votos de um Feliz Ano de 2025.

sábado, 21 de dezembro de 2024

Votos de Natal 2024 e uma carta do Menino Jesus

 

Votos de um Feliz Natal a todos os que lêem estas minhas palavras. Bem a propósito adiciono uma carta de Natal, enviada em 1948, por um menino José Manuel e dirigida ao Menino Jesus que, por coincidência, foi comprada hoje na Feira da Ladra.

Da carta enviada com o pedido só sobrou o envelope, mas percebe-se, pela resposta, que o seu pedido se destinava a obter uma batuta. Pedido que evidenciava gostos musicais e que seria inesperado nos dias que correm. A resposta dada pelo Menino Jesus, em carta enviada do céu, foi afirmativa. Adivinha-se nesta correspondência uma valorização do Menino Jesus em desfavor do Pai Natal, a quem também muitos meninos enviavam cartas, já nessa época.

Na resposta, o Menino Jesus, cheio de pressa porque tinha outras cartas para responder, avisava que em troca não podia preocupar a mãe e comer tudo sozinho, nunca afirmando que não gostava. A letra feminina faz-me suspeitar deste menino Jesus. Que acham?

Um Feliz Natal!

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

O meu gosto pela romã

 

A romã é uma infrutescência da família das Punicáceas, e a sua cultura é conhecida desde a Antiguidade. É originária do Médio Oriente, em especial das terras da Ásia Menor, Transcaucásia, Irão (antiga Pérsia) e Turquemenistão.

Hoje em dia o Irão e a Índia, são os maiores produtores. Não sei quando chegou a Portugal, mas a sua produção continua ainda, nos nossos dias, pequena e dispersa. Talvez porque os apreciadores dos seus belos bagos são poucos, ou porque os portugueses sejam preguiçosos para descascar as romãs, ou não saibam como fazê-lo.


A romanzeira no Tacuinim Sanitatis (séc. XIV)

Já usei várias técnicas para descascar as romãs. Com a Nigella Lawson aprendi a cortá-las ao meio, horizontalmente e a segurar cada metade, batendo com uma colher de pau. Resulta, sem sujar as mãos, mas o melhor é seguir os passos dos povos que mais as consomem e que cortam as duas “tampas”, pondo a descoberto os sítios de separação dos vários gomos. Depois é só cortar por essa linha e separar os bagos, tirando as peles que os envolvem.

Este ano ofereceram-me uns frutos maravilhosos. E este poste foi despertado pela sua beleza, que me levou a querer fotografá-los. Mas também, não esqueçamos, o seu agradável gosto. Aprecio-o em especial em salada, colocando os bagos numa taça, temperados com açúcar, canela e vinho do Porto. Gosto de juntar algumas gotas de limão, mas este ano tinha limão caviar e não resisti a juntar algumas “pérolas” desse citrino tão diferente, que não permite dele obter sumo.

 Também no que respeita à simbologia este fruto é rico. Os seus múltiplos bagos levaram a que lhes fosse atribuído o significado de fertilidade e abundância. É com esse sentido que surge nos bordados de Castelo Branco.

Está presente na arte sob várias formas. Boticcelli pintou-a no quadro “La Madonna della Malagrana” simbolizando a perfeição divina, o amor cristão e a virgindade de Maria, mãe de Jesus.

E já no século XX a pintura Maluda deixou-se encantar pela imagem poderosa deste fruto, e de que eu já falei anteriormente. Gosto sempre de voltar a estes lugares felizes.

domingo, 1 de dezembro de 2024

O encontro de dois mundos

  

Quando se investigam as origens chega-se, por vezes, a bons resultados. Refiro-me aqui a peças, e não a pessoas. Isto é, não se trata da árvore genealógica, mas os métodos. Neste caso refiro-me a duas canecas de cerâmica feitas na Fábrica Raul da Bernarda. São peças estampadas do final dos anos 60, com desenhos ingénuos, muito semelhantes a imagens usadas em canecas regionais oferecidas como recordação.

Ao organizar um arquivo de decalques de uma firma da Marinha Grande, que já não existe, e de que falarei mais tarde, encontrei precisamente os respeitantes a estas canecas. A verdade é que primeiro surgiram os decalques e só depois foi feita a “descoberta” da peça, perdida no meio de muitas outras.

Os decalques para cerâmica e vidro foram e continuam a ser profusamente usados. De forma mais simples e rápida do que a pintura manual, reproduzem as imagens que se querem divulgar.

O acesso a um arquivo deste tipo permite estudar tipologias e os gostos de uma determinada época. Dada a vastidão do mesmo, voltaremos seguramente ao tema. Antes, há que estabelecer alguns “acasalamentos”.