segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Lebre à Bernardine. Uma receita poética


Há muitas maneiras de escrever receitas. Mais simples ou mais elaboradas, quase todas correspondem a uma tipologia que está em moda na época.

Como já disse uma vez, a minha descrição das receitas é extremamente simples e aprendida na “escola” Isalita. Ultimamente dou-me ao luxo de fazer acrescentos a essa fórmula rápida. Depois de experimentada posso acrescentar: fica melhor se levar menos X de açúcar; não precisa de tanto tempo no forno, etc.

Mas não resisto a uma boa receita literária. Esta, que vinha no meio de um manuscrito, é um bom exemplo. O requinte dos pormenores, na sua pretensa simplicidade, revelam um gastrónomo empenhado que não se esquece mesmo de nomear os vinhos apropriados para acompanhar esta iguaria. 

1 comentário:

Sofia Loureiro dos Santos disse...

Tb gosto de receitas assim como que a brincar às poesias:

Das terapêuticas anti-virais

Contra gripes repentinas
e outros vírus coroados
compota de nectarinas
e ficamos vacinados.

Corte tudo em pedacinhos
retire só o caroço
de canela uns pauzinhos
de cravinho só um esboço.

Açúcar pesa metade
do peso das nectarinas
tudo em conformidade
das dietas em ruínas.

Não se deve esquecer
o que diz a tradição
e que consta em espremer
um sumarento limão.

Das terapêuticas anti-virais (reload)

Não vá o diabo tecê-las
Obrigatória a prevenção
Maleitas temporãs nem vê-las
Afastamo-las com estadão

Panelas grandes a preceito
Há que manter a tradição
Descascar ameixas a eito
Para dentro do panelão

Do gengibre são conhecidas
As vantagens medicinais
Qualidades enaltecidas
E uns poderes fenomenais

Da canela não é segredo
Que cura gosmas e terçolhos
Contra enfartamentos e medo
Elimina até os piolhos

Juntar açúcar bem medido
Do branco ou do amarelo
A ser mexido e remexido
Como se enrolasse um novelo

As quantias serão as certas
Para adoçar o paladar
Menos ou mais verás que acertas
No gosto que mais te agradar

Bom apetite!