domingo, 5 de janeiro de 2020

Patrão fora….


Foi só quando me pediram há uns anos para fazer uma conferência num Congresso Internacional de Paremiologia[1] que me apercebi da diferença que existe nos provérbios dos vários países. Isto é, para dizer o mesmo, não é possível fazer uma tradição literal porque a expressão usada é completamente diferente.
Esta gravura foi retirada de uma revista de 1890 La Ilustracion Iberica, e surpreendeu-me pela presença de um cozinheiro na sala, ainda para mais, a tocar flauta. Olhando melhor percebe-se que afinal estão presentes todos os elementos do pessoal de cozinha e sala. Sentado numa cadeira observa-se um dos criados da casa, mais velho, possivelmente o mestre-sala, responsável pelo serviço que tinha lugar nesta e por todo o pessoal de sala. Dorme profundamente, resultado de excesso de bebida, como nos mostram as garrafas e copos que cobrem a mesa. Em plano de fundo uma cozinheira, com avental e touca, conversa com dos seus colegas, apresentando-se este, com prosápia, a fumar um charuto. Uma caixa sobre a mesa indica-nos a sua origem.
Os restantes casais passeiam e dançam. Eles com as jaquetas de serviço de mesa e elas com roupas melhoradas, pessoais ou alheias. Não sabemos.
A legenda da gravura diz: «Cuando non está lo gato, los ratones bailan». A gravura assinada por Paul Grolleron (1848-1910) tem a data de 1879. Este pintor e ilustrador francês especializou-se em cenas de batalhas, sobretudo da guerra franco-alemã de 1879 e em representações de militares.
Paul Grolleron fotografado em 1882 por Anatole Louis Godet (Wikipedia)
Aqui temos a sorte de ver uma gravura sua com um tema diferente que apresenta um momento de maior descontracção, excessiva diria eu, quando os patrões se encontram fora ….e é dia santo na loja.


[1] Uma palavra que parece aplicar-se a uma doença, mas que significa o estudo dos Provérbios.

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