Ao folhear um exemplar da
revista La Constrution Moderne de
1885 deparei-me com a planta de um hotel de grandes dimensões em Menton. O livro
apresentava apenas as gravuras com legendas. Na apresentação do edifício era designado como «Hotel de Voyageurs à Menton», mas seria mais tarde conhecido
como Hotel Alexandra.
Nunca tinha ouvido falar de Menton e, no entanto, é uma cidade muito antiga, situada nos Alpes Marítimos e cuja topografia em
anfiteatro do mar às montanhas a transformou num procurada colónia balnear. Esteve
primeira ligada a Itália, depois ao principado do Mónaco até 1848 e passou para
a posse da França em 1860.
Planta do subsolo onde se encontrvam as cozinhas |
Entrou na moda como estância
de veraneio no século XIX com a chegada de viajantes ingleses e russos à Côte d’Azur.
Serviu de encontro de príncipes e viajantes endinheirados que aproveitavam passar
o Inverno junto ao mar em grandes hotéis de luxo como o "Winter
Palace", o "Riviera Palace" e claro este Hotel Alexandra.
Planta do rés-do-chão onde se situava a sala de jantar |
São
construídos os primeiros hotéis “à inglesa” em Nice e Menton, de inspiração
oriental, por influência colonial, rodeados por jardins que acolhiam os
viajantes, sobretudos vindos do outro lado da Mancha, inicialmente (na segunda
metade do século XVIII) para fazer o Grand
Tour, as viagens em Itália. Com a chegada do comboio á região no século XIX
começaram a instalar-se e modificaram a vida local.
Planta do 1º piso com o jardim de Inverno |
Menton
deve muito do seu desenvolvimento a um médico inglês James Henry Bennett que aí
chegou em 1859 para se tratar de tuberculose. Tendo tido sucesso
publicou dois livros sobre o tema: Sur
le traitement des maladies pulmonaires, par l’hygiène, le climat, et la
médecine, et ses rapports avec les doctrines modernes e L’hiver et le printemps sur les côtes de la Méditerranée.
Corte do Jardim de Inverno |
Estas obra, traduzidas
em várias línguas, levaram a que o número de residentes tenha aumentado
consideravelmente o mesmo acontecendo com as instalações hoteleiras. E, se em
1861 a pequena vila não tinha mais de 2 ou 3 hotéis em 1875 passava para 30.
O
Hotel Alexandra foi inaugurado em 1884 de acordo com um projecto do arquitecto parisiense
Gustave Rives, que rompeu com as tradições do hotel maciço. Embora de
grande dimensões apresenta recortes em que sobressaem as áreas sociais.
No
subsolo situavam-se as grandes cozinhas e áreas de serviço como era moda no
século XIX, todas as dependências possuindo janelas.
A sal de jantar |
No rés-do-chão ficava a
grande sala de jantar, precisamente sobre a cozinha, uma pequena sala de
refeições, os salões, a sala de bilhar, a sala de leitura, etc. Era aqui que
tinha início o jardim de Inverno que se estendia para o piso superior. Nos
andares superiores ficavam os quartos.
Um dos salões |
Foi
o jardim de Inverno que me fez começar a escrever este poste. Esta forma de interiorização
da Natureza, tão ao gosto oitocentista, servia também para tomar refeições
nalgumas situações e habitações.
Jantar em Casa da Princesa Matilde |
Sobre
este tema recordo a bela pintura de Charles Giraud o jantar em casa da Princesa
Matilde Bonaparte, onde a refeição teve lugar num jardim de Inverno e sobre o
qual tanto há a dizer.
Jardim de Inverno do Hotel Krasnapolsky |
E agora que se aproximam as férias recordo o Jardim de
Inverno do Hotel Krasnapolsky, em Amesterdão, onde eu comi o melhor pequeno-almoço
de que me lembro. Não terá sido influência do espaço?
Bibliografia:
Bottaro, Alain. La villégiature anglaise et l’invention de
la Côte d’Azur. Consulta
em linha em: http://journals.openedition.org/insitu/11060
Planat, P. (Director). La Construction Moderne. 24 de Outubro
de 1885
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