quarta-feira, 30 de maio de 2018

A Tecelagem Doméstica por Sereira Amzalak

Noutras mãos estes papéis não seriam grandemente valorizados e esta informação ia perder-se. No meio de amostras de rendas e de tecidos encontravam-se dois papéis. Um deles um folheto de apenas duas folhas que anunciava uma Exposição de Tecelagem Doméstica promovida pelo Secretariado Nacional de Informação (SNI), no Palácio Foz, em 1951.

 Anexo existia uma folha em que se publicitava o «Curso de Tecelagem Doméstica» ministrado pela organizadora Sereira Amzalak. Na exposição apresentavam-se os trabalhos das suas alunas, aproveitando para estimular o interesse por este tipo de manufactura.
Sereira Amzalak, nasceu em 1902 e adquiriu este gosto pela tecelagem feita em teares manuais nos Estados Unidos para onde foi durante a II Guerra Mundial. Segundo as palavras da própria viu teares manuais na «Women’s exhibition» que a entusiasmaram a inscrever-se na Universal Handicrafts School em Nova Iorque, onde obteve o diploma de tecelagem doméstica.
N.Y World's Fair (1939-1940)
Esta escola tinha sido fundada por Edward T. Hall, que havia sido vice-presidente de uma fábrica famosa e que decidiu abandonar o trabalho para fazer uma escola de artes manuais que considerava que fazia bem ao espírito e curava o stress. 
Começou por uma pequena escola, feita com as suas economias em Back Bay, em Boston, onde ensinava artesanato básico. Em 1936 fundou a referida escola em Nova Iorque, segundo ele, com o fim de tornar as pessoas mais felizes, ao serem criativos com trabalhos manuais. Publicou nessa data o livro «Expression of self through handwork».
Este movimento integrado ainda no movimento Arts and Crafts havia sido precedido nos Estados Unidos pelo Kingswood School Cranbrook que em 1931 fundou uma escola para raparigas.
Influenciada por estas ideias Sereira no regresso dos Estados Unidos, em 1947, seguiu para Paris onde visitou um curso de tecelagem da revista «Jardin des Modes». Com estes conhecimentos fundou em 1948 o Curso de Tecelagem Doméstica que ministrava em sua casa na Rua de S. Bernardo, 108, 2º, em Lisboa, a grupos de 12 pessoas.
Maria Josabete Silva Santos
Vieram pessoas de todo o país para frequentar o curso e os seus trabalhos ficaram famosos. Quando em 1960 teve lugar no casino do Estoril o primeiro concurso da «Portuguesa –modelo» a eleita, Maria Josabete Silva Santos, de 21 anos, seguiu para os Estados Unidos com uma mala recheada de toilettes, onde não faltava um «conjunto túnica confeccionado num precioso tecido de lã, algodão e fios de ouro, feito no tear manual de Sereira Amzalak, por mãos portuguesas», como informava o jornal «A província» de Agosto desse ano.
A exposição promovida pelo SNI, de que não encontrei outras informações, vinha na linha de desenvolvimento do artesanato promovido por António Ferro. Os nossos etnólogos iam registando pelo país as actividades que começavam já a definhar e a tecelagem era uma delas, tal como as rendas que estiveram também em evidência nessa mesma exposição.
Sereira casou-se apenas em 1970, aos 68 anos de idade, com Jacques Bensaude, industrial de fiação, nascido em Paris. Sereira Amzalak faleceu em 2000, aos 98 anos de idade.
Nota: As imagens são de amostras que acompanhavam os referidos papéis e que presumo correspondiam a modelos do curso de tecelagem.

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