sábado, 24 de agosto de 2013

Um sorteio dos Bombeiros Voluntários da Ajuda em 1956

 
Abre-se a televisão e lá estão os fogos que devoram o país durante o verão, este ano com a agravante da perda de vidas de bombeiros.
A propósito, lembrei-me de um folheto publicado pela associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Ajuda (Cruz Verde) para um sorteio de utilidades domésticas que se realizou em 15 de Agosto de 1956.
O dinheiro realizado com a venda dos bilhetes do sorteio destinava-se à compra duma auto-maca da marca Mercedes, de cor verde como a cruz que caracteriza a corporação. 
O interessante é que este folheto, de grande beleza gráfica, me levou a descobrir a existência desta associação de bombeiros que ainda hoje se mantém activa e que tem uma longa história. Foi fundada em 10 de Abril de 1880, no Largo da Ajuda, em Lisboa, por iniciativa de um grupo de cidadãos que teve conhecimento de que existia no Palácio da Ajuda, uma bomba do sistema flaud (caldeira que projecta água assente sobre a estrutura de uma carroça), que havia sido oferecida por D. Pedro I ao rei D. Luís. 
Os estatutos iniciais basearam-se nos da 1ª associação de bombeiros portugueses, os Bombeiros Voluntários de Lisboa e na assembleia geral que teve lugar em Maio de 1881, foi decidido que o infante D. Afonso fosse nomeado presidente honorário da associação passando esta a usar no seu título a expressão «Real Associação». 
Talvez tenha sido esta ligação que fez com que o infante D. Afonso, um dos primeiros portugueses a possuir carro, e apreciador da velocidade, exclamasse «Arreda, arreda» para afastar as pessoas do caminho. Ficou conhecido pela alcunha do «Arreda», mas quem sabe se não terá sido influenciado pela urgência dos bombeiros em chegar aos locais, numa forma sui generis de sirene pessoal. 
Esta associação teve uma actividade de grande apoio à população durante o período da revolução republicana que não foi reconhecida pela Cruz Vermelha, a que não terá sido alheio o facto de ter sido uma colectividade protegida pela família real, o que levou a que, em 1911, em assembleia decidissem passar a utilizar o distintivo da Cruz Verde, em tom esmeralda. 
Um outro aspecto interessante e desconhecido é que o grande actor António Silva entrou ao serviço como bombeiro de 3ª classe em 1905 e foi subindo na hierarquia até ser comandante em 1932, cargo que efectuou com zelo, pelo que em 1941 passou ao Quadro de Honra como comandante. 
Referidos estes aspectos passemos ao folheto que nos mostra as imagens das «utilidades domésticas» que eram objectos desejados em todos os lares portugueses. Embora as marcas não sejam as mais divulgadas na época mostram-nos uma grande variedade, que incluí mesmo uma máquina de fazer gelados, e que seguramente terá despertado grande interesse.
Espero que o objectivo da compra da auto-maca verde tenha sido conseguido. Esta é, pelo menos, uma história refrescante neste verão quente sobre uma associação de bombeiros com 133 anos de existência.

4 comentários:

José Leite disse...

D. Ana Pereira

A sua lembrança em publicar e divulgar este folheto, é de louvar.

Muito interessante e curioso.

A publicidade da futura auto-maca em verde-alface e o frigorífico marca "Ben-Hur", além dos restantes produtos nele contidos, são dignos de nota.

"Recordar é viver" ...

Os meus cumprimentos

José Leite

Ana Marques Pereira disse...

José Leite,
Achei o folheto muito interessante e bonito graficamente e serviu-me como forma de homenagem diferente aos Bombeiros, neste momento difícil.
Cumprimentos

Anónimo disse...

E sabe onde hoje se encontram os Bombeiros da Ajuda, e porquê...Uma história deveras interessante.Eles estavam junto do Palácio com o mesmo nome, porém, aquando de um incêndio nas redondezas, deitaram mão a um, ou mais cavalos do Rei e este não achou graça. Logo tiveram de retirar-se para onde ainda hoje se encontram...na Praça da Alegria!

Ana Marques Pereira disse...

Anónimo,
Agradeço a sua informação adicional.