domingo, 21 de julho de 2013

O pasteleiro da Fábrica Nacional de Margarina

  
A figura de José Alberto Inácio Tavares surgiu-me num livro de receitas oferecido pela Fábrica Nacional de Margarina, SARL, (FNM) e que deve datar de 1966. Trata-se de uma pasta de argolas com as capas em plástico intitulada «FNM- Serviço de Receitas».
Destinava-se a introduzir nela as fichas de receitas fornecidas por essa fábrica. Infelizmente dessa época tem apenas duas folhas, sendo as restantes de receitas feitas com «Margarina Serrana».
Logo na primeira página, com o título «O nosso Chefe...», surge a imagem de Inácio Tavares a decorar um bolo, utilizando um saco de pasteleiro. Sobre a mesa de trabalho vêm-se outros bolos mais pequenos mas o foco central é sobre dois pacotes de margarina Serrana, um grande pacote de margarina Chefe e um outro de margarina para Folhados.
Falemos sucintamente sobre as margarinas em causa para passar à figura do pasteleiro. A margarina «Serrana» foi registada em 1929 pela Sociedade de Alimentação (1), que havia sido constituída no Porto a 2/6/1876 (2). Posteriormente esta marca passou para a FNM, mas em 1966 foi a CSM Iberia, SA, presentemente CSM Portugal, que a registou. 
Seria igualmente esta firma que iria registar uma outra margarina da FNM, a marca «Chefe», que tem mais de 50 anos e de que ainda hoje são detentores. Em 2002 esta empresa adquiriu também a FIMA e passou a designar-se BakeMark Portugal, SA.
Concentremo-nos agora na figura de Inácio Tavares que foi Pasteleiro Chefe da Fábrica Nacional de Margarinas até à data da sua aposentação. Nascido em 26 de fevereiro de 1920 em Ázere, Tábua, Coimbra, iniciou a actividade de pasteleiro com 12 anos. Em 1953, era já 1º Oficial de Pastelaria quando concorreu ao concurso «O melhor Pasteleiro de Lisboa», onde obteve o 2º lugar na prova «O bolo mais bem armado e decorado. Este concurso foi promovido pela FNM, com a colaboração da CIDLA e da Fábrica de Chocolates «A Favorita».
Foi delegado aos Congressos Internacionais de Pastelaria, Confeitaria e Gelados na década de 1960 e em 1965 conseguiu para Portugal o 1º prémio do concurso, em Viena de Áustria. Isso valeu-lhe fazer parte do juri da 1ª Exposição Portuguesa de Pastelaria, que teve lugar em Lisboa em 1966.
Um outro aspecto importante da sua actividade tem a ver com a sua participação no então designado «Sindicato Nacional de Doçarias», onde começou por ser secretário em 1954 tendo passado a Presidente da Direcção do Sindicato de 1963 a 1968.
Aquando da sua reforma encontrava-se já doente. Tinha entretanto fundado uma pequena empresa de comércio alimentar, do tipo mercearia de bairro. Não voltou a ser pasteleiro e faleceu há cerca de 10 anos. Sem descendência o seu espólio perdeu-se e tive alguma dificuldade em seguir-lhe o rasto. Persiste a sua mercearia agora transformada em mini-mercado, que mantém o seu nome, mas que é já pertença de novos sócios que o não conheceram (3).
No céu dos pasteleiros vai ficar feliz por eu o ter recuperado do esquecimento e lhe atribuído um lugar na história da pastelaria portuguesa.
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(1) BPI, 1929, nº 5, p. 189.
(2) Arquivo Notarial do Porto. 8º Cartório Notarial [disponível em linha] http://pesquisa.adporto.pt/details?id=763460
(3) Informações fornecidas por Marcos Pires, um dos actuais sócios.



2 comentários:

Receitas Padaria disse...

Estou sempre a aprender com os seus artigos!
Parabéns :)

Ana Marques Pereira disse...

Carolina Ribeiro,
Obrigada pelo seu comentário.
Este assunto também é da sua área.
Escrevi um outro que vou publicar brevemente que também vai gostar.
Um abraço